ROUXINOL – O PROFETA
Hoje, eu quero falar sobre
um personagem que virou alvo dos folcloristas patoenses. Trata-se de ROUXINOL,
um marceneiro estabelecido na Rua Felizardo Leite, bem em frente ao antigo Bar
do Chicó. Este bar era conhecido pela sua cachaça que causava “milagres” em
seus clientes, afinando o pescoço e os braços, crescendo a barriga e
desenvolvendo a cirrose.
Aliás, a Felizardo Leite, ali nas imediações da Praça da Pelota até as proximidades do foto do Alarcon, era
repleta de bares. O do Chicó data dos idos anos 60.
Depois dele vieram o Bar
Fluminense (da nossa amiga Lila), o Bar do Inácio e o Bar do João. Muitas
opções para os assíduos fregueses radialistas. Tinha também a Lanchonete do Luiz Carlos e o Bar do Peixe.
Pois bem! Vamos ao que nos
interessa e o que nos interessa é a história do Rouxinol. Não sei como tudo
começou, mas o certo é que certa vez, em conversa com algumas pessoas, Rouxinol
olhou para o céu e disse: Êita gente! Este ano o inverno vai ser muito bom e
quem tiver semente que plante, pois a safra vai ser boa.
Tiro e queda! O ano foi
muito bom de inverno. Isso fez\ alguém lembrar as palavras do marceneiro.
Surpreso, ele passou a receber a visita de muitas pessoas; não para contratar
seus serviços que, diga-se de passagem, eram bem feitos, e também pela
qualidade do material por ele usado.
No ano seguinte, muitos
agricultores da região e até de cidades vizinhas, como Quixaba, São José do Bonfim,
Santa Terezinha e outras, procuraram o “profeta marceneiro” para saber como
seria o inverno. Rouxinol saiu à calçada, olhou demoradamente para o céu e
disse: Podem plantar que o inverno vai ser bom. Dito e feito!
Veio mais um ano e lá estavam
os “clientes” do Rouxinol. Não para contratar o fabrico de mesas, camas e
cadeiras. Mas para saber se poderiam plantar ou não. E lá vai Rouxinol olhar
para o céu. Agora foi diferente. Ela olhou para os “clientes” curiosos e
ansiosos e deu a notícia: Não plantem que o inverno vai ser fraco. Se plantar
vão ter prejuízo. Tiro e queda.
A fama do Rouxinol se
estendeu até Pombal, Sousa, Santa Luzia, Teixeira e até em outros Estados. Certa
vez, em conversa com o cara, de quem eu era amigo, ele chegou a me confidenciar
o seu desejo de deixar a vida pesada e cansativa de marceneiro. Suas
“profecias” seriam bem mais lucrativas, além de mais cômodas.
A marcenaria do homem virou
um ponto sagrado, só perdendo para as romarias de Juazeiro do Norte. Uma
multidão se formou nas imediações da marcenaria (ou santuário) do “profeta
marceneiro”. Eram tantos os presentes recebidos que ele nem sabia mais onde
guarda-los.
Os agricultores passaram a
acreditar mais no marceneiro do que em Deus. Aliás, quem iria lembrar que Deus
existia, se tinha o Rouxinol para resolver seus problemas?
Mas todo leão tem o “seu dia
de tapete”. Não lembro bem o ano. Rouxinol chegou à marcenaria e quase não
conseguiu entrar, devido a multidão que o esperava para saber como seria o ano.
Rouxinol foi até o meio da rua. Os olhares eram os mais esperançosos. O
silêncio era total. Minutos depois, Rouxinol profetizou: Não plantem. O ano vai
ser de seca e não vai ter água nem para plantar um pé de coentro!
Todos, um a um, saíram
desolados. Todos esperavam uma informação animadora. Nada mais a fazer a não
ser voltar para casa. As sementes compradas para a safra daquele ano, foram
colocadas nas despensas e guardadas para o próximo ano, caso Rouxinol apresentasse
uma boa previsão.
Mas agora, tudo deu errado
para o lado do Rouxinol. Deus mudou todos os planos.
Foi tanta água em Patos que
muita gente andou de barcos e canoas em
algumas ruas da cidade, principalmente na rua Da Baixa. Pontes foram destruídas
e pessoas saíram de suas casas carregando móveis na cabeça. O inverno foi um
dos mais promissores e o que o “profeta marceneiro” ouviu dos agricultores não
dá para citar aqui.
Só sei dizer que Rouxinol,
depois de alguns dias sem abrir a marcenaria, voltou às suas atividades
normais. Já não havia mais a afluência de agricultores que, frustrados com o
prejuízo do ano, nunca mais acreditaram nas previsões de quem se beneficiou com
a sorte que o abandonou para sempre.
- Por Adalberto Pereira –
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