segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

AS PREVISÕES DE ROUXINOL

 


                                                   ROUXINOL – O PROFETA

Hoje, eu quero falar sobre um personagem que virou alvo dos folcloristas patoenses. Trata-se de ROUXINOL, um marceneiro estabelecido na Rua Felizardo Leite, bem em frente ao antigo Bar do Chicó. Este bar era conhecido pela sua cachaça que causava “milagres” em seus clientes, afinando o pescoço e os braços, crescendo a barriga e desenvolvendo a cirrose.

Aliás, a Felizardo Leite, ali nas imediações da Praça da Pelota até as proximidades do foto do Alarcon, era repleta de bares. O do Chicó data dos idos anos 60.

Depois dele vieram o Bar Fluminense (da nossa amiga Lila), o Bar do Inácio e o Bar do João. Muitas opções para os assíduos fregueses radialistas. Tinha também a Lanchonete do Luiz Carlos e o Bar do Peixe.

Pois bem! Vamos ao que nos interessa e o que nos interessa é a história do Rouxinol. Não sei como tudo começou, mas o certo é que certa vez, em conversa com algumas pessoas, Rouxinol olhou para o céu e disse: Êita gente! Este ano o inverno vai ser muito bom e quem tiver semente que plante, pois a safra vai ser boa.

Tiro e queda! O ano foi muito bom de inverno. Isso fez\ alguém lembrar as palavras do marceneiro. Surpreso, ele passou a receber a visita de muitas pessoas; não para contratar seus serviços que, diga-se de passagem, eram bem feitos, e também pela qualidade do material por ele usado.

No ano seguinte, muitos agricultores da região e até de cidades vizinhas, como Quixaba, São José do Bonfim, Santa Terezinha e outras, procuraram o “profeta marceneiro” para saber como seria o inverno. Rouxinol saiu à calçada, olhou demoradamente para o céu e disse: Podem plantar que o inverno vai ser bom. Dito e feito!

Veio mais um ano e lá estavam os “clientes” do Rouxinol. Não para contratar o fabrico de mesas, camas e cadeiras. Mas para saber se poderiam plantar ou não. E lá vai Rouxinol olhar para o céu. Agora foi diferente. Ela olhou para os “clientes” curiosos e ansiosos e deu a notícia: Não plantem que o inverno vai ser fraco. Se plantar vão ter prejuízo. Tiro e queda.

A fama do Rouxinol se estendeu até Pombal, Sousa, Santa Luzia, Teixeira e até em outros Estados. Certa vez, em conversa com o cara, de quem eu era amigo, ele chegou a me confidenciar o seu desejo de deixar a vida pesada e cansativa de marceneiro. Suas “profecias” seriam bem mais lucrativas, além de mais cômodas.

A marcenaria do homem virou um ponto sagrado, só perdendo para as romarias de Juazeiro do Norte. Uma multidão se formou nas imediações da marcenaria (ou santuário) do “profeta marceneiro”. Eram tantos os presentes recebidos que ele nem sabia mais onde guarda-los.

Os agricultores passaram a acreditar mais no marceneiro do que em Deus. Aliás, quem iria lembrar que Deus existia, se tinha o Rouxinol para resolver seus problemas?

Mas todo leão tem o “seu dia de tapete”. Não lembro bem o ano. Rouxinol chegou à marcenaria e quase não conseguiu entrar, devido a multidão que o esperava para saber como seria o ano. Rouxinol foi até o meio da rua. Os olhares eram os mais esperançosos. O silêncio era total. Minutos depois, Rouxinol profetizou: Não plantem. O ano vai ser de seca e não vai ter água nem para plantar um pé de coentro!

Todos, um a um, saíram desolados. Todos esperavam uma informação animadora. Nada mais a fazer a não ser voltar para casa. As sementes compradas para a safra daquele ano, foram colocadas nas despensas e guardadas para o próximo ano, caso Rouxinol apresentasse uma boa previsão.

Mas agora, tudo deu errado para o lado do Rouxinol. Deus mudou todos os planos.

Foi tanta água em Patos que muita gente andou de barcos  e canoas em algumas ruas da cidade, principalmente na rua Da Baixa. Pontes foram destruídas e pessoas saíram de suas casas carregando móveis na cabeça. O inverno foi um dos mais promissores e o que o “profeta marceneiro” ouviu dos agricultores não dá para citar aqui.

Só sei dizer que Rouxinol, depois de alguns dias sem abrir a marcenaria, voltou às suas atividades normais. Já não havia mais a afluência de agricultores que, frustrados com o prejuízo do ano, nunca mais acreditaram nas previsões de quem se beneficiou com a sorte que o abandonou para sempre.

- Por Adalberto Pereira –



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