quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A FEIURA ATRAPALHA?

 


A FEIURA NÃO É UM PROBLEMA

OBS.: A história é verdadeira, mas os personagens foram criados pelo autor.

Dizem que existem dois tipos de beleza: a interior e a exterior. Uns chegam a afirmar que a mais bela delas é a interior e que a beleza exterior  se consegue com as chamadas cirurgias plásticas. Pode ser verdade ou pode ser apenas uma forma de se justificar que a feiura tem conserto.

Glória Maria era uma prova de que beleza é coisa rara e que não se pode confundir com simpatia ou algo semelhante. Certa vez ao vê-la passar na Praça da Babilônia, comentei com um colega, que se Eva era o símbolo da perfeição, certamente diante daquela glória não passava de uma simples mulher.

Ouvi certo cidadão já em sua meia idade fazer o seguinte comentário ao vê-la passar diante dele:

- Essa aí mata qualquer um do coração! A forma onde ela foi feita jogaram no fundo do mar para não fazerem outra igual!

A mulher que estava ao seu lado deu-lhe um beliscão que o fez soltar um estrondoso grito de AAAAAAAAI!

Glória Maria deixava qualquer um louco. Mas se eu disser a vocês que ela namorava um sujeito desajeitado, daqueles que parecem ter esquecido de tirar a máscara depois do carnaval, vocês vão dizer que eu estou brincando com coisa séria. Mas era a pura verdade. Ela namorava o Germano.

Ludmila, uma das poucas colegas íntimas da Glória, em tom de brincadeira, chegou a perguntar se ela estava girando bem ou estava com febre de 40 graus, no momento em que  oficializou o namoro com o Germano. Meio sem jeito, ela respondeu que por fora, ele não era lá essa beleza toda, mas por dentro era um verdadeiro deus da mitologia grega.

Disse que ele era inteligente, de boa família, era um filho exemplar e querido por todos aqueles que dele se aproximavam. Finalmente, ela o encheu de qualidades que, juntas, por mais esforço que se fizesse, não conseguia superar a feiura que o acompanhava desde o berço.

Mas o mundo está repleto de pessoas que, por mais que você tente entende-las, não tem como conseguir. E Glória, infelizmente, fazia parte dessa elástica estatística.

Certo dia, nas proximidades do Cine São Francisco, na descida para a chamada  Rua da Baixa, encontrei o Germano agarrado com uma coisa que só descobri que era gente quando ouvi um tenebroso gemido acompanhado da advertência:  – cuidado que vem gente aí!

Conversando com alguns colegas a respeito da minha trágica surpresa, eles disseram que eu estava delirando. Para eles, assim como para todos nós, namorar uma preciosidade como a Glória Maria já era mais que suficiente para não olhar outras garotas da região.

Diante daquela cena terrível e covarde, fiquei tão revoltado que não resisti e procurei a Ludmila a quem contei tudo o que havia visto. E contei tim tim por tim tim. Não era justo saber que uma obra prima fosse trocada por uma réplica de monstro e permanecer calado! Ah... estão me chamando de fofoqueiro? E você? Não faria o mesmo?

Um dia, conversando com um sacerdote, falei sobre a beleza da Glória Maria. Ele ficou tão empolgado que, esquecendo a batina que o cobria, replicou:

 - Aquilo não é coisa desse mundo! É uma verdadeira obra Divina!

E deu um longo suspiro. Depois olhou sério para mim e disse:

- Esqueça o que eu disse!

Nós dois acabamos dando uma gostosa gargalhada. Ora, se um padre não resistia ao ouvir falar daquela escultura humana, o que dizer de um pobre pecador como eu que estivera frente a frente com aquela pérola em forma de pessoa?

Um ancião, assíduo frequentador da Praça da Bengala, bem em frente à barbearia do João da Cruz, vendo-a passar por ali, baixou o óculos, deu uma olhadela maliciosa e murmurou olhando para um colega ao lado:

- Olha lá, colega! Com uma daquela ali, a gente nem precisa de estimulante, mesmo que seja da cor do céu!

O outro melancolicamente respondeu:

- Ai, ai, meu amigo! Logo eu, que nem consigo erguer esta maldita bengala!!!

Certa manhã de sábado, quando eu menos esperava, eis que aparece à minha frente, na calçada da Itatiunga, aquela beldade encantadora. Saltei um ôpa ao chocar-me com ela e ela reagiu com seu jeitinho angelical:

- Quase te derrubei, hein!!

Tive vontade de responder:

- Sendo amortecida por este corpo escultural, qualquer queda seria bem vinda!!!

Mas preferi dizer apenas:

- Sem problemas! Ela me chamou para sentar um pouco na Praça da Pelota! Que resposta vocês acham que eu dei?

Educadamente, pedi uma Coca-Cola e dois copos. A conversa durou mais de uma hora, tempo suficiente para que ela me perguntasse o que eu achava do namorado dela.

Lamentou as críticas que lhe eram dirigidas por algumas colegas e por pessoas que se metiam nas vidas alheias. Eu tive que usar de artifícios até encontrar uma maneira de dizer que ela ao lado dele ficava mil vezes mais bela.

Ela se fez de desentendida, mas me lançou um sorriso meio pálido. Então eu corrigi:

- Não se preocupe com os falatórios! É que existem pessoas contaminadas pela inveja! Mas eu seria injusto se lhe dissesse que ele nasceu para você!

Aí mandei a cartada final:

- Você já pensou como serão os filhos de vocês? Ela se tocou, baixou a cabeça e resolveu mudar de assunto.

Dias depois eu fiquei sabendo que o namoro entre ambos havia chegado ao fim. Quando os amigos comentavam o fim do romance de Glória com Germano, eu dava a mesma resposta:

- Sorte dos futuros filhos dela! É triste pagar pelos erros dos outros, principalmente quando o preço é muito alto!

- Por Adalberto Pereira –

Nenhum comentário:

Postar um comentário