A PRIMEIRA VIAGEM
Todos nós temos o que chamamos de "a primeira vez". Eu, por exemplo, nunca esqueci a minha primeira professora, d. Maroca, lá de Abreu e Lima, Dizem até que a mocinha não esquece o primeiro beijo, assim como não esquece do primeiro sutiã. E se isso é verdade, então não quero esquecer as aventuras da minha primeira viagem no ano de 2023.
E a nossa aventura começa na rodoviária do Gama, de onde saímos ao meio-dia e 38 minutos com destino à Marcolândia, no Piauí. Mas o que eu não esperava era que o motorista da Guanabara nos daria o prazer de conhecer um pouco de Brasília. E tudo começou no Recanto das Emas, onde chegamos por volta das 13 horas e 15 minutos.
De lá, fomos até Samambaia, de onde saímos às 13 horas e 30 minutos. O nosso "turismo" prosseguiu com a nossa ida até Taguatinga, de onde saímos pontualmente às 14 horas. Passei a pensar que não chegaríamos nunca à Rodoviária Interestadual de Brasília para nossa viagem até o nosso destino.
Nossa viagem propriamente dita só aconteceu pontualmente às 15 horas. Ufa!!! Depois deste momento de "turismo", finalmente lá estávamos nós, eu e minha esposa Cleide, seguindo nosso destino rumo ao Piauí. Foi uma viagem para se guardar na memória por muitos anos. Daria até para escrever um romance.
Como acontece em todas as viagens terrestres, ali naquele ônibus ninguém conhecia ninguém. Apenas o motorista que, antes de dar partida ao veículo, se dirigia aos passageiros para sua tradicional apresentação, sem esquecer das devidas, mas necessárias advertências.
"Bom dia, senhores! Meu nome é fulano de tal e estarei com os senhores até lugar tal. Para nossa segurança, o uso do cinto é obrigatório; é proibido fumar no interior do veículo, inclusive no banheiro; não é permitido o uso de bebida alcoólica. Boa viagem para todos". Eram estas as recomendações de cada motorista.
E começa a viagem que, independente da minha vontade, tinha suas surpresas a serem apresentadas; umas saudáveis, outras nem tanto. Por volta das 3 e 40 minutos chegamos à Sobradinho e às 4 e 20 já estávamos saindo de Planaltina, para dar sequência a uma viagem de 31 horas.
O choro de uma criança nos chamou a atenção. Era um choro de quem não estava bem de saúde (dizem que o choro de uma criança faminta é diferente de uma criança enferma). Mas como eu não sou pediatra e muito menos nutricionista,, limitei-me a me acostumar com aquele incômodo que duraria até nossa chegada a Oeiras. Calculem o tamanho do sofrimento! Estou falando do meu sofrimento e não no da criança.
Isso me fez lembrar quando eu viajava de Araripina, no Pernambuco, para Juazeiro do Norte, no Ceará, na Viação Pernambucana. Ali, havia uma mistura de seres humanos com galinhas, porcos e até bodes, isso sem falar nas poltronas que se o passageiro se encostasse, caía no colo do passageiro de trás. Era um verdadeiro "Deus nos acuda",
Mas a viagem continua até chegarmos à Formosa de Goiás por volta das 5 e 30 da tarde daquela segunda-feira, dia 2 de janeiro. A viagem continuava bem, devido ao conforto que nos oferecia o ônibus da Viação Guanabara e o profissionalismo dos seus motoristas.
Às 7 e 30 na noite fizemos uma parada um pouco mais demorada em Alvorada do Norte: era a hora do jantar. Tudo sob controle, menos os preços exagerados dos alimentos e sua péssima qualidade. Ao longo da viagem os preços dos refrigerantes variavam entre 8 e 9 reais. Um cafezinho (frio e sem gosto) nos custava a bagatela de 4 reais. Água mineral entre 6 e 8 reais uma garrafa normal. E haja estômago para resistir ao desenfreado desafio.
Nossa saída de Alvorada só aconteceu às 8 e 10 da noite. De repente, o choro daquela criança volta a explodir, ferindo os nossos tímpanos. Só Deus mesmo para colocar diante de nós tamanha provação. Era preciso muita paciência e a esperança de que tudo aquilo tivesse limite. Esperança pedida. Mas a viagem não poderia parar só para me satisfazer. Afinal, os pais pagaram o mesmo valor que eu e minha esposa pagamos.
Eram 11 e 15 da noite quando chegamos a uma cidade chamada Roda Velho (não me perguntem o porquê do nome) e saímos por volta das 11 e 20. Muitos já estavam dormindo, inclusive minha esposa, que dorme o tempo todo. Eu não viajo dormindo e nem durmo viajando. Mas ao meu lado um rapaz passageiro da poltrona 14, conseguia jogar baralho com o filho.
Finalmente as monótonas aventuras do dia 2 se encerravam, dando lugar a outros fatos que marcariam o dia seguinte. E assim, chegamos em Luiz Eduardo de onde saímos por volta da meia-noite e 23 minutos, depois da manutenção do veículo. Nossa chegada à Barreiras girou em torno das 2 horas e 05 minutos. De lá, saímos por volta das 2 e 20 da madrugada.
E lá vamos nós cortando estradas até chegarmos em Formosa do Rio Preto às quatro e meia da manhã. É então que acontece o inesperado: o passageiro da poltrona 14, de joelhos e com a lanterna do celular do filho iluminava o ambiente à procura do seu celular, que havia desaparecido de forma misteriosa. A procura foi longa e foi feita por várias vezes.
De repente, ouve-se um relato meio incômodo, vindo do mesmo passageiro da poltrona 14: ele anunciava que seu celular havia sido roubado. A notícia pegou a todos de surpresa, uma surpresa desagradável. O fato foi comunicado ao motorista que, de imediato comunicou à empresa. E como havia câmeras no interior do ônibus, esperava-se que tudo fosse esclarecido.
Mas, apesar do clima de tensão, a viagem continuou sem nenhum outro fato que viesse tirar a calma dos passageiros. O relógio marcava 6 horas quando chegamos em Correntes. Seguimos viagem e eram 7 horas e 3 minutos quando chegamos na cidade de Gilbués. Mas o passageiro da poltrona 14 não desistia de procurar o seu celular.
Às 9 horas e 27 minutos chegamos a uma cidade chamada Redenção, onde a demora não foi além dos cinco minutos. Em Bom Jesus, chegamos às 10 horas e 22 minutos. Procurei saber do cidadão como acontecera o desaparecimento do celular e ele disse que o seu filho havia adormecido e o celular caiu do seu colo. Segundo ele, isso teria acontecido por volta das duas horas da madrugada do segundo dia de viagem.
Depois disso, seguimos nossa viagem até chegarmos à Cristino Castro. Nesse momento o relógio marcava 11 horas e 02 minutos. Mas o incômodo provocado pelo choro daquela criança continuava "ferindo" os nossos tímpanos, Que coisa insuportável, meu Deus! Mas fazer o quê? Era esperar a chegada ao nosso destino.
A cada minuto que passava, nossa esperança em relação à nossa chegada se renovava. Senti um certo alívio quando o ônibus parou e o motorista anunciou nossa chegada a Cristino Castro. Eram 13 horas e a alegria foi imensa quando o motorista anunciou que tínhamos 30 minutos para o almoço.
É lamentável a maneira como as pessoas tratam aqueles que se propõem a ajudá-las. Um hotel que recebe diariamente viajantes de várias partes do nordeste deveria, no mínimo, cuidar melhor dos seus banheiros e estar atento na reposição dos alimentos. Já é demais a péssima qualidade e o alto preço do que nos oferecem.
Mas já que não somos capazes de mudar comportamentos, resta-nos apenas ouvir o motorista anunciar a próxima cidade. E assim chegamos ao Canto do Buriti às 14 horas e 20 minutos. Até aí, nenhuma novidade. Ninguém desceu e ninguém subiu, mas o nosso passageiro da poltrona 14 vez por outra tentava encontrar seu celular. Era a esperança de alcançar um milagre.
Eram 15 horas e 20 minutos quando chegamos a uma cidade chamada Itaueira. E lá vem aquele garotinho quebrar a tranquilidade com um grito de quem estava sendo atacado por uma dor insuportável. Foi aí que cheguei para o motorista e perguntei o tempo que gastaríamos até chegar em Floriano. Ele respondeu que seria em menos de uma hora.
Olhei para o alto e dei graças a Deus por estarmos mais perto de Picos, onde chegaríamos, segundo o motorista, por volta das oito e meia da noite. Usei a matemática e fiquei sabendo que ainda nos restavam pouco mais de três horas.
Dei um cochilo, o que é uma raridade nas minhas viagens, e fui despertado ´pelo "despertadorzinho" lá de trás. E lá vem outra crise do garotinho. Até parecia ser de propósito. O ônibus continuava cortando a rodovia, alisando seus pneus na vasta e escura pista. Foi aí que ouvi o motorista anunciar que estávamos em Floriano, Olhei no relógio e vi que eram 16 horas e 58 minutos (que tal arredondar?)
Ôpa!!! Gritei para mim mesmo! Agora só faltam três horas e meia! Era só ter um pouquinho mais de paciência. Ora, depois de mais de 25 horas de viagem, com roubo de celular, choro de criança e comida de péssima qualidade, o que representava 3 horas e mais ou a menos? Era só uma questão de tolerância.
Quando o relógio marcou 19 horas o ônibus fazia sua penúltima parada. Ali estávamos nós em Oeiras, a primeira Capital do Piauí. Veio então o meu grito de ALELUIA!!! A mamãe da criança chorona descia desejando a todos um feliz final de viagem. Eu nunca pronunciei um "muito obrigado" com tanta ênfase! Ali ficaria também o passageiro da poltrona 14, com certeza entristecido por ter que comprar outro celular.
Bem! Agora era chegado o momento de esquecer o que houve de negativo, dar Graças a Deus e esperar que meus cunhados aparecessem para nos levar até Marcolândia. Finalmente chegamos à Rodoviária de Picos. Eram 20 horas e 30 minutos. Um longo e delicioso suspiro de alívio explodiu das minha narinas.
Finalmente, uns vinte minutos depois, um sorriso de felicidade brota dos nossos lábios com a chegada do Cláudio e seu filho Claudio Henrique que nos conduziriam até Marcolândia, onde permaneceremos até o dia 10, uma terça-feira, quando iniciaremos nossa viagem de volta à Brasília.
Mas eu não finalizaria este relato sem registrar a alegria das pessoas que ainda nos esperavam, permanecendo acordadas até às 10 horas da noite. Ali estavam meu sogro, minha sogra, duas cunhadas, meu cunhado Adriano, sua esposa e sua filha. Depois de muitas conversas, um leve lanche e uma deliciosa cama para vencer o cansaço.
Se Deus me der coragem, tentarei fazer um novo relato da viagem de volta. Isto é... se tivermos fatos interessantes. Pelo menos o título já está pronto: O RETORNO.
- Por Adalberto Pereira -
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