quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

AINDA NOS RESTA UMA ESPERANÇA

 

                                                   UMA HISTÓRIA A SER CONTADA

Hoje, veio-me à memória os  áureos tempos em que nas escolas e nos colégios, professores orgulhosos contavam-nos a história dos heróis que, em defesa da Pátria, empunhavam fuzis, metralhadoras e canhões, avançando contra inimigos perigosos.

Aqueles heróis, intrêmulos e dispostos a colocar suas vida em defesa dos nossos direitos e da nossa democracia, não temiam os perigos que a guerra lhes proporcionava. Ele sabiam que estavam em defesa da própria família.

Mesmo sem entender muito bem os principais objetivos de tudo aquilo, eu alimentava o sonho de um dia vestir o uniforme do glorioso Exército de Caxias. Queria prestar continência aos destemidos coronéis, majores e capitães, comandantes de respeito e verdadeiros defensores da nossa Pátria.

Os anos passaram e o meu desejo de servir ao Exército aumentava cada vez mais. Meu pai, já convencido de que aquele meu desejo era irreversível, passou a ensinar-me os primeiros movimentos cam as armas. Ele usava uma vassoura para ensinar-me apresentar armas, e outros movimentos militares.

Foi ele quem me ensinou os primeiros movimentos do rastejo. fazendo-me passar por baixo das cadeiras e passar alguns momentos escondido debaixo das camas, como se estivesse aguardando a presença do inimigo. Tudo era cansativo, mas me fazia bem. Eu me achava um soldado de verdade.

Campina Grande. Janeiro de 1959. Batalhão de Serviços de Engenharia - BSvE. Lá estava eu recebendo todo o material que usaria ao longo dos doze meses de caserna. Orgulhoso, optei pelo nome de guerra de CLAUDINO e recebi do tenente a informação de meu número de guerra seria o 216. Antes de mim, somente o Aleixo - 215.

Eu sonhava com uma guerra para mostrar o meu patriotismo. Dediquei-me como se estivesse me preparando para um combate. Não contra frágeis inimigos que atacam com o VERBO e se defendem com o SILÊNCIO. Eu queria ser um verdadeiro herói. Queria ser um grande exemplo para meus pais e minha família.

No salão nos reuníamos para, sob o comando do segundo sargento Paulo, entoarmos os hinos Nacional Brasileiro, da Bandeira, do Soldado e do Exército Brasileiro. Entoado ou não, cada um procurava cantar com muito vigor, como se estivesse a caminho de uma batalha.

Éramos soldados comprometidos com a nossa Pátria, prontos a defendê-la contra a presença de inimigos que tentassem atentar contra a nossa DEMOCRACIA, contra a Soberania Nacional.

O sargento Paulo, meu instrutor, não tirava os olhos de mim. Em todos os movimentos eu procurava ser o melhor. No final de uma cansativa "Ordem Unida", ele perguntou-me como eu sabia de tudo, sendo ainda recruta. E eu, orgulhoso e feliz respondi: meu pai me ensinou tudo direitinho. Ele fora um bom exemplo quando serviu no (15 RI) 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa. Passei a ser o  "guia" do meu pelotão.

No manuseio dos revólveres, das metralhadoras, no lançamento de granadas e no uso de outras armas, eu passei a ser destaque. Fui convocado para fazer parte do pelotão de artilharia, como um dos exímios atiradores. Era o que chamam hoje de "atiradores de elite". Tudo aquilo, fruto do sonho de que um dia eu estaria num campo de batalha, enfrentando poderosos inimigos.

Passei a fazer parte de um pelotão especial, para missões que exigiam de nós, coragem, competência e perfeitos reflexos nos momentos de agir. Era a PE - Patrulha Especial. Eu estava avançando muito rápido, até que um dia, o capitão Braga, comandante da Companhia de Comando e Serviços - CCS, convocou-me para reconhecer a minha ousadia.

O tenente Negri, um descendente de italianos, chefe da Fiscalização Administrativa - F. A., onde eu prestava meus serviços diários, tentou remover de mim a ideia de vivenciar uma guerra. Fez relatos assombrosos e chegou a citar o tenente Passos que, mesmo na ativa, guardava sequelas de uma guerra.

Mas a certeza de que devia me preparar cada vez mais, fazia de mim um soldado teimoso, ousado ou, quem sabe, um maluco em busca de condecorações. Olhava para dentro de mim e via um militar em busca da perfeição. Eu queria fazer de tudo um pouco dentro do quartel. Para isso, eu precisava superar a mim mesmo.

Por conta de tudo isso, conquistei a confiança e a admiração do major Maurício. Quando olhava para mim, seus olhos brilhavam de forma diferente. Era um olhar de respeito e um sorriso de quem via em mim um verdadeiro defensor da Pátria.

Orgulhei-me pelo fato de ter um admirador tão forte dentro do quartel. Isso fez com que o  comando do BSvE me convocasse para o engajamento. não poderia haver felicidade maior. Eu queria ficar eternamente vestindo aquele uniforme verde oliva. Minha mãe não deixou e eu deixei o Exército Brasileiro com lágrimas nos olhos.

Hoje, como quem procura uma agulha num paiol, tendo entender como o nosso Exército mudou de forma radical. Pergunto a mim mesmo: onde estão aqueles homens de coragem? Os verdadeiros "cabras machos", que faziam do nosso Exército uma corporação querida e respeitada? Não encontro respostas para estas e outras indagações.

Até parece uma brincadeira de "faz de conta". Militares que enfrentavam adversários perigosos, armados até os dentes e prontos a matar e morrer, agora agem contra aqueles que atacam com o VERBO e se defendem com o SILÊNCIO. São adversários frágeis que, para enfrentá-los nem precisam de cassetetes. São cidadãos impotentes e que não inspiram perigo algum.

Fico até a pensar como estes militares se sentem diante dos familiares e, principalmente dos filhos, que esperam ver em cada um deles um verdadeiro herói que acaba de vencer inimigos perigosos. Heróis ou frágeis combatentes? Como eles se qualificam? Envergonham-se ou se tornam insensíveis?

Como é triste e irritante vermos um grupo de policiais, armados com fuzis e metralhadoras, colocando algemas nos punhos de um cidadão, cuja arma de defesa é apenas a obrigação de ficar calado! Pergunto a mim mesmo: Será que esses policiais se consideram verdadeiros heróis? Ou não passam de aproveitadores da fragilidade dos indefesos?

Ao comentar com um amigo a situação das nossas Forças Armadas ouvi dele a seguinte expressão: "No Exército, na Marinha e na Aeronáutica ainda temos soldados valentes e prontos para agirem com rigidez em defesa da nossa Pátria. O problema está naqueles que os comandam. Estes são fracos e inoperantes."

Parei de pensar! Impulsionado por um incômodo silêncio, cumprimentei aquele amigo, dei meia volta, como fiz muitas vezes no quartel e tomei o meu destino, magoado por não ter nenhuma chance de mostrar o meu patriotismo. 

Em casa, sentado na minha velha cadeira de descanso, voltei a meditar nas palavras daquele amigo. Os pensamentos eram os mais diversos. Foi aí que lembrei de uma frase pronunciada pelo meu ex-subcomandante major Marcelo: "A hierarquia foi criada para manter a ordem e a disciplina nos quartéis".

Se o tempo mudou o sentido verdadeiro da palavra HIERARQUIA, esta frase tão verdadeira não passe de lembranças de um passado que vale a pena rememorar. E como eu não posso mudar comportamentos, morre aqui, o meu sonho e ontem, sepultado pela realidade de hoje. 

- Por Adalberto Pereira - 


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