A POLÍTICA QUE POUCOS CONHECEM
Por Adalberto Pereira
Eu tinha apenas 12 anos, quando ouvi pela primeira vez, pelo rádio, o discurso de um cidadão chamado Alcides Carneiro. Nós morávamos na Av. Rio Branco, em Campina Grande e o nosso rádio era um SEMP, movido à velas, que meu pai comprara, à prestação, numa loja da Rua Maciel Pinheiro.
Fiquei empolgado. Agora, eu queria ver e ouvir de perto os grandes oradores políticos da época. Foram incontáveis os pedidos para que meu pai me ajudasse a realizar meu sonho. E, por tanto insistir, meu pai me levou para um comício que seria realizado na Praça da Bandeira, em frente ao prédio dos Correios e Telégrafos, e do Colégio das Damas.
Eu estava feliz da vida. Afinal, iria ter o prazer de ouvir grandes oradores “ao vivo e à cores”. Mas a decepção foi maior do que minha expectativa. Mesmo ainda distantes, já ouvíamos os gritos dos apaixonados eleitores. Estávamos a uns 50 metros do local quando, de repente, ouviu-se um intenso tiroteio. Meu pai me arrastou até ao lado de um prédio chamado “Ferro de Engomar”, onde ficamos protegidos.
Aquela cena ficou registrada em minha memória e nela permanece até hoje. Mas isso não foi suficiente para tirar meus encantos pela política. Com 16 anos eu já fazia parte dos seguidores do senhor Severino Bezerra Cabral, candidato a Prefeito de Campina Grande, contra o banqueiro Newton Rique, proprietário do Banco Industrial de Campina Grande.
Com Cabral estavam os advogados Raimundo Asfora e Vital do Rego, os porta-vozes oficiais do candidato, conhecido como “Pé de Chumbo”, pela sua maneira rústica naquele caminhar, próprio de um verdadeiro matuto. Os dois tinham uma eloquência que me fazia cada vez mais apaixonado pela política.
Os anos passaram. Em Patos, na Paraíba, agora já com meus 23 anos, conheci um cidadão chamado Severino Siqueira, político por convicção, que me apresentou ao então Deputado Estadual Edivaldo Fernandes Motta, um político experiente e bastante respeitado na região.
Já amigo do Edivaldo, fui apresentado ao seu irmão, o médico ginecologista Edimilson Fernandes Motta, um cidadão idôneo e dono de um caráter invejável. Através deles, cheguei até ao Prefeito José Cavalcante, de quem tornei-me um admirador, pela sua maneira simples de tratar a todos com igualdade e respeito.
Eleito prefeito de Patos, o Dr. Edimilson Motta foi até a minha casa convidar-me para ser o seu Assessor de Imprensa. Conhecendo o seu caráter e o seu perfil de verdadeiro cidadão, aceitei “in loco” a sua proposta e com ele fiquei durante todo o seu mandato. Da mesma forma, aceitei ao convite do seu sucessor, Dr. Rivaldo Medeiros da Nóbrega. Com este fiquei dois anos.
Na época, eu já exercia minha função como radialista (locutor e redator) na Rádio Espinharas de Patos. Como Assessor de Imprensa servi à Câmara Municipal de Patos nas gestões de Juracy Dantas (4 anos) e Apolônio Gonçalves (2 anos). Exerci a mesma função no III Batalhão de Polícia Militar e no DNOCS (com o Dr. Plínio).
Eu me sentia bem e muito à vontade ao lado de políticos de caráter e de uma honestidade sem precedentes. Era a política respeitada integrada por homens de sentimentos humanitários, cujos trabalhos proporcionaram o crescimento acelerado da nossa conhecida “Morada do Sol”.
Educação, segurança, esporte e laser, organização social e cultural, eram os pontos estratégicos para uma administração confiável. Fazia-se política com responsabilidade e dedicação. Ainda não existia a figura dos mercenários. Estes eram rejeitados pela sociedade sedenta de desenvolvimento social, cultural e político.
Convivendo com as mais variadas ideologias político-partidárias, eu soube suportar e respeitar todas elas, sem me afastar das minhas convicções. Assim, consegui conquistar o respeito e a admiração de todos os políticos, por mais antipáticos que fossem.
Saber conviver com as diferenças deve ser uma das maiores virtudes de quem pretende seguir a vida pública. Sempre tendo o cuidado de não invadir espaços que não lhe cabem. Comprar brigas com gente grande é uma das maiores provas de insensatez. Existem os pequenos que se acham grandes simplesmente por estarem no meio deles.
Todo cidadão gosta de ser respeitado, embora nem todos mereçam respeito. Estimular contendas nunca foi prova de coragem e de determinação. O político inteligente sabe que os que hoje se agridem mutuamente, amanhã estarão participando do mesmo banquete, trocando abraços e elogios.
A política que vivenciamos no presente século não condiz com a verdadeira integridade dos seus protagonistas. A heterogeneidade sempre estará presente nos grupos que integram os desajustados e excessivos partidos políticos, criados para imortalizar os que se acham no mais alto escalão de sua história.
Certa vez um amigo me procurou para saber a minha opinião sobre sua possível candidatura a vereador. Já que ele me procurou para opinar, resolvi ser bem objetivo em minha resposta:
- Não entre nessa! Você ainda não tem maturidade suficiente para entender a política e muito menos os políticos. Foi o que lhe respondi sem pensar duas vezes. Ele não gostou da resposta.
Eu acompanhei uma geração de pessoas que não vendiam o seu caráter por um sorriso ou um aperto de mão. Eram eleitores fiéis e confiáveis. Respeitavam seus candidatos e seus partidos. Estes, por sua vez, eram menos corruptos e um pouquinho mais honestos.
O ser humano não tem mais convicção no que pensa e no que quer. Um amigo, que se mostrava revoltado com o sistema e que, em nossas conversas até chegava a apresentar “caminhos” para mudar a situação do nosso país, surpreendeu-me ao defender o mesmo sistema por ele tantas vezes criticado.
Confiar no eleitorado moderno é um risco bastante perigoso. Hoje, o sujeito está revoltado com o atual sistema político mas, amanhã, deixa-nos boquiabertos ao defendê-lo com tanta veemência. Não dá para entender o comportamento de certas pessoas. O certo é que ninguém muda de caráter, sem um motivo óbvio.
Vivi e convivi com a política e seus protagonistas desde os meus 16 anos, ainda em Campina Grande, influenciado pela eloquência do saudoso e ainda bem lembrado Alcides Carneiro e pela veia poética de Ronaldo Cunha Lima. Com meus quase 70 ainda arrisquei acompanhar um amigo em sua candidatura à Câmara Legislativa de Brasília. Não foi tão boa a experiência. Então “pendurei minha bandeira”.
Acompanhei e ainda acompanho à distância a coragem de alguns amigos que, ludibriados pelo sonho fantasioso de conquistar um cargo eletivo, abraçaram com “unhas e dentes” uma campanha em busca de uma impossível vitória. Em silêncio, eu me apiedava deles. Não passavam de ingênuos postulantes.
Imaturos e psicologicamente despreparados, “meteram a cara” e, sem medirem as consequências, chegaram ao ridículo de, confiados não sei em quem, partirem para agressões pessoais. Em política, os grandes lutam entre si, enquanto os pequenos devem assisti-los em silêncio. Na política não existe a figura do pequeno herói. O pequeno sempre será pequeno.
Os grandes brigam entre si. Se os pequenos tentarem interferir, só eles saem machucados. No final de tudo, os grandes aproveitam as caladas das noites para, juntos, saborearem as melhores bebidas. Os pequenos, ao contrário, só servem para recolher o que sobrou da briga.
A ingenuidade de muitos não permite que eles se conscientizem de que, os que hoje se agridem, amanhã estarão juntos, no mesmo palanque, trocando grandes e fingidos abraços e elogios. Os pequenos, longe da realidade, como recompensa, são colocados no rol dos insignificantes. Esta premissa é verdadeira e incontestável.
Alguém até poderia perguntar se eu nunca postulei uma candidatura e se não o fiz, qual o motivo. A resposta é NÃO. A minha convivência com os políticos e com a política foi suficiente para reconhecer que minha integridade moral precisava ser preservada. Eu precisava assegurar o respeito dos meus filhos e continuar sendo um exemplo para a família.
A política, por mais que você se esforce, sempre estará vinculando sua pessoa à necessidade dos jogos sujos e dos conchavos que denigrem o seu espírito de cidadão honesto e irrepreensível. É aquilo que eles chamam de “é dando que se recebe”, ou “toma lá, dá cá”. Uma prática que não se coaduna com o meu caráter. Para a grande maioria dos políticos, o respeito ao eleitor é “carta fora do baralho”.
Quando alguém me apresentava alguma proposta nesse sentido,, sempre vinha à minha mente a seguinte hipótese: sendo eu um profissional respeitado e íntegro, como me sentiria com uma votação abaixo dos 300 votos? Como iria encarar meus filhos? Como suportar as noites de insônias provocadas pela frustração? Como justificar a minha possível derrota? O somatório de tudo isso resultou na minha falta de interesse em fazer da política um vício incurável.
Você ser traído pelos seus melhores amigos, pode até levá-lo à condição de eterno conformado. Agora, ser traído pela própria família é uma tragédia psicológica, que pode levar você ao desespero e a uma frustração sem precedentes. A política é terrível. É um sonho com dois extremos bem distintos: promove a glória de uns e a desgraça de outros.
Os inteligentes fogem dela na primeira frustração. Os ingênuos, eternos sonhadores, ao contrário, tornam-se masoquistas inveterados, chegando a se acostumar com as marcas das derrotas. São as vítimas da anomalia intelectual.
Encerro com algumas palavras de quem, por diversas vezes, tropeçou em sua própria ignorância, mas que teve forças e dignidade para superar esses tropeços:
1 – Não queira ser igual ao seu vizinho comprando um carro igual ao dele, quando você só tem condições de comprar uma bicicleta. Isso se chama sensatez.
2 – Não maltrate aquele que um dia supriu suas necessidades, sem receber nada em troca. Isso se chama gratidão.
3 – Não jogue na cara de alguém algo que você fez em algum momento de necessidade. Isso é humildade.
4 – O dia de amanhã nos reserva muitas surpresas. Você pode precisar daqueles a quem você tanto maltratou. Isso é prudência.
Tenho dito!
-o-o-o-o-o-o-o-o-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário