OS SUICIDAS
Foram quase 30 anos de convivência com o mundo do rádio. Durante este resumido tempo de serviços prestados à radiodifusão, fiz o possível e, às vezes, o impossível, para ser agraciado com os elogios de quem reconheceu os meus esforços para fazer o melhor.
Fui repórter, noticiarista, redator, âncora de jornais, revisor de jornais, fiz entrevistas importantes com presidente, ministros, secretários de Estado, autoridades civis, militares e eclesiásticas e fiz inúmeras coberturas jornalísticas. Cheguei a ser gerente de uma emissora de rádio.
Ao longo dos anos, depois de cumprir uma missão não muito fácil mas que ainda é o sonho de muitos, fui agraciado com dois títulos de cidadanias, diplomas, certificados, medalhas, além de algumas homenagens, que enriqueceram o meu currículo como integrante de uma imprensa até então respeitada pelo caráter e pelo profissionalismo dos seus integrantes.
Certa vez, e isso não aconteceu por acaso, fui questionado por um amigo sobre os motivos que me levaram ao sucesso como profissional da imprensa escrita e falada. Fiz ver aquele jovem que eu nunca procurei superar meus colegas, pois sempre reconheci que cada um tem o seu jeito de agir e pensar. Eu sempre procurei superar a mim mesmo.
Expliquei que, superando a si mesmo, a o inteligente profissional descobre seus defeitos e se esforça para não repeti-los. Tentando superar os outros, caso não consiga alcançar os seus objetivos, o resultado é catastrófico, podendo levar o sujeito ao suicídio profissional.
Notei que ele ficou meio confuso. Afinal, para entender tudo isso, faz-se necessário um longo período de reflexão. Então fiz ver a ele que existem vários tipos de suicidas, entre estes: o profissional, o moral e o físico, cada um com sua forma individual de ser visto.
Existem os suicidas físicos conscientes. Um alcoólatra inveterado, por exemplo, sabe que está morrendo aos poucos, sendo possíveis vítimas da cirrose. O mesmo acontece com os fumantes, que se colocam à disposição do câncer.
O suicida físico não se dá ao luxo de ouvir as críticas a ele dirigidas, sejam elas construtivas ou destrutivas. A este só resta uma lúgubre e indesejável sepultura, enfeitada com frases pré-fabricadas.
O suicida moral se distancia a passos largos de uma sociedade exigente, que sempre esperava dele um comportamento exemplar para futuras gerações. Inconsciente, ele “sepulta” no seu inconsciente os sonhos não realizados.
O suicida profissional joga no “abismo” da ociosidade as oportunidades que lhe foram dadas para realizar um trabalho profícuo e admirado por todos. Trabalho este que seria fruto de ações imparciais e respeitáveis. Imparcialidade passou a ser um produto em extinção.
Não foram poucos os que estiveram por muitos anos ocupando o ponto mais alto do “pódio do sucesso”. Receberam prêmios, honrarias e ganharam muito dinheiro, mas a fama lhes subiu à cabeça, afastando-os da humildade. Cometeram assim, o “suicídio profissional” colocando as próprias “cabeças na guilhotina”.
A subserviência declarada é a maneira evidente do início de um suicídio profissional. O profissional subserviente não tem credibilidade e desmerece a confiança até dos próprios patrões. Não passa de uma marionete nas mãos de quem paga mais.
Conheço colegas que não tiveram a humildade de reconhecer que a sua “queda” profissional foi provocada por eles mesmos. A incompetência os levou ao declínio moral. Muitos deles ainda insistem em procurar culpados pelos seus fracassos. São os ingênuos suicidas.
Certa vez meu pai me flagrou tentando montar o seu clarinete. Tentando conter a raiva por ver-me mexendo no instrumento de que ele tinha muito ciúme, ele apenas retrucou: “Se você não sabe nem montar, não se meta a tocar”. Tomou o instrumento das minhas mãos com os “olhos faiscando”.
Foi ali que eu aprendi a não me meter onde não me cabia. Nos palcos dos carnavais, cantando marchinhas famosas, levei milhares de pessoas ao delírio. Nas serestas arranquei grandes aplausos. Hoje, consciente, sei que não serei capaz de repetir essas façanhas. Aquietei-me.
Para DEUS, procuro fazer o melhor, pois Ele é o grande merecedor. Se a minha presença vai criar descontentamento, se os meus atos não vão trazer efeitos positivos, recolho-me e oro pelos que fazem com perfeição. Então, estarei fazendo o que é agradável aos Olhos do SENHOR.
Certa vez, vendo um rapaz tentando tocar violão, um colega disse: “Se você não sabe fazer, limite-se a aplaudir quem sabe. Você estará fazendo o bem a você mesmo”. Foi um “tapa de luvas” de quem sabe criticar com elegância.
Não se entregue ao suicídio moral, físico ou profissional. Coloque a humildade acima de quaisquer desejos de fazer o que não sabe. Assim, reconhecendo as suas limitações, você não será ridicularizado pelos críticos de plantão e não será uma presença inoportuna.
Por Adalberto Pereira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário