PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
44 – Permitam-me fazer mais um registro da minha passagem pelos gramados
dos Estados da Paraíba (Patos) e Pernambuco (Petrolina e Araripina), atuando
como árbitro central ou bandeirinha. Este fato não poderia deixar de ser
contado, por ser para mim, mais um registro interessante.
Em 1979, fui convidado pela Direção da Emissora Rural A Voz do São
Francisco para integrar o seu quadro de jornalismo. Sabendo da minha intimidade
com o futebol, Teones Batista, diretor do Departamento Esportivo me chamou para
fazer parte daquele departamento. Eu aceitei “In loco”.
Sabendo que eu era árbitro de futebol, ele me apresentou a Vinicius
Santana, Presidente da Liga Petrolinense de Futebol, para integrar o quadro
daquela entidade. Ali, participei de vários jogos e alguns clássicos, como
Caiano e América; América e Palmeiras, entre outros realizados no Estádio da Associação Rural.
Mas o jogo que marcou minha passagem por Petrolina, foi a decisão entre
Carranca X Veneza, pelo campeonato de Juazeiro da Bahia, tendo como palco o
Estádio Adauto Moraes. A rivalidade entre ambos levava a partida para o mais
alto escalão das grandes emoções.
Mas estava havendo um sério problema: as duas diretorias não chegavam a
um acordo quanto ao trio de árbitros para a grande decisão. Reunidos na sede da
Liga Juazeirense de Futebol, eles apresentavam os seus preferidos, todos da
Federação Baiana de Futebol, mas sempre rechaçados, ora pelo Carranca, ora pelo
Veneza.
O radialista Herbert Mouzer, da Rádio Juazeiro, que acompanhava as
discussões, sugeriu o meu nome, por ser eu um árbitro da Paraíba e não ter
nenhum vínculo com os dois clubes. Meu nome foi a solução do problema. Além
disso, trazer um trio de Salvador era muito mais dispendioso. Eles nem se
preocuparam mais com os auxiliares. Cada um apresentou um nome, que foi
imediatamente aceito.
Dia da decisão! Estádio lotado! Nas vestiárias, um dos auxiliares chamou
a minha atenção para um jogador do Veneza chamado Mosquito, dizendo o colega
que ele era acostumado a agredir os árbitros. Deu até o número da camisa do
valentão; nº 3. Eu apenas ri e continuei nos meus preparativos. Eu tinha motivo
para estar tranquilo. Na minha mochila, o meu taurus 38 “dormia”
tranquilamente.
No centro do campo, um batalhão de repórteres, curiosos para ouvir a
Tradicional preleção do árbitro (era muito normal naquela época). Eu apenas
disse: Eu sou o árbitro; vocês, os atletas; cada um cuido do seu trabalho e boa
sorte! Foi uma frustração para os repórteres, que esperavam uma aula de boas
maneiras.
E lá vem o Mosquito entrar em ação! Uma falta violenta no atacante do
Carranca e um cartão amarelo para controlar as emoções. Olhei nos olhos dele e
senti que ficara com o jeito de quem não gostou. Não dei a mínima. Quem nunca
teve medo de cobra jararaca, não ia amarelar diante de um mosquito.
O jogo transcorria normalmente com o empate em 1 X 1. Novamente o
Mosquito entra em ação! Outra falta violenta! Agora era avermelhar e espera a
reação do valente. Ele não quis sair! Chamei-o à parte e disse baixinho: -
Estás vendo aquela torcida? Você tem duas opções: sair numa boa ou aos
empurrões e ser desmoralizado diante de todos! Porque comigo você sai de
qualquer jeito! A escolha é sua!
De imediato, os colegas do jogador chegaram e o puxaram pelos braços,
mandando que ele obedecesse. Eles sabiam que comigo o sujeito saia mesmo. O
Mosquito olhou para mim e gritou: lá fora eu te pego! E eu pensei comigo mesmo:
então te prepara para pegar o meu taurus também!
Final do jogo: Veneza 2 x 1 Carranca. Um oficial da Polícia Militar,
responsável pelo policiamento do jogo perguntou se eu queria proteção policial
e eu respondi que não seria necessário, pois estava tudo normal. Nunca deixei
de ir a Juazeiro curtir um domingo no Vaporzinho com os colegas e o Mosquito
nunca apareceu,
- Por Adalberto Pereira -
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