quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O QUEIJO DOS SONHOS - O PADRE, O SACRISTÃO E O CARREGADOR!


                          O QUEIJO DOS SONHOS

          Houve um tempo em que, no Nordeste os padres eram os conselheiros das famílias. Quando surgiam problemas com os filhos, o padre era chamado para resolver a situação. Quando o lugar era distante, os padres sempre tinham a companhia do sacristão e de um “carregador” que levava as bagagens.
      Além das visitas programadas, os sacerdotes sempre realizavam visitas às famílias residentes nos mais distantes lugarejos. Era um sacrifício enfrentar a poeira e as estradas acidentadas pelos buracos e pedregulhos. Isso sem falar nas possíveis cobras encontradas  pelos caminhos.
          E foi em uma dessas viagens “missionárias” que o padre Arnóbio, o sacristão Valdivino e o “carregador” Moreci acabaram se perdendo no meio do matagal. Muito religioso, o Valdivino olhava para o céu e se benzia, como se estivesse implorando a orientação Divina.
         As horas iam passando e o sol desaparecia por entre as árvores, deixando o trio cada vez mais apavorado. Moreci, sentindo o peso da bagagem do padre, passava a mão no rosto, limpando o suor que lhe escorria testa abaixo, levando aquele líquido salgado até os seus lábios grossos e já ressecados.
          Enfim, o grito do Valdivino chamou a atenção do padre e do Sacristão:
          - Vejam!!! Lá na frente!!! Parece ser uma casa!
          Um sorriso brotou nos lábios do sacerdote, acompanhado de um murmúrio de alívio:
          - Graças a Deus!!!
      Depois de meia hora de caminhada, chegaram a uma casinha iluminada pela luz de um candeeiro. O padre Arnóbio bateu palmas, falando meio desconfiado:
          - Ô de casa!!! Não se assustem! É o padre Arnóbio!
      No corredor aparece uma mulher que olha como se estivesse querendo descobrir quem estava à porta. Ao ver o padre, virou a cabeça para trás e gritou:
          - Corre aqui, Néco!!! É um padre e dois homi!
     Ao ver o vigário, Manoel  Salustiano abriu a porta e mandou que os três entrassem. Imediatamente, sabendo que eles estavam cansados e com sede, mandou que d. Quitéria trouxesse água e café para os visitantes.
         Conversa vai, conversa vem, seu Néco mandou que os três se alojassem num galpão ao lado da casa, colocando três redes e cobertores. Como já passava das 8 da noite, a única saída era levar um queijo de manteiga que tinham guardado na despensa.
       Eufórico, o sacristão partiu para o queijo, mas o padre disse que iriam descansar primeiro e tirar um cochilo. Quem tivesse o sonho mais bonito comeria o queijo. Para Moreci, aquilo seria uma covardia, já que o sonho do padre, com certeza seria o mais bonito. Mas quem era ele para ir de encontro a ordem do homem de Deus?
      Todos se deitaram e, passado algum tempo, o padre acordou e contou o seu sonho:
          - Eu sonhei que enquanto vocês dormiam, eu caminhava por uma estrada bastante florida. De repente, o céu se abre e dois anjos descem de braços abertos e me levam para o céu, enquanto outros  tocam suas trombetas. O céu se fecha e eu sou conduzido para um encontro com Deus.
        Todos ficam impressionados com a história do vigário. Pela ordem hierárquica, chega a vez do sacristão contar o seu sonho:
         - Eu sonhei que o Padre ia por uma estrada bastante florida. De repente, o céu se abria e dois anjos desciam de braços abertos e levavam o padre Arnóbio para o céu, enquanto outros tocavam suas trombetas. De repente surgiram mais dois anjos e me levaram com eles. Foi quando o céu se fechou e fomos levados à presença de Deus.
          O padre Arnóbio ainda tentou contestar, dizendo que era o mesmo sonho, mas convencido pelo sacristão de que havia uma certa diferença. Era chegada a vez do Moreci, o carregador das bagagens do vigário:
         - O meu sonho foi muito parecido com o de vocês! Eu sonhei que o padre e o sacristão iam por uma estrada bastante florida quando, de repente  o céu se abriu, quatro anjos desceram e pegaram o padre e o sacristão e os levaram para o céu, enquanto outros tocavam suas trombetas. De repente o céu se fechou. Eu fiquei esperando e como os dois não voltaram, eu comi o queijo!
          A moral da história fica por conta de cada leitor! Façam bom proveito!

Por Adalberto Pereira.

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