CHORAR FAZ PARTE DO
SENTIMENTO HUMANO
É natural ouvirmos alguém
dizer que homem que é homem não chora. Esse pensamento, criado não sei por
quem, fez-me refletir sobre a necessidade ou não de chorar. Mas aí vem um
estudo bem mais profundo sobre a seguinte premissa: “homem que é homem não
chora; eu sou homem, logo, não devo chorar”. Nesse caso, o chorar é um
sentimento único e exclusivo das mulheres? Assim sendo, mulher que não chora,
não é mulher. Meu Deus! Que confusão! Afinal, qual é a premissa verdadeira?
Eu fazia o segundo ano
científico no Colégio Estadual Pedro Aleixo e acabara de fazer uma prova de
Biologia que, diga-se de passagem, não fora nada fácil. Ao cruzar a quadra de
esportes do colégio, vi sentado em um dos degraus da arquibancada, um colega
que não fizera a prova. Notei que ele chorava. Fui até ele e procurei saber o
motivo daqueles prantos silenciosos. Entre soluços, o colega me disse que, por
ter chegado atrasado cinco minutos, foi impedido de fazer a bendita prova.
A certeza de receber um
“zero” o levara ao desespero. Eu achei ridículo o comportamento do colega. Ora!
Eu que aprendera com meu pai que “cabra macho” não chorava. E meu pai, um
paraibano de Santa Rita, sempre tinha razão. Saí do colégio meio entristecido
com a situação do amigo, mas perguntava a mim mesmo: por que chorar, se aquela
atitude frágil não resolveria o problema e se as lágrimas por ele derramadas
não transformariam o trágico e indesejável “zero” em um bendito “dez”?
Bem! Pensei! Isso é lá com
ele! Mas o choro tem suas particularidades. Ele é meio afoito, chegando a se
fazer presente ao mesmo tempo, em situações bastante adversas. Numa partida
decisiva de um campeonato estadual de futebol, vi chorar os vitoriosos e os
derrotados. Aqueles, derramando lágrimas de felicidade pelo título conquistado.
Estes, exteriorizando sentimentos de profunda tristeza. E, como nenhum deles,
era o time de minha preferência, deu para refletir com mais profundidade a
afoiteza do choro em situações bem distintas.
Se eu dissesse que o choro é
perverso e amoroso, fazendo bem em alguns momentos e fazendo mal em outros, com
certeza estaria levando você a pensar em várias hipóteses. Mas não devemos nos
afastar de uma outra realidade: a de que o choro pode ser ainda uma
consequência do remorso. Diante de um corpo inerte, uma viúva chorava a perda
do seu bem amado. Do lado de fora, alguém menos discreto, comentava com um
amigo mais íntimo: são lágrimas de remorso, por não tê-lo tratado em vida como
ele merecia.
Quem nunca ouviu alguém
falar em “Lágrimas de Crocodilo”? São aquelas lágrimas falsas, fingidas,
mentirosas, fabricadas para o momento oportuno. São lágrimas que procedem de
qualquer lugar, menos do coração. Essas lágrimas não sensibilizam e nem causam
efeitos contagiantes. Elas não afetam os sentimentos.
Mas o choro nos surpreende
mais ainda quando provoca um choque psicológico. É aquele momento em que uma
pessoa chega para nós e diz que ouviu uma anedota tão engraçada que chorou de
tanto rir. Aí o choro passa a ser um
elemento paradoxal. Refletir sobre os princípios que nos levam a chorar, pode
não ser algo de tão grande significância.
Alguém pode até querer
solucionar o problema com a seguinte conclusão: Quer chorar? Basta chorar e
pronto! Assim ficaria bem mais simples. Mas, apesar de nos parecer tão simples,
refletir sobre esse sentimento de tão variáveis circunstâncias, passa a ser tão
importante, quanto a necessidade de controlar as nossas emoções.
Há pessoas que ficam tão
deprimidas pelas lágrimas derramadas, que chegam a ser aconselhadas a optarem
por um tratamento psicológico. E a simplicidade se transforma numa preocupante
complexidade. Nós choramos ao nascer e, por uma circunstância do destino,
continuamos chorando, até mesmo no silêncio das noites ou das madrugadas para
que os nossos prantos não sejam vistos.
Choramos diante das
perversidades daqueles que desrespeitam os nossos direitos individuais e
coletivos; choramos diante dos corruptos que se aproveitam da nossa fragilidade
para lançarem mãos do que conquistamos com tanto sacrifício. Choramos diante da
impunidade dos que ceifam vidas, como se isto fosse a coisa mais natural do
mundo; choramos sim! Choram os fortes e choram os fracos.
Eu concluiria dizendo que o
pensamento de meu pai de que “cabra macho” não chora, não conseguiu surtir um
efeito tão profundo em mim. Quantas vezes eu tenho chorado, influenciado pelas
minhas tão variadas emoções! Hoje, com toda convicção, eu afirmo que homem que
é homem chora, sim! Quem tem coração chora! Por duas vezes Jesus Cristo chorou:
uma, diante do túmulo do seu amigo Lázaro; em outra ocasião diante da rebelde
Jerusalém. Quem tem coração chora; só não choram os desprovidos de sentimentos.
(Por Adalberto Pereira)
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