O GOLPE DO RAIMUNDO
Ambrósio, um cinquentão bem conservado, era dono do principal armazém
daquela pequena e pacata cidade. Casado com Izaura, uma jovem de 30 anos que
mais parecia ter 20, pela sua vaidade conservadorista. Eles não tinham filhos,
por opção de ambos.
Raimundo era um jovem de 35 anos, metido a conquistador e vizinho do
casal, de quem se tornou grande amigo.
Fazia questão de dizer aos amigos mais próximos que mulher nenhuma
conseguira resistir à sua beleza física. Não se pode negar que ele era dono
realmente de um corpo atlético.
Sempre que ele se encontrava com a Izaura, mandava um sorriso meio
malandro e um tímido piscar de olho.
Os dias foram passando até que Raimundo e Izaura se encontraram. Foi um
encontro casual, mas que culminou com uma conversa rápida, porém bastante proveitosa para o conquistador, segundo ele
mesmo declarou.
Sabendo que Ambrósio era um verdadeiro “mão de figa”, e não fazia nada
para agradar a mulher, Raimundo partiu para o ataque: ofereceu 100 reais para
ter um momento de prazer nos braços da linda e vaidosa Izaura. Esta deu de
ombros e saiu de mansinho, faceira como sempre.
Mas Raimundo não se deu por vencido. Veio a segunda oportunidade e ele
aumentou a oferta. Agora, o valor seria 200 reais. Izaura, mais uma vez olhou
com desprezo para o aventureiro, deu de ombros e desapareceu na esquina.
As tentativas se sucederam, e Izaura já não se mostrava tão resistente
como antes. É aí que vale aquele pensamento de que “água mole em pedra dura,
tanto bate até que fura”. A oferta de Raimundo chegou aos 500 reais. Era uma
oferta tentadora.
Num monólogo interior, Izaura passou a pensar no que nunca antes havia
pensado: Ambrósio nunca teve a coragem de lhe dar ao menos uma nota de 50
reais. Logo, não custava nada tentar. Afinal era só uma “vezinha”! Então ela resolveu
ceder aos “ataques” do insistente conquistador. A única exigência feita por ela
foi que tudo deveria ficar somente entre
eles dois.
Raimundo vencera pela persistência. Mas ele estava diante de um sério
problema: onde buscar os 500 reais? Foi aí que teve a brilhante idéia de
recorrer ao amigo Ambrósio. Mas logo ao marido da sua “amada”? Bem, pensou ele, assim as coisas ficam bem mais comoventes! E lá vai ele colocar em prática o
seu audacioso plano.
- Meu amigo Ambrósio! Bom dia! Estou precisando urgentemente de um
favorzinho seu! Quero que você me empreste, até amanhã, 500 reais. É uma
questão de vida ou morte, amigo!
Diante da situação do “amigo”, mas sem a mínima empolgação, Ambrósio abriu
o cofre, pegou os 500 reais e entregou ao Raimundo, fazendo uma séria
observação: - Cuidado, hein! De amanhã não passa!.
Confirmando com um movimento de cabeça, e com vontade de gritar para que
o mundo inteiro soubesse da sua felicidade, Raimundo saiu dali aos pulos, sem
acreditar que teria nos braços a mulher mais cobiçada da região.
Foi uma noite agradável e inesquecível. Em alguns momentos ele sentia até
vontade de abrir a janela do quarto e de extravasar a sua alegria de sentir em
seus braços aquela obra-prima, gritando: EU CONSEGUI! EU CONSEGUI!!! Mas
conseguia vencer as emoções.
Ao amanhecer o dia, entregou à sua amada o valor combinado. Izaura
guardou o dinheiro feliz da vida e saiu sem deixar de fazer um sério lembrete:
CUIDADO, HEIN! NINGUÉM, MAS NINGUÉM MESMO DEVE SABER DO QUE ACONTECEU AQUI!
Aos poucos, mas sem tirar aquela preciosidade da cabeça, Raimundo adormeceu,
só acordando ao meio-dia. À tarde, esbanjando felicidade, Raimundo chegava ao
armazém do Ambrósio e apertando a mão do comerciante, com a maior cara de pau,
disse:
- Boa tarde, amigo Ambrósio! Eu ia saindo de casa, esta manhã e
encontrei a Izaura, alí na esquina, então entreguei para ela os 500 reais que
você me emprestou! Depois, você pode pegar com ela, está bem?
Ambrósio confirmou e os dois passaram uma tarde bastante descontraída. Ambos
demonstravam estar bastante felizes. O comerciante por saber que emprestara seu
dinheiro a um cabra de palavra. Quanto ao Raimundo, malandro safado... nem
precisa comentar o motivo da alegria!
Ao chegar em casa para o jantar, Ambrósio chamou a esposa e:
- Querida, querida! Cadê os 500 reais que o Raimundo te deu para me
entregar?
Sem fazer qualquer comentário e descobrindo que fora vítima de um golpe
muito sujo, Izaura tirou da bolsinha os 500 reais e entregou ao marido.
Nunca mais ela quis conversa com o safado do Raimundo que, sem
desembolsar um centavo, realizou o maior sonho de sua vida.
- Por Adalberto Pereira –
-o-o-o-o-o-o-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário