O QUEIJO DOS SONHOS
Houve
um tempo em que, no Nordeste os padres eram os conselheiros das famílias. Quando
surgiam problemas com os filhos, o padre era chamado para resolver a situação.
Quando o lugar era distante, os padres sempre tinham a companhia do sacristão e
de um “carregador” que levava as bagagens.
Além
das visitas programadas, os sacerdotes sempre realizavam visitas às famílias
residentes nos mais distantes lugarejos. Era um sacrifício enfrentar a poeira e
as estradas acidentadas pelos buracos e pedregulhos. Isso sem falar nas possíveis
cobras encontradas pelos caminhos.
E foi em uma dessas viagens “missionárias”
que o padre Arnóbio, o sacristão Valdivino e o “carregador” Moreci acabaram se
perdendo no meio do matagal. Muito religioso, o Valdivino olhava para o céu e
se benzia, como se estivesse implorando a orientação Divina.
As
horas iam passando e o sol desaparecia por entre as árvores, deixando o trio
cada vez mais apavorado. Moreci, sentindo o peso da bagagem do padre, passava a
mão no rosto, limpando o suor que lhe escorria testa abaixo, levando aquele
líquido salgado até os seus lábios grossos e já ressecados.
Enfim,
o grito do Valdivino chamou a atenção do padre e do Sacristão:
-
Vejam!!! Lá na frente!!! Parece ser uma casa!
Um
sorriso brotou nos lábios do sacerdote, acompanhado de um murmúrio de alívio:
-
Graças a Deus!!!
Depois
de meia hora de caminhada, chegaram a uma casinha iluminada pela luz de um candeeiro.
O padre Arnóbio bateu palmas, falando meio desconfiado:
- Ô de
casa!!! Não se assustem! É o padre Arnóbio!
No
corredor aparece uma mulher que olha como se estivesse querendo descobrir quem
estava à porta. Ao ver o padre, virou a cabeça para trás e gritou:
-
Corre aqui, Néco!!! É um padre e dois homi!
Ao ver
o vigário, Manoel Salustiano abriu a
porta e mandou que os três entrassem. Imediatamente, sabendo que eles estavam
cansados e com sede, mandou que d. Quitéria trouxesse água e café para os
visitantes.
Conversa vai, conversa vem, seu Néco mandou que os três se alojassem num
galpão ao lado da casa, colocando três redes e cobertores. Como já passava das
8 da noite, a única saída era levar um queijo de manteiga que tinham guardado
na despensa.
Eufórico, o sacristão partiu para o queijo, mas o padre disse que iriam
descansar primeiro e tirar um cochilo. Quem tivesse o sonho mais bonito comeria
o queijo. Para Moreci, aquilo seria uma covardia, já que o sonho do padre, com
certeza seria o mais bonito. Mas quem era ele para ir de encontro a ordem do
homem de Deus?
Todos
se deitaram e, passado algum tempo, o padre acordou e contou o seu sonho:
- Eu
sonhei que enquanto vocês dormiam, eu caminhava por uma estrada bastante
florida. De repente, o céu se abre e dois anjos descem de braços abertos e me
levam para o céu, enquanto outros tocam
suas trombetas. O céu se fecha e eu sou conduzido para um encontro com Deus.
Todos
ficam impressionados com a história do vigário. Pela ordem hierárquica, chega a
vez do sacristão contar o seu sonho:
- Eu
sonhei que o Padre ia por uma estrada bastante florida. De repente, o céu se
abria e dois anjos desciam de braços abertos e levavam o padre Arnóbio para o céu,
enquanto outros tocavam suas trombetas. De repente surgiram mais dois anjos e me
levaram com eles. Foi quando o céu se fechou e fomos levados à presença de Deus.
O padre Arnóbio ainda tentou contestar, dizendo
que era o mesmo sonho, mas convencido pelo sacristão de que havia uma certa diferença.
Era chegada a vez do Moreci, o carregador das bagagens do vigário:
- O meu sonho foi muito parecido com o de vocês!
Eu sonhei que o padre e o sacristão iam por uma estrada bastante florida quando,
de repente o céu se abriu, quatro anjos desceram
e pegaram o padre e o sacristão e os levaram para o céu, enquanto outros tocavam
suas trombetas. De repente o céu se fechou. Eu fiquei esperando e como os dois não
voltaram, eu comi o queijo!
A moral da história fica por conta de cada leitor!
Façam bom proveito!
Por Adalberto Pereira.
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