quinta-feira, 27 de junho de 2019

EDITORIAL DA VIDA


                           CHORAR FAZ PARTE DO SENTIMENTO HUMANO 

É natural ouvirmos alguém dizer que homem que é homem não chora. Esse pensamento, criado não sei por quem, fez-me refletir sobre a necessidade ou não de chorar. Mas aí vem um estudo bem mais profundo sobre a seguinte premissa: “homem que é homem não chora; eu sou homem, logo, não devo chorar”. Nesse caso, o chorar é um sentimento único e exclusivo das mulheres? Assim sendo, mulher que não chora, não é mulher. Meu Deus! Que confusão! Afinal, qual é a premissa verdadeira?

Eu fazia o segundo ano científico no Colégio Estadual Pedro Aleixo e acabara de fazer uma prova de Biologia que, diga-se de passagem, não fora nada fácil. Ao cruzar a quadra de esportes do colégio, vi sentado em um dos degraus da arquibancada, um colega que não fizera a prova. Notei que ele chorava. Fui até ele e procurei saber o motivo daqueles prantos silenciosos. Entre soluços, o colega me disse que, por ter chegado atrasado cinco minutos, foi impedido de fazer a bendita prova.

A certeza de receber um “zero” o levara ao desespero. Eu achei ridículo o comportamento do colega. Ora! Eu que aprendera com meu pai que “cabra macho” não chorava. E meu pai, um paraibano de Santa Rita, sempre tinha razão. Saí do colégio meio entristecido com a situação do amigo, mas perguntava a mim mesmo: por que chorar, se aquela atitude frágil não resolveria o problema e se as lágrimas por ele derramadas não transformariam o trágico e indesejável “zero” em um bendito “dez”?

Bem! Pensei! Isso é lá com ele! Mas o choro tem suas particularidades. Ele é meio afoito, chegando a se fazer presente ao mesmo tempo, em situações bastante adversas. Numa partida decisiva de um campeonato estadual de futebol, vi chorar os vitoriosos e os derrotados. Aqueles, derramando lágrimas de felicidade pelo título conquistado. Estes, exteriorizando sentimentos de profunda tristeza. E, como nenhum deles, era o time de minha preferência, deu para refletir com mais profundidade a afoiteza do choro em situações bem distintas.

Se eu dissesse que o choro é perverso e amoroso, fazendo bem em alguns momentos e fazendo mal em outros, com certeza estaria levando você a pensar em várias hipóteses. Mas não devemos nos afastar de uma outra realidade: a de que o choro pode ser ainda uma consequência do remorso. Diante de um corpo inerte, uma viúva chorava a perda do seu bem amado. Do lado de fora, alguém menos discreto, comentava com um amigo mais íntimo: são lágrimas de remorso, por não tê-lo tratado em vida como ele merecia.

Quem nunca ouviu alguém falar em “Lágrimas de Crocodilo”? São aquelas lágrimas falsas, fingidas, mentirosas, fabricadas para o momento oportuno. São lágrimas que procedem de qualquer lugar, menos do coração. Essas lágrimas não sensibilizam e nem causam efeitos contagiantes. Elas não afetam os sentimentos.

Mas o choro nos surpreende mais ainda quando provoca um choque psicológico. É aquele momento em que uma pessoa chega para nós e diz que ouviu uma anedota tão engraçada que chorou de tanto  rir. Aí o choro passa a ser um elemento paradoxal. Refletir sobre os princípios que nos levam a chorar, pode não ser algo de tão grande significância.

Alguém pode até querer solucionar o problema com a seguinte conclusão: Quer chorar? Basta chorar e pronto! Assim ficaria bem mais simples. Mas, apesar de nos parecer tão simples, refletir sobre esse sentimento de tão variáveis circunstâncias, passa a ser tão importante, quanto a necessidade de controlar as nossas emoções.

Há pessoas que ficam tão deprimidas pelas lágrimas derramadas, que chegam a ser aconselhadas a optarem por um tratamento psicológico. E a simplicidade se transforma numa preocupante complexidade. Nós choramos ao nascer e, por uma circunstância do destino, continuamos chorando, até mesmo no silêncio das noites ou das madrugadas para que os nossos prantos não sejam vistos.

Choramos diante das perversidades daqueles que desrespeitam os nossos direitos individuais e coletivos; choramos diante dos corruptos que se aproveitam da nossa fragilidade para lançarem mãos do que conquistamos com tanto sacrifício. Choramos diante da impunidade dos que ceifam vidas, como se isto fosse a coisa mais natural do mundo; choramos sim! Choram os fortes e choram os fracos.

Eu concluiria dizendo que o pensamento de meu pai de que “cabra macho” não chora, não conseguiu surtir um efeito tão profundo em mim. Quantas vezes eu tenho chorado, influenciado pelas minhas tão variadas emoções! Hoje, com toda convicção, eu afirmo que homem que é homem chora, sim! Quem tem coração chora! Por duas vezes Jesus Cristo chorou: uma, diante do túmulo do seu amigo Lázaro; em outra ocasião diante da rebelde Jerusalém. Quem tem coração chora; só não choram os desprovidos de sentimentos.

(Por Adalberto Pereira)

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