segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

UMA IMPRENSA DESNUTRIDA

 

  


                                        MASOQUISMO INTELECTUAL

Contam os historiadores que o nobre escritor e jornalista ucraniano Leopold Ritter von Sacher-Masoch, ganhou renome com histórias românticas de sua vida na Galícia. Informam ainda que essas histórias sempre têm como alvo o prazer através da dor, do sofrimento físico e psicológico.

Em uma dessas histórias, ele narra momentos em que viveu com sua mulher Aurora von Rümelin. Ele relata um ato em que sente prazer em ser vítima de torturas físicas e mentais. Senão, vejamos:

- Açoite-me! – roguei-lhe. – Açoite-me, sem piedade! (…) Cada golpe feria-me o corpo, que continuava a arder, mas essas dores deliciavam-me, pois vinham da mulher que adorava e por quem estava pronto, a cada minuto, a oferecer a minha vida.

Meditando um pouco sobre os momentos vividos por Sacher-Masoch, veio-me a idéia de escrever algo que viesse associar este ilustre personagem a pessoas que se identificam com o mesmo, não somente pelo prazer no sofrimento físico, mas, sobretudo no intelectual.

Na verdade, quando alguém defende a prática da desonestidade e da pobreza moral, mesmo sabendo que sua atitude pode causar resultados negativos, certamente está trazendo para dentro de si momentos horripilantes.  Mas se esse alguém tem um pequeno percentual de caráter, este prazer é apenas superficial, levando-o à tortura interior.

Convivi com pessoas que sentia prazer em tecer elogios a quem não tinha o mínimo mérito para recebê-los. Ao serem questionadas a respeito daquela subserviência, as respostas eram sempre as mesmas: - esta é a minha sobrevivência! Meio constrangidas, concluíam: - isso não me deixa em paz, mas é assim que as coisas funcionam.

Atualmente, e isso não é coisa nova, o mundo está cheio de masoquistas intelectuais. São aqueles que, mesmo ostentando diplomas e certificados, mesmo com conhecimentos universitários e vistos como verdadeiros conhecedores da verdade, tornam-se autênticos bajuladores.

E o que dizer dos bajulados? Bem! Agora estamos diante de um verdadeiro paradoxo. De um lado, aqueles que se sentem felizes sendo assim tratado; do outro, os que detestam ser bajulados, mas toleram os bajuladores.

Tolerantes ou não, as vítimas dos masoquistas intelectuais, incomodam-se com suas investidas em busca de sustentáculo profissional. Os tolerantes sabem perfeitamente que as mesmas “honrarias” mentirosas poderão mudar de endereço num estalar de dedos.

Fui entrevistar um deputado e ao encerrar o meu trabalho, ele olhou seriamente para mim e disse ter admirado o meu comportamento como repórter. Foi aí que ele disse não tolerar ser entrevistado por determinado jornalista que, ao iniciar a entrevista,  cobria-o de elogios para ganhar-lhe a confiança.

A grande verdade é que o mundo jornalístico é o maior reduto de masoquistas intelectuais. São pseudos-jornalistas que se martirizam moralmente e o fazem com o maior prazer. Outros preferem dizer: - com a maior cara de pau. Nem sempre eles ganham para agirem assim, mas o fazem com prazer.

Torturar a memória não é nada agradável à saúde moral. Fica mais difícil conciliar o sono depois de um dia de tortura mental. O masoquista intelectual, ao colocar a cabeça no travesseiro, sente que o seu ego chora amargamente pelo seu comportamento mesquinho, pela falta de levar a verdade a quem o sustenta como “profissional”.

Em visita a um Distrito da cidade de Araripina, fui abordado por um cidadão que, mesmo na sua ignorância cultural, olhou curiosamente para mim e perguntou se eu não tinha medo de fazer certas perguntas aos meus entrevistados. Achei aquilo interessante e resolvi ser ainda mais contundente nas minhas reportagens.

Confesso que alguns políticos não toleravam ser por mim entrevistados. Prova disso está no fato de um deles, e isso aconteceu em Patos, pedir ao nosso Diretor Pe. Assis, que não me mandasse para entrevistá-lo. Justificou dizendo que minhas perguntas eram muito “pesadas”. Pe. Assis me contou com um leve, mas confortável sorriso nos lábios e saiu balançando a cabeça.

Irritam-me as entrevistas que muitos repórteres da televisão brasileira fazem. Eles se acovardam e não insistem nas perguntas. São medrosos e denigrem a imagem do verdadeiro profissional da comunicação. Se eles ainda alimentam um pouquinho de responsabilidade, certamente reconhecerão que são falhos na missão de divulgar os fatos como eles acontecem.

Apesar dos pesares, sinto-me feliz por ter vivido dois grandes momentos nos meus quase trinta anos de profissão: O PRIMEIRO, por ter participado de uma imprensa livre, sem restrições e sem censuras internas ou externas. O SEGUNDO, por ter “jogado a toalha” no momento em que os “donos” de revistas, jornais, rádio e TVs, levados pela incapacidade administrativa, tiraram dos jornalistas a sua capacidade profissional.

Sinceramente, eu não me adaptaria a esse sistema mesquinho, que leva os profissionais da imprensa ao jogo absurdo das conveniências de quem dá mais ou paga melhor. Não me sentiria bem enganando a mim mesmo, não passando de marionete nas mãos dos coniventes com as farsas que dominam os mais diversos veículos de comunicação.

Não quero dizer que nos áureos tempos da imprensa corajosa e honrada, não existiram alguns que cometeram seus deslizes. Mas os resultados desses sempre foram trágicos: rádios foram à falência, jornalecos saíram de circulação, televisões mergulharam no mundo do ostracismo e revistas não chegaram à quinta edição.

Esquentar os bancos de uma faculdade, fazer ostentação de diplomas e pendurá-los na parede em local visível, nada disso faz do sujeito um jornalista competente. Esse sacrifício só vale a pena quando o exercício da profissão é respaldado pela coerência da informação e pela imparcialidade do informante.

Ser vítima do masoquismo intelectual só não faz mal aos insensíveis. Estes pouco ou nada se importam com a revolta de quem preza pela informação verdadeira. Muitos chegam até a dizer: - Para mim, o que importa é o salário estar garantido; o resto que se dane!

Mesmo tendo Leopold von Sacher-Masoch falecido em 9 de março de 1895, com 59 anos e há 126 anos atrás, seus seguidores continuam vivos entre nós e em plenas atividades, maltratando a mente sólida de uma geração de pseudos intelectuais da paupérrima cultura jornalística.

E ASSIM CAMINHA A NOSSA FALIDA E DESACREDITADA IMPRENSA.

- Por Adalberto Pereira –

                                       

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