sexta-feira, 28 de junho de 2019

LEMBRANÇAS DE TIMBÓ


                   MEU TEMPO DE CRIANÇA EM TIMBÓ
                                          I
Eu começo em Recife, a capital, conhecida a Veneza brasileira,
Amorosa e bastante hospitaleira, um lugar de beleza natural;
Seu cardápio é muito especial, mugunzá e caldo de mocotó,
Caranguejos pendurados no cipó e meu pai chupando cana caiana
Eu achava tudo aquilo bem bacana;  tempo bom  que passei lá em Timbó.
                                               II
Quando ia ao mercado São José, pai comprava caranguejo e camarão;
Um menino se arrastava pelo chão, nos mostrando que vivia pela fé;
Isso mostra a pobreza como é, muita gente é pobre que dá dó.
Sem direito a gravata e paletó, ele anda esquecido pelas ruas,
Com as partes do corpo seminuas, também vi no meu tempo em Timbó.
                                                 III
Lá em casa tudo era diferente: no terreiro da casa em que morava,
Meu cachorro com seus pulos me animava. Me deitava com ele no batente
Balançava o rabo de contente. No quintal nosso galo carijó
Engrossava as veias do gogó e cantava uma linda melodia
Era assim que mostrava todo dia, como era o meu tempo em Timbó.
                                               IV
Mãe fazia tapioca e beiju pro café da primeira refeição.
Tinha leite, bolacha, bolo e pão; o chá mate e o suco de caju,
Completavam a lista do menu, a coalhada e o pirão com mocotó,
 É por isso que o vovô e a vovó não saiam lá de dentro da cozinha
 Onde tinha água fria da quartinha, pra marcar minha infância em Timbó.
                                                V
Na dispensa o meu pai tinha guardado, ferramentas de toda natureza;
Ele usava todas elas com destreza, manejava o trator e o arado,
Cinco horas já estava acordado, pois gostava de sair e ficar só,
Como moça que prefere o caritó. Há dez metros distantes do terreiro;
Vi crescer um frondoso cajueiro que me traz a lembrança de Timbó.
                                               VI
Bem no pé da ladeira esburacada, existia um enorme cacimbão,
Mais na frente um velho casarão, e a capela que era muito visitada,
Era bom passear pela calçada e ouvir o cantar do curió;
Um facão para cortar o cipó, que cobria o caminho do riacho,
Fui criado pra ser um cabra macho como foi o meu pai lá em Timbó.
                                           VII
A fartura era nossa companheira, quase tudo produzido no roçado.
O plantio era muito bem tratado, tinha milho, mandioca e macaxeira,
E a batata que era coisa de primeira. Era o tempo do vovô e da vovó,
E da titia que ficou no caritó. Hoje eu lembro coisas boas do passado,
Um país de um povo respeitado era assim que eu vivia em Timbó.
                                          VIII
É apenas uma parte das lembranças de alguém que nasceu em Maricota,
Tempo em que cara feia era marmota e os pais ensinavam às crianças
O amor e o respeito como heranças. Ao lembrar o passado tenho dó
De  quem vive um presente sempre só. Fico triste quando vejo tanta gente  
Sem direito a uma vida mais decente, como a vida que eu tive em Timbó.

(Por Adalberto Pereira)

OBS.: TIMBÓ era uma localidade de Abreu e Lima, conhecida popularmente como Maricota, então Distrito de Paulista – Pernambuco. (Hoje, Abreu e Lima é uma das cidades mais lindas do Estado). Lá existia a Usina Timbó. Tinha também a chamada Rua Azul, onde residia a maioria dos operários da usina. Foi nesta rua onde eu nasci, às 23h:30 do dia 22 de novembro de 1941.
                                        -o-o-o-o-o-o-o-

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