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segunda-feira, 15 de agosto de 2022
domingo, 14 de agosto de 2022
CONTANDO HISTÓRIAS - 01
O PASSADO NÃO MORREU - Parte 1
Dia 22 de novembro do ano de 1941, um sábado, onze e meia da noite. Em uma das casas da Rua Azul, num lugarejo chamado Timbó, nascia um menino chamado Adalberto, nome que se completou com Claudino Pereira. A alegria do casal Eudócia Pessoa Pereira e José Claudino Pereira era contagiante. Afinal, ali estava o primeiro filho do casal. Pronto para acender o estopim da guerra.
Não foi fácil para minha mãe! Mesmo assim, consegui nascer para ser quem sou! Aliás, continuo dando trabalho a muita gente, que me engole na marra (por ser sincero)! Minhas lembranças me levam até o grande amigo Joel, filho de d. Benedita. Por sinal, o único amigo antes de conhecer o José (que morreu atropelado), filho do velho “Pai Tá”, lá na chamada Casa do Alto.
Por falar em casa do Alto, foi lá onde nós vivemos os belos tempos de fartura. Era um sítio pertencente ao alemão Alberto Lungdrent (não sei se é assim que se escreve). Mangueiras, abacateiros, laranjeiras, bananeiras, coqueiros, cajueiros, jaqueiras, tudo tinha em abundância. Isso sem falar nas galinhas, perus, porcos, patos, guinés, carneiros, cabras e o cachorro Sultão, que pai preferia chamar de Sulta.
Havia fartura também de macaxeira, batata doce, mandioca e inhame A roça era muito bem tratada por minha mãe! Lembro até das cobras jararacas e cascavéis que normalmente apareciam na beira da estrada, misturadas aos preás que os meninos da redondeza costumavam matar com as baladeiras
É bom lembrar os momentos, lá em Abreu e Lima, ou Maricota para os mais tradicionais. Sempre que meu pai podia, íamos passar Natal e Ano Novo com a família de minha mãe. A única empresa era a Hilacarme, que fazia a linha Campina Grande – Recife. A segunda opção eram as marinetes e as jardineiras. Estas eram mais caras, por serem mais rápidas e mais confortáveis.
Em outras oportunidades, íamos para Santa Rita e Bayeux, onde moravam os parentes de meu pai. Era muito legal estar com Renato, Dé, Til, Dinha, Lena e Ednaldo, alguns dos meus primos amados. Melhor ainda era curtir a alegria de minha tia Zulmira (Zul) e as boas conversas do Padrinho Néco.
Em Santa Rita, o encontro com tia Cezina (Zina), Josélia e o marido Paulo (ex-palhaço Parafuso) e Mãe Gustinha, minha avó paterna, meu primo Dário e minha tia Júlia era algo especial. Com o primo Renato, assistia jogos do São Bento, time local.
As primeiras letras eu aprendi em casa, com minha mãe, mas minha primeira professora legalmente reconhecida foi d. Maroca, a única e pioneira daquela região. Foi um tempo difícil devido a rigidez com que fui criado. Pensam que lamento? Que nada! Não fosse assim, eu não seria esse cara sério e honesto, que não se deixa levar pelas opiniões dos outros. Minha mãe dizia para que eu “nunca fosse como piolho”, para andar pelas cabeças dos outros.
Dia 1º de janeiro do ano de 1958, nascia na cidade de Abreu e Lima um menino chamado Abinoan, nome que se completou com Claudino Pereira. A mãe, minha tia Isabel, irmã de minha mãe, no mesmo momento em que dava luz ao mano, partia para a eternidade. Vital Vieira de Barros, o marido, agora viúvo, tomava o menino recém-nascido nos braços e, sem qualquer constrangimento, entregava à minha mãe dizendo: - Tome! É seu!
O casal Vital e Isabel já eram pais de três filhos: Abilene, Abiel e Abidonias. Não tendo condições de criar o quarto filho, Vital o entregou à pessoa certa: minha mãe! E eu, que já estava com meus 16 anos, ganhava com muita alegria um irmão, que ajudei a criar. Era o meu “xodó”. Ele foi registrado em Campina Grande no dia 8 de janeiro.
Ainda em Abreu e Lima, estar ao lado do tio Severino Olegário Pessoa, irmão de minha mãe, da esposa, d. Lia e dos primos Jonas e Ruth era motivo de muito contentamento. Todos eram momentos inesquecíveis que guardo na memória e aproveito para colocar aqui neste registro um tanto resumido.
A Campina Grande da década de 50 já não é a mesma nos dias atuais! E nem poderias ser! Eu nem sei o que seria de mim se chegasse hoje na “Rainha da Borborema” e ouvisse o locutor da Rádio Borborema deixando escapar sua voz nos rádios SEMP ou ABC anunciando uma edição extraordinária do “Campinense Repórter”, para noticiar um fato de grande repercussão.
O dia 5 de setembro de 1958 é uma data triste, mas que precisa ser lembrada. Foi nesse dia que caiu no Serrotão, em Campina Grande, o avião prefixo PP LDX da Loyde Aéreo. Ele ia para Fortaleza e deveria fazer conexão em Campina Grande, mas não conseguiu localizar o aeroporto João Suassuna e caiu num roçado. A notícia foi dada pelo locutor Ariosto Sales, da Rádio Borborema.
A notícia foi confirmada quando o outro locutor, Eraldo César, também da mesma emissora, foi ao local e deu mais detalhes sobre o desastre. Eram trinta e oito pessoas que estavam no avião, das quais 13 morreram e 35 sobreviveram. Foi um fato que ficou por muito tempo na nossa lembrança. O desfile do dia 7 de setembro foi adiado para o dia 14.
Ouvir o chiado dos jingles anunciando que o Café São Braz era o café da família campinense, seria algo comovente, assim como não deixaria de ser extraordinário ouvir Genival Lacerda, magrinho e imitando Jackson do Pandeiro no programa matinal “Retalhos do Sertão”, apresentado por Juracy Palhano. E a voz inconfundível de Pinto Lopes? E as novelas “Antônio Maria”, “O Anjo Negro”, “O Morro dos Ventos Uivantes” e “Maria Laô”, com atores do próprio quadro da Borborema?
Lá, na Liberdade, nossa primeira morada ao chegarmos naquela cidade serrana, a vida tomava outro jeito. Já não era mais a mesma coisa lá de Timbó, em Abreu e Lima, que muitos tinham orgulho de chamar Maricota. Agora, tudo era diferente. Até o gás era querosene, venda era bodega e os garotos eram guris. Coisas estranhas, não!
O primeiro carnaval em Campina Grande foi espantoso para um menino do interior de Pernambuco. O jeito era correr para debaixo da cama, com medo dos ursos, dos cavalos marinhos, dos gorilas e dos bois chicoteados para dançar e arrecadar dinheiro nas portas das casas. Apavorada, minha mãe gritava: - é gente vestida de bicho, menino!
Ufa!!! Ainda bem que eram apenas três dias! Também com nove anos e numa época em que a inocência nos acompanhava até os quinze, era normal ter medo até das histórias de “Trancoso” contadas por nossas mães. A primeira namorada só com os dezessete... e olhe lá, hein!!!
Há momentos em que sentamos e nos
debruçamos sobre a mesa para lembrar-nos de como era bacana acompanhar os
pastoris nas épocas natalinas. O auditório da Rádio Borborema ficava lotado e
lá estava eu gritando: “Azul é o céu, azul é o mar, azul é a rainha que nós
vamos coroar!”. No palco, Leonel Medeiros comandava o cordão azul, enquanto
Hilton Mota comandava o encarnado.
Mas não dá para esquecer a minha primeira professora, d. Maroca, em Timbó e da palmatória nos dias de “argumentos”. E a famigerada Escola de D. Adelma? Esta foi a minha segunda escola, já em Campina Grande. A professora Guiomar era filha da dona. Esta escola ficava na Rua Arrojado Lisboa, mesma rua onde a gente morava.
Um dos muitos momentos de felicidade foi quando vesti pela primeira vez a camisa de um time de futebol. Eu tinha 15 anos quando vesti a camisa do juvenil do Vasco da Gama, do Monte Santo. Depois fui titular, juntamente com grandes atletas como: Chico, Carboreto (Arnaldo), Gringo, Raimundinho, Paulinho, Aladim, Pernambuco, Guilherme (goleiro), e Antônio Correia.
Êpa! Não vamos esquecer os programas de auditório da Rádio Borborema, principalmente “O Domingo Alegre”, comandado por Leonel Medeiros. Era gostoso ouvir cantores como Maria das Neves, Maria do Carmo, Silvinha Alencar, Ronaldo Soares, Gilson e Geisa Reis e Geraldo Andrade. A orquestra do maestro Nilo Lima e regional do Arnóbio Araújo acompanhavam os astros e as estrelas do cast associado.
No Domingo Alegre, a gente trocava cinco pacotes vazios dos produtos São Braz por uma cartela de bingo. E como era emocionante quando Leonel Medeiros anunciava: - Vamos sortear mais três pedras do bingo São Braz. Com a pedra 10 eu completei minha cartela e ganhei uma cama de solteiro faixa azul, com colchão, um kit dos produtos São Braz e uma foto de Marta Rocha, Miss Brasil.
O programa Retalhos do Sertão, apresentado pela manhã por Juraci Palhano, era cheio de atrações. Foi lá que Genival Lacerda iniciou sua carreira artística. Vale lembrar o humorista “Capitão Mané Coió” e os violeiros José Gonçalves e Cícero Bernardes. Eles receberam do humorista os apelidos de “Cupim” e “Coruja”.
Mas Campina Grande era grande mesmo! Tão grande que me dava ao luxo de ter quatro namoradas ao mesmo tempo, sem que elas se encontrassem. Os seriados do Cine Avenida, na Getúlio Vargas não me saem do pensamento. No Cine Capitólio e no Cine Babilônia, assistia aos filmes mais importantes, como Cavaleiros da Távola Redonda, El Cid, O Conde Drácula e outros. O surgimento do Cinemascope foi uma evolução na Sétima Arte.
Vez por outra, dava para ir ao Cine Brasil, lá no bairro de José Pinheiro, onde eu tinha uma namorada e aproveitava para assistir aos jogos do Campinense, no Estádio Municipal Plínio Lemos. Na Praça da Bandeira, passava bons momentos na sinuca do Luizinho, principalmente quando estava jogando o Paulo Arruda, um verdadeiro “taco de ouro”. Às vezes aproveitava para dar umas tacadas (não com ele, é claro!).
E como esquecer o meu primeiro emprego numa banca de revistas, localizada na esquina da chamada “Mesa de Renda” (como a secretaria da fazenda de hoje)? Depois é que fui trabalhar no escritório de Representações do Sr. Geraldo Soares, no Edifício Açu (na Praça da Bandeira). Representávamos os tecidos A. Bittencourt, a Lincoln Industrial, Tecidos Bangu, molas Bleksteel e capotas Triunfo. Saí de lá para servir ao Exército.
Estudar no Colégio Alfredo Dantas, dos irmãos José e Severino Loureiro, era coisa pra filho de doutor e não para filho de operário como eu. Mas eu estudei lá; no meio dos “filhos de papai”. Parece inacreditável, mas é verdade! E ainda me dava ao luxo de desfilar em pelotão especial no dia 7 de Setembro. Fiz até parte da banda marcial do colégio! Podem arregalar os olhos! Depois fui para o Estadual da Prata, o Gigantão, dirigido pelos professores Raul Córdula e William Ramos Tejo. Também fiz parte da banda marcial de lá.
Na Rua Ceará, podíamos contemplar em frente a nossa casa as catacumbas do cemitério do Carmo, administrado por seu João Coveiro, casado com d. Ambrozina e pelo sobrinho Alcides. E como poderíamos esquecer a família de seu Pedro Nicolau e d. Mocinha? Ao lado, seu Cícero e d. Inacinha, formavam um casal de bons vizinhos, com os filhos Inácio (Pelado), Carminha e Jurandir.
Êita, Campina Grande! Êita, Paraíba masculina, muié macho, sim sinhô! Vou lembrar também das ruas onde morei: Rua Liberdade, Rua Arrojado Lisboa, Av. Rio Branco, Rua Idelfonso Aires, Rua Ceará, e Rua Monte Santo. Foram onze anos de história pra contar. De lá, em 1961, fomos para Patos das Espinharas, a terra do major Miguel, conhecida como “morada do sol”. Foi outra grande e maravilhosa etapa da minha vida
Êi! E você não vai falar nada do Exército? Claro!!! Como posso esquecer a brabeza do sargento Paulo, do tenente Rego Barros e do capitão Braga? De jeito nenhum! Mas é melhor falar do tenente Negri, dos majores Maurício e Marcelo, do coronel Queiroz, nosso comandante. Seria ingrato se não lembrasse do Cabo Carlos e dos colegas Mário, Vanaldo, Valdemar, Noaldo, Pimentel, Agnaldo, Hildo, Leite e Aleixo, entre outros.
Eu nem queria imaginar como seria um encontro com o tenente Negri, com o major Maurício e com o sargento Paulo, nos pátios do Batalhão de Serviço de Engenharia, lá na Palmeira. Talvez só me sentisse mal ao lembrar o “boião”, conhecido “vale-tudo” consumido nas segundas-feiras. E ainda tinha gente que lambia os “beiços”!
Fui agraciado com a função de QMP burocrata QMG contador, trabalhando na F. A., Fiscalização Administrativa. Mas eu sempre queria mais e passei a fazer parte da banda marcial do Exército, sob o comando do sargento 62 (meia dois) batendo caixa.
Aproveitei para aprender a tocar corneta. Se pudesse voltaria a vestir aquele uniforme de quem muito me orgulhei. Cheguei lá em forma de menino e saí em forma de homem. Foi lá onde aprendi a dirigir com o soldado Silva.
Campina Grande só contava com o Treze Futebol Clube, conhecido como o “Galo da Borborema”, mas eu nunca fui bem com a cara dele. Também tinha o Paulistano, cujo campo ficava no bairro da Liberdade. Tempos depois, o Centro Esportivo Campinense Clube (a raposa) se profissionalizou e eu virei “raposeiro”. Eu saía do Monte Santo, para treinar no Campinense, em José Pinheiro. Tomava dois ônibus para chegar ao Plínio Lemos.
Eram maravilhosas as manhãs de domingo em Bodocongó. No açude do mesmo nome, as lanchas velozes puxavam esquiadores que faziam malabarismos no ar, arrancando os aplausos dos presentes. Era bom para paquerar as meninas do bairro. O time de lá era o Humaitá, onde eu tinha bons amigos, entre eles o goleiro João Pipoca e os jogadores Adaltinho, Icário e Lelé. Joguei algumas vezes contra eles, vestindo a camisa 14 do Vasco do Monte Santo.
Tá bom! Já escrevi demais! Já provei que ainda estou com a memória fértil, apesar dos quase 8.1. Depois, se me der coragem e se a memória continuar ajudando, falarei de outras aventuras do meu passado que, graças a Deus, ainda não morreu!
(Por Adalberto Pereira)
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sábado, 13 de agosto de 2022
sexta-feira, 12 de agosto de 2022
segunda-feira, 8 de agosto de 2022
MUDANÇA DE PLANOS
O PISTOLEIRO
Um certo fazendeiro, invejoso, ganancioso e dono de um coração cheio de ódio e rancor, contratou um pistoleiro para executar um cidadão, por quem alimentava uma certa aversão. Fechado o “negócio”, entregou-lhe a metade do valor combinado.
Frio e calculista, o pistoleiro partiu em direção à residência do desafeto do seu “patrão”, onde chegou já ao cair da tarde. Bateu à porta e foi recebido por uma senhora, que enxugava as mãos num avental já bastante sofrido pelas atividades diárias. Vendo o “visitante”, ela chamou o marido, o alvo do assassino.
Educadamente, a possível vítima, cumprimentou o estranho visitante, abriu-lhe a porta e mandou que entrasse e sentasse para descansar o corpo da viagem. Serviu-lhe água para matar-lhe a sede e nem se preocupou em saber seu nome, de onde vinha ou para onde ia.
Para ele, aquilo eram detalhes que não lhes interessavam, pelo menos no momento. Apenas sentou-se à frente do pistoleiro e, mal havia iniciado uma conversa, ouviu uma voz vindo do interior da casa. Era a esposa que anunciava a hora do jantar.
Com a mesma educação como o recebeu, ele convidou o “visitante” para acompanhá-lo até a sala de jantar. Os dois sentaram à mesa, seguidos da dona da casa. Virando-se para a janela do oitão, o cidadão gritou: - Meninos, hora do jantar!
Imediatamente, surgiram na sala sete meninos, que se aproximaram da mesa, mas o cidadão os repreendeu mandando que fossem lavar as mãos. Eles o obedeceram e voltaram cheios de vontade.
Cada um tomou o seu lugar, olhando meio desconfiados para o estranho visitante. Olhando para eles com um olhar sério, o dono da casa murmurou: - Não vão dizer boa noite para o nosso amigo? Todos gritaram a uma só voz: - Boa noite, moço!
O pistoleiro, mal podia falar, mas com um grande esforço conseguiu responder aos cumprimentos das crianças. O dono da casa, apontando para os garotos, apresentou: - aqueles quatro à esquerda são nossos filhos André, Noaldo, Carlito e Juarez; os outros três: Arthur, Miguel e Marcelo são nossos netos. Apontou para a mulher e apresentou: Esta é Clarice, minha esposa! Ela é quem manda em tudo! (risadas).
Terminado o jantar, todos foram para a sala, onde as conversas foram bastante animadas, menos para o pistoleiro, que, atônito diante de tudo o que presenciava, não sabia o que fazer. Vez por outra esboçava um sorriso meio sem graça, até que, para seu alívio, ouviu o cidadão dizer: - Bem, pessoal! Hora de dormir! Amanhã será outro dia!
Conduziu o “visitante” até o quarto de visitas e, como a noite estava fria, escolheu para ele os melhores agasalhos. A noite foi uma verdadeira tortura para o pistoleiro. Por mais que tentasse, não conseguia conciliar o sono.
As perguntas alimentavam cada vez mais a tortura que corroía seu cérebro: - O que está acontecendo comigo? Eu nunca “bati pino” numa “quebrada de milho”. Como eu posso tirar a vida da única pessoa que trata como gente?
O dia amanheceu e ouviu alguém batendo na porta do seu quarto. Era o dono da casa, chamando-o para tomar o café da manhã. Sentiu um calafrio tomando conta do seu corpo. Não tinha outra saída a não ser sentar novamente à mesa e encarar aquela família, cuja felicidade ele estava prestes a destruir.
Agradeceu a hospitalidade da família, colocou a mochila nas costas e com um aceno seguiu sua caminhada de volta para casa. Continuava sem saber o que havia acontecido com aquele sujeito frio e calculista, matador de aluguel.
Olhando de lado, depois de alguns minutos de caminhada, deparou-se com um pequeno lago. Saiu da estrada, chegou à beira do lago, tirou da mochila o revólver e o lançou o mais longe que alcançou. E como se o lago o ouvisse, murmurou: - Toma! É todo teu! Faça com ele o que quiser.
Deu meia volta, retornou à estrada e continuou em sua longa e penosa caminhada. Agora mais aliviado, ensaiou um pálido sorriso, balançou a cabe por várias vezes, como se não estivesse acreditando no que acontecera com ele.
Lembrou-se do sorriso das crianças e da felicidade daquele casal, uma família que ele quase destruiu. Chegou até a pensar em construir uma família, mas desistiu. – Quem vai confiar num sujeito como eu? Eu sempre serei um pistoleiro cruel e desumano!
Com o dinheiro recebido, metade do acertado, tomou um destino até hoje ignorado. Quem o conhecia como um “quebrador de milho” perverso e sem coração, não sabe dizer o seu destino. Se ele se sentiu aliviado pela mudança inesperada, a sociedade sentia muito mais.
Este texto, com sabor de ficção, foi criado num momento em que o autor meditava sobre a fragilidade da nossa justiça, que teima em fabricar perigosos criminosos, diante das conivências com o terrorismo implantado pelos que matam, sequestram, assaltam e destroem os sonhos dos verdadeiros cidadãos.
Autor: Adalberto Pereira.
É PRECISO SER FIRME PARA VENCER
VENCENDO OBSTÁCULOS
O ano era 1979. Eu estava muito bem no exercício da minha função no Departamento de Jornalismo da Rádio Espinharas de Patos. Surpreendentemente, recebo uma proposta para trabalhar na Emissora Rural a Voz do São Francisco, em Petrolina.
O salário era tentador, mas a indecisão colocava-me diante de uma situação inusitada: eu estava na Rádio Espinharas há seis anos em minha segunda passagem pela emissora, onde comecei em 1962, ainda desconhecido e com o nome artístico de Carlos Alberto, ideia de José Augusto Longo e Luis Pereira. Não foi fácil suportar a separação da minha família e dos amigos, mesmo sabendo que poderia superar tudo isso.
Sabendo do convite que me fora feito pela Direção da Emissora Rural de Petrolina, alguns colegas me aconselharam a não aceitar. Alegavam eles que era um grande risco, uma vez que lá só tinha “feras” e que eu ia me decepcionar.
Ora, se eu já estava indeciso, calculem a minha situação diante dos “estímulos” dos colegas! Além disso, eu não sabia nem onde ficava Petrolina. Já me colocava na condição de um estranho na multidão. E cada vez que pensava assim, a dúvida aumentava e o receio dominava os meus neurônios.
Resolvi dizer SIM! Fui até o Pe. Luiz Laires da Nóbrega, meu Diretor e comuniquei: - Recebi uma proposta da Emissora Rural de Petrolina! Não pretendo deixar a Espinharas e meus amigos daqui. Se vocês pelo menos chegarem ao mesmo salário, eu ficarei. Não quero mais que isso.
O Pe. Laires consultou o Departamento Pessoal e este informou não ter condições de conceder-me um aumento que chegasse ao prometido pela outra emissora. Na época eu deixara de ser o Carlos Alberto de 1962 e já era o Adalberto Pereira, nome que eu mesmo escolhi.
O Pe. Laires fez o que estava eu seu alcance para manter-me na emissora. Não era eu o melhor, mas eu era Diretor de Jornalismo, repórter, redator, apresentador do Jornal da Manhã e Comunicação Total e ainda integrava o quadro de esportes da emissora. E isso sem nenhum interesse financeiro.
Quem não queria um funcionário assim? Acredito que este detalhe chamou a atenção dos Diretores da Emissora Rural (Monsenhor Gonçalo, Sr. Paulo Brito e Pe. Mansueto de Lavor). Não nego que estava feliz com o convite. Mas era dominado pelo medo, quando lembrava os comentários negativos dos colegas.
Procurei não levar aquilo a sério. Na rodoviária de Patos e já dentro do ônibus da Viação Brasília, olhava para os amigos que passavam e acenavam para mim. Confesso: não conseguia conter as lágrimas. Eu amava a Rádio Espinharas e Patos ocupava e ainda ocupa um lugarzinho especial no meu coração. Quantas vezes pensei em desistir!
Em Petrolina, fui recebido na rodoviária pelo saudoso colega Juarez Farias e por ele conduzido até um apartamento na própria emissora. Tudo era muito estranho. A falta dos amigos e do carinho dos patoenses não me permitiram um sono tranquilo. E haja sofrimento! E foram muitos dias assim.
Cheguei a pensar que as previsões dos amigos lá de Patos começavam a virar realidade. Mas um dia fui surpreendido com um chamado dos diretores. Eles me incumbiram de apresentar um noticiário. Estaria eu sonhando? Aquilo era verdade? Quase que beliscava meu próprio corpo para saber se estava acordado.
Ao entrar no estúdio para apresentar o noticiário, notei que um grupo de curiosos me observava do outro lado do vidro. E, para minha surpresa, aquele grupo era formado pelos senhores Paulo Brito, Monsenhor Gonçalo, Mansueto de Lavor e Vinicius de Santana. Na verdade, eu estava diante de uma verdadeira “prova de fogo”.
Antes da última notícia, todos eles haviam desaparecido. O que teria acontecido? Aquilo era um bom ou um mau sinal? Seria a confirmação das previsões dos amigos de Patos? Ao levantar-me, vi o sonoplasta fazendo um sinal de positivo. Mas ele não fazia parte daquele grupo. Logo...!
No dia seguinte, o Monsenhor Gonçalo Pereira Lima, chegou à porta da sala de redação, olhou pra mim com aquele sorriso próprio dele e falou: - O senhor vai apresentar os noticiários de hora em hora, a partir da próxima semana. Ao dar os primeiro passos, deu meia volta para dizer: - Parabéns!
Naquele momento, desejei ver ao meu lado os colegas da Rádio Espinharas que duvidaram da minha capacidade de estar entre os que eles chamaram de “Feras”. Também queria que eles testemunhassem que eu não havia me decepcionado. Afinal, eu havia vencido o grande obstáculo que via pela frente.
Vencer desafios não é tremer diante das oportunidades, mas encará-la com coragem, colocando-se lado a lado com os competentes e se tornando “fera” como eles. No rádio, os desafios não são pouco e também não são fáceis de vencê-los. Mas ao longo dos 30 anos de rádio, consegui vencer os mais complexos obstáculos.
- Por Adalberto Pereira –
domingo, 7 de agosto de 2022
O MUNDO DE CADA UM
CADA CABEÇA É UM MUNDO
Eu não sei quem foi o autor ou quem primeiro pronunciou a frase “Cada cabeça é um mundo”. A única certeza que tenho é que há muitos e muitos anos ouvi a frase pela primeira vez. Infelizmente, eu ainda era imaturo e não tinha condições de explorar minha inteligência para me posicionar a respeito.
Cresci ouvindo repetidas vezes a mesma frase. Aquilo já estava indo longe demais e eu que já estava mal acostumado, precisava urgentemente, pensar mais cuidadosamente no assunto.
Foi aí, e isso durou alguns anos, que pensei comigo mesmo: ora, se cada cabeça é um mundo, pela lógica, estamos diante de milhões de mundos, cada um com uma maneira diferente de viver, de pensar e de agir. Seriam mundos de loucos?
O mundo pode ser um barco. Isso ficou patente em meu pensamento quando ouvi uma discussão entre algumas pessoas, depois de uma briga generalizada. Um deles, tentando amenizar a situação gritou: calma, pessoal, estamos no mesmo barco.
O mundo pode ser ainda uma lua. Foi a conclusão a qual cheguei quando ouvi alguém dizer, referindo-se a um sujeito que respondeu a uma pergunta e cuja resposta não tinha nada a ver com a pergunta: - Ele estava no mundo da lua.
Existe aquele mundo que pertence a um grupo especial. Esta minha afirmativa nasceu em mim quando um pai, para mostrar ao filho que ele precisava se preparar para o futuro, assim se expressou: - Desperte para uma realidade bastante óbvia de que o mundo é dos mais espertos.
Há também aquele mundo que se mete onde não é chamado e vive bisbilhotando nossas vidas. Foi o que descobri ao ouvir de um vizinho meu que, para incentivar a filha a não seguir maus exemplos, assim se expressou: - Cuidado, minha filha, que o mundo está de olho em você!
Mas o pior em tudo isso é que, apesar de cada um ter o seu próprio mundo atrelado ao pescoço, todos acham que são donos do mundo criado por Deus e que só a Ele pertence. Aí nasceram os prepotentes, os arrogantes e os egoístas. Eles se resumem em apenas sete letras: IDIOTAS.
Não é nada incomum ouvirmos frases como: “Eu faço o que quero!”; “Eu sou dono da minha vida!”; “Ninguém manda em mim!”; “Eu vou pra onde quero, na hora que quero e do jeito que quero!”. Como estas, muitas outras frases são pronunciadas por aqueles que se acham donos da razão. Para conceituarmos estes, também precisamos apenas de sete letras: BABACAS.
Mesmo que isso desagrade a muitos, a verdade é essa: ninguém é dono de nada! Nem da própria vida! Se assim fosse, ninguém deixaria que a vida escapasse de suas mãos.
Tudo o que somos e tudo o que temos pertence a DEUS. Ele é o dono do MUNDO, inclusive da nossa vida. Todos os bens materiais que desfrutamos são emprestados por Deus. Ele nos dá quando quer da mesma forma que resgata quando acha necessário.
Se cada cabeça é um mundo, precisamos de muita paciência para vivermos e convivermos com milhões de deficientes mentais. As anomalias psicológicas facilitam em grande escala a incalculável distância entre o homem e Deus. Aliás, do jeito que caminha a humanidade, fragiliza-se a passos largos a comunhão do homem com o seu Criador.
E o mundo em que vivemos? Este não passa de uma simples esfera colorida que flutua no espaço sideral, impulsionado pela insensatez do homem, que deixou de ser a imagem e semelhança daquele que o criou. Huuuuum! Agora pisei nos calos de muita gente!
Se levarmos em consideração o fato de Deus já ter destruído este mundo uma vez, podemos dizer que a humanidade continua provocando a ira de Deus. Mas tudo isso será resolvido de forma implacável com a segunda vinda do Filho do Homem, embora muitos ainda achem que isso não passa de uma fantasia religiosa.
Mas infelizmente é assim que será enquanto perdurar a frágil e tenebrosa idéia de que CADA CABEÇA É UM MUNDO.
AUTOR: Adalberto Pereira.
sábado, 6 de agosto de 2022
sexta-feira, 5 de agosto de 2022
UM REENCONTRO FELIZ - AME E RESPEITE SEUS AMIGOS.
REENCONTRANDO O AMIGO ZÉ COSTA
A vida oferece surpresas impressionantes. Umas são excelentes, outras nem tanto. Nascer em Abreu e Lima, Pernambuco, um pequeno Distrito de Paulista e seguir para Campina Grande, não deixava de ser um dos maiores desafios para um garoto tímido de apenas 9 anos de idade.
Naquela metrópole paraibana, morei na Liberdade, na Rua Paraguai (bairro da Prata), na Av. Rio Branco, na Rua Idelfonso Aires (Rua Estreita), na Arrojado Lisboa, na rua Ceará e no Monte Santo. Tudo era bem diferente da Rua Azul da antiga Maricota (como era conhecido o Distrito de Abreu e Lima).
As minhas principais aventuras aconteceram entre as ruas Ceará e Monte Santo. Da Rua Ceará, lembro os amigos Inácio (conhecido como Pelado), seu irmão Jurandir chamado Dida)e sua irmã Maria do Carmo, filhos do Sr. Cícero e d. Mariinha. Isso sem esquecer a família Nicolau, com seu Pedro e d. Inacinha e os filhos Pedro, José, Lilian e Noca.
Foi ali que comecei a jogar futebol num campo chamado “Cova da Onça”. Eu tinha apenas 14 anos. Embora aquela vizinhança fosse de primeiríssima qualidade, meus pais resolveram residir na Rua Monte Santo, onde tivemos excelentes vizinhos.
E foi ali onde conheci e convivi com amigos maravilhosos, destacando-se José Costa, Titi, Joãozinho, Birino, Maria do Carmo, Lourdinha e Bastinha, todos eles filhos do casal Antônio de Gama e d. Cícera, cujo nome verdadeiro era Maria Pinheiro da Costa.
Mas nomes outros merecem fazer parte desta seleta lista: Antônio Correia, Nivaldo, Marina, Corina, Teté, Olívia, todos filhos do casal Misael e d. Moça. Mais acima tinha o Zé Hamilton, Salomão, que jogou no Campinense, Náutico, Santos e Vasco do Rio (hoje médico e residente em Recife).
Não dá para esquecer os momentos de boas conversas no bar de “seu” Silva, na esquina da rua e bem pertinho da Praça Felix Araújo. Por trás da nossa casa estava a Cadeia Pública, onde todos os dias à meia noite os presos eram contemplados com a chamada “vitamina da meia noite”.
Foi morando no Monte Santo que tive o meu primeiro emprego como vendedor numa banca de revista no centro de Campina Grande, na calçada da antiga Mesa de Renda. Depois, com 17 anos, passei a trabalhar com o Sr. Geraldo Soares, num escritório de representações.
O escritório faca no terceiro andar do Edifício Açú, na Praça da Bandeira. Representávamos as molas Black Steel, as capotas Triunfo (ambos para Jeep), os tecidos A, Bittencourt, Bangu e Lincol Industrial.
Mas o meu ponto de referência agora se chama JOSÉ DA COSTA BARROS. Principalmente pelos anos que nos separaram (acho que uns 50), sem que eu soubesse onde encontrá-lo. Isso me entristecia, pela amizade que nos unia na nossa adolescência. Mas o que Deus reserva para nós é algo surpreendente.
Inesperadamente o tempo de Deus chegou e eu recebia uma mensagem vinda de uma jovem chamada Sinara. Era a filha do meu amigo Zé Costa. Foi aí que fiquei sabendo que ele reside no Rio Grande do Norte, mais precisamente em Monte Alegre, uma cidade com cerca de 40 mil habitantes, localizada a uns 35 minutos de Natal.
A distância não nos interessa quando sabemos que podemos estar perto (de coração) dos amigos inseparáveis. O meu reencontro com meu amigão Zé Costa encheu-me de alegria e hoje eu me sinto mais feliz.
Meu amigo, atualmente, não goza de muita saúde, mas se esforça para falar o necessário para sabermos que sua vida está bem cuidada por Deus, pela esposa Mirtes e por sua filha Sinara. Estes sempre estarão ao seu lado nos momentos em que ele mais precisa.
Também fiquei feliz ao receber uma mensagem do Samuel, filho da Sinara e que me disse ser o neto preferido do amigo Zé Costa. Ele até me falou dos outros dois netos do Zé, o Lucas e o Juan. O que nos conforta é saber que o amigo está muito bem acompanhado.
A partir desse reencontro, nossas conversas têm sido bastante animadoras e nos fazem voltar aos nossos tempos na Rua Monte Santo e às nossas aventuras ao lado do amigão Nivaldo. Agora é só esperar no SENHOR pela recuperação total do amigo para que nossa felicidade seja completa.
Nunca esqueça ou abandone os seus verdadeiros amigos, independente do que tenha acontecido de desagradável e que tenha causado constrangimento a alguém. Uma verdadeira amizade não pode ser sufocada por fatos superáveis.
Guarde seus verdadeiros amigos no coração, pois de lá eles jamais sairão quando a gratidão, o respeito e o carinho superam toda e qualquer adversidade.
UM ABRAÇO FRATERNO E CORDIAL, MEU AMIGÃO JOSÉ COSTA BARROS.
- Por Adalberto Pereira -