quinta-feira, 26 de outubro de 2023

 


                                    O PETELECO DO BENEDITO

A manhã do domingo estava convidativa para o futebol. Isso fez com que os moradores do Sítio Cajarana se reunisse para uma disputa entre os dois times tradicionais do lugar: a Associação Bico Calado Futebol Clube e o Clube Bela Alvorada.

Como só havia os dois times, resolveram fazer um torneio de cinco partidas, sendo quatro seguidas e a quinta, que seria um “tira-teima”, quando tinha que sair um vencedor. Nas quatro primeiras houve empates.

Agora, restava a quinta e última partida. O dia dessa partida decisiva seria um dia especial. Decidiram, então que seria no dia do aniversário de seu Isidoro, um dos fundadores do lugar e pessoa bastante conceituada.

O almoço ficaria por conta de d. Anastácia, conhecida como a melhor cozinheira da região. Ela, por ser bastante famosa na culinária, era convidada para as maiores ocasiões da cidade de Belo Jardim das Orquídeas.

A semana foi bastante movimentada. Todos se empenhavam para que a festa fosse um marco a ser registrado na história do lugar. E, como não poderia ser diferente, um convite especial foi feito ao prefeito que, mesmo sem gostar muito de futebol, mas demagogo como todos os políticos que se prezam, aceitou “in loco” ao convite.

Era chegado o momento tão esperado da grande disputa. O Sítio Cajarana estava muito enfeitado. Era bandeirolas por todos os lados e a entrada do lugar chamava a atenção pelo colorido especial, fruto do cuidadoso trabalho das donzelas locais.

Uma “tribuna de honra” foi preparada para o aniversariante homenageado e para o prefeito e comitiva. Não faltou, é claro, o “solene” e hipócrita discurso do Executivo Municipal. Seu Isidoro, o homenageado, também fez uso da palavra, contando um pouco da história do Sítio Cajarana. Desejou boa sorte aos dois times e ao juiz Cabo Zé, seu afilhado.

Cabo Zé, o escolhido como o mais preparado para apitar a partida, lançou um olhar orgulhoso como quem estivesse chamando a atenção de todos para sua autoridade. Deu um suspiro e, com o longo e estridente apito, deu início à partida. Isso levou os presentes ao delírio.

O jogo foi cheio de emoções e em várias ocasiões arrancavam os aplausos dos presentes. As garotas não conseguiam conter a euforia e não se intimidavam nos momentos de gritarem os nomes dos seus “ídolos”.

Isso provocava os atletas que, ansiosos pela vitória, faziam “das tripas coração”. Vez por outra, a mulher do prefeito dava uma cotovelada nas costelas do marido, para ele se mostrar mais interessado pelo espetáculo.

Tava difícil de sair um gol. Mas tudo mudou quando, já aos 35 minutos do segundo tempo, Zé do Fole, o centro avante do ABC, sentiu-se mal.

Lá de fora, Benedito, um sujeito meio desmantelado, vendo que seu amigo Zé do Fole estava meio tonto, entrou em campo e, sem querer, tropeçou e deu um bicudo na bola, que foi parar no fundo da rede do ABC.

Foi algo inexplicável, que deixou todos sem entender o que estava acontecendo. Um jogador estava passando mal; alguém entrara em campo e, sem querer, chutara a bola; um juiz abria os braços mas ninguém lhe dava a mínima. Que situação!

Indiferentes a tudo, inclusive às gesticulações do árbitro, os torcedores do Clube Bela Alvorada, numa algazarra incomum, misturavam o grito de gol com a frase “É CAMPEÃO… É CAMPEÃO…”

o Juiz Cabo Zé, olhou para o céu e como se estivesse fazendo uma prece a Deus, gritou: - MEU DEUS! SÓ PODIA SER MESMO O BENEDITO!!!

Imediatamente e na tentativa de amenizar a situação, gritou para que todos o ouvissem: - CALMA, GENTE! FOI APENAS UM PETELECO DO BENEDITO! Ele repetiu este apelo pelo menos umas três vezes.

Era tarde demais! Enquanto o massagista Enxadeco retirava o Zé do Fole de campo, o prefeito, na ânsia de sair daquela situação incômoda, puxa o Isidoro pelos braços, levando-o até o meio do campo. Com ele, a primeira-dama e toda a sua comitiva.

Com um sorriso forçado e empunhando o troféu, entrega-o ao jogador Chico de Amadeus, o capitão do Bela Alvorada. Era como se estivesse dizendo: Vamos acabar logo com essa bagunça!

Pra não causar desgosto ao prefeito, todos fingiram estar conformados. Mas, ao contrário, do outro lado um grupo empunhando bandeiras da Associação Bico Calado se embrenhava pelo matagal atrás do Benedito que, sem nada a ver com o jogo, deu o título ao adversário dos seus algozes.

Ah…! Querem saber a causa de tudo? O problema é que Zé do Fole, guloso como ele mesmo, exagerou na cabidela de d. Anastácia e durante a partida foi atingido por uma diarreia que o nocauteou. Daí a entrada surpresa do Benedito em campo que, na pressa de socorrer o amigo e sem querer, deu um bico na bola que….. Bem, o resto todos já sabem!!!

Criado Por Adalberto Pereira (27/10/2023)



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