sexta-feira, 5 de junho de 2020

ACONTECEU DE VERDADE - 25


PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.

45 – Se vida de jornalista não é fácil, a de árbitro de futebol parece ser bem pior. Em campo, você ouve o que não deseja ouvir e ainda coloca em risco a integridade moral da família. Não conto as vezes em que, ao entrar em campo fomos recebido com um coro bastante desagradável em que a palavra LADRÃO era o principal refrão.

Era preciso ter sangue frio para suportar calado tantas agressões verbais por parte de torcedores malcriados. O segredo era colocar como prioridade a convicção de que o árbitro devia estar consciente de que estava em suas mãos o desenrolar da partida. Ele é a “estrela” acima das “estrelas” criadas pela imprensa e pelo publico.

Lembro de um fato que chamou a atenção da imprensa brasileira. O árbitro Armando Marques apresentou um cartão para Pelé e isso não agradou aos profissionais do rádio e da televisão, que chegaram a dizer que o árbitro quis aparecer punindo o “rei” do futebol com um cartão.  Infelizmente, muitos ainda não sabem que nos cartões (amarelo e vermelho) não diz quem deve e quem não deve recebê-los.

Na verdade, muitos profissionais da imprensa querem, além de narradores ou comentaristas, ser árbitros, quando a grande maioria nem sabe quantas são as regras que regem o futebol. Narradores e comentaristas devem ser conhecedores das 17 regras e isso não é algo facultativo, mas uma obrigação para quem quer exercer bem a valorosa missão que lhes foi confiada.

Eu estava trabalhando em um jogo do Botafogo de São Sebastião, partida válida pelo Campeonato Amador. O time era composto, em sua grande maioria, por policiais militares, incluindo soldados, sargentos e um tenente. No final da partida, fui chamado às pressas por um jogador do time adversário (não lembro o nome). Ele pediu minha ajuda, pois a polícia estava prendendo um jogador por ter usado de violência contra o tenente.

Certamente o sargento que comandava a Patrulha não sabia que dentro de campo a autoridade maior é o árbitro e que os demais jogadores são iguais nos seus direitos. E isso independe de ser um mendigo ou o presidente da República. Logo, o que aconteceu em campo entre os dois atletas era responsabilidade do árbitro e não da polícia.

O Delegado da Polícia Civil era José Frazão, que fazia parte do quadro de árbitros da Federação Paraibana de Futebol. Eu fui até o local e pedi ao comandante da PM que aguardasse enquanto eu mandava chamar o delegado. Fiz ver aquele policial que fatos do jogo não deveriam ser motivo de represálias policiais.

Imediatamente o então colega José Frazão repreendeu os policiais ordenando que o jogador fosse liberado. O tenente não gostou da minha intervenção, chegando a dizer que eu queria ser “o dono do mundo”. Eu apenas respondi que estava evitando que ele respondesse pelo ato impensado por ele praticado contra o jovem atleta e por ter infringido o Regimento Interno da PM.

- Por Adalberto Pereira -

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