PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
45 – Se vida de jornalista não é fácil, a de árbitro de futebol parece
ser bem pior. Em campo, você ouve o que não deseja ouvir e ainda coloca em
risco a integridade moral da família. Não conto as vezes em que, ao entrar em
campo fomos recebido com um coro bastante desagradável em que a palavra LADRÃO
era o principal refrão.
Era preciso ter sangue frio para suportar calado tantas agressões
verbais por parte de torcedores malcriados. O segredo era colocar como
prioridade a convicção de que o árbitro devia estar consciente de que estava em
suas mãos o desenrolar da partida. Ele é a “estrela” acima das “estrelas”
criadas pela imprensa e pelo publico.
Lembro de um fato que chamou a atenção da imprensa brasileira. O árbitro
Armando Marques apresentou um cartão para Pelé e isso não agradou aos profissionais
do rádio e da televisão, que chegaram a dizer que o árbitro quis aparecer
punindo o “rei” do futebol com um cartão. Infelizmente, muitos ainda não sabem que nos
cartões (amarelo e vermelho) não diz quem deve e quem não deve recebê-los.
Na verdade, muitos profissionais da imprensa querem, além de narradores
ou comentaristas, ser árbitros, quando a grande maioria nem sabe quantas são as
regras que regem o futebol. Narradores e comentaristas devem ser conhecedores
das 17 regras e isso não é algo facultativo, mas uma obrigação para quem quer
exercer bem a valorosa missão que lhes foi confiada.
Eu estava trabalhando em um jogo do Botafogo de São Sebastião, partida
válida pelo Campeonato Amador. O time era composto, em sua grande maioria, por
policiais militares, incluindo soldados, sargentos e um tenente. No final da
partida, fui chamado às pressas por um jogador do time adversário (não lembro o
nome). Ele pediu minha ajuda, pois a polícia estava prendendo um jogador por
ter usado de violência contra o tenente.
Certamente o sargento que comandava a Patrulha não sabia que dentro de
campo a autoridade maior é o árbitro e que os demais jogadores são iguais nos
seus direitos. E isso independe de ser um mendigo ou o presidente da República.
Logo, o que aconteceu em campo entre os dois atletas era responsabilidade do
árbitro e não da polícia.
O Delegado da Polícia Civil era José Frazão, que fazia parte do quadro
de árbitros da Federação Paraibana de Futebol. Eu fui até o local e pedi ao
comandante da PM que aguardasse enquanto eu mandava chamar o delegado. Fiz ver
aquele policial que fatos do jogo não deveriam ser motivo de represálias
policiais.
Imediatamente o então colega José Frazão repreendeu os policiais ordenando
que o jogador fosse liberado. O tenente não gostou da minha intervenção,
chegando a dizer que eu queria ser “o dono do mundo”. Eu apenas respondi que
estava evitando que ele respondesse pelo ato impensado por ele praticado contra
o jovem atleta e por ter infringido o Regimento Interno da PM.
- Por Adalberto Pereira -
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