MEU TEMPO DE CRIANÇA EM
TIMBÓ
I
Eu começo em Recife, a
capital, conhecida a Veneza brasileira,
Amorosa e bastante
hospitaleira, um lugar de beleza natural;
Seu cardápio é muito especial,
mugunzá e caldo de mocotó,
Caranguejos pendurados no
cipó e meu pai chupando cana caiana
Eu achava tudo aquilo bem
bacana; tempo bom que passei lá em Timbó.
II
Quando ia ao mercado São
José, pai comprava caranguejo e camarão;
Um menino se arrastava pelo
chão, nos mostrando que vivia pela fé;
Isso mostra a pobreza como é,
muita gente é pobre que dá dó.
Sem direito a gravata e paletó,
ele anda esquecido pelas ruas,
Com as partes do corpo
seminuas, também vi no meu tempo em Timbó.
III
Lá em casa tudo era
diferente: no terreiro da casa em que morava,
Meu cachorro com seus pulos
me animava. Me deitava com ele no batente
Balançava o rabo de contente.
No quintal nosso galo carijó
Engrossava as veias do gogó
e cantava uma linda melodia
Era assim que mostrava todo
dia, como era o meu tempo em Timbó.
IV
Mãe fazia tapioca e beiju
pro café da primeira refeição.
Tinha leite, bolacha, bolo e
pão; o chá mate e o suco de caju,
Completavam a lista do menu,
a coalhada e o pirão com mocotó,
É por isso que o vovô e a vovó não saiam lá de
dentro da cozinha
Onde tinha água fria da quartinha, pra marcar
minha infância em Timbó.
V
Na dispensa o meu pai tinha
guardado, ferramentas de toda natureza;
Ele usava todas elas com
destreza, manejava o trator e o arado,
Cinco horas já estava
acordado, pois gostava de sair e ficar só,
Como moça que prefere o
caritó. Há dez metros distantes do terreiro;
Vi crescer um frondoso
cajueiro que me traz a lembrança de Timbó.
VI
Bem no pé da ladeira
esburacada, existia um enorme cacimbão,
Mais na frente um velho
casarão, e a capela que era muito visitada,
Era bom passear pela calçada
e ouvir o cantar do curió;
Um facão para cortar o cipó,
que cobria o caminho do riacho,
Fui criado pra ser um cabra macho
como foi o meu pai lá em Timbó.
VII
A fartura era nossa
companheira, quase tudo produzido no roçado.
O plantio era muito bem
tratado, tinha milho, mandioca e macaxeira,
E a batata que era coisa de
primeira. Era o tempo do vovô e da vovó,
E da titia que ficou no
caritó. Hoje eu lembro coisas boas do passado,
Um país de um povo respeitado
era assim que eu vivia em Timbó.
VIII
É apenas uma parte das
lembranças de alguém que nasceu em Maricota,
Tempo em que cara feia era
marmota e os pais ensinavam às crianças
O amor e o respeito como
heranças. Ao lembrar o passado tenho dó
De quem vive um presente sempre só. Fico triste
quando vejo tanta gente
Sem direito a uma vida mais
decente, como a vida que eu tive em Timbó.
(Por Adalberto Pereira)
OBS.: TIMBÓ era uma
localidade de Abreu e Lima, conhecida popularmente como Maricota, então
Distrito de Paulista – Pernambuco. (Hoje, Abreu e Lima é uma das cidades mais
lindas do Estado). Lá existia a Usina Timbó. Tinha também a chamada Rua Azul,
onde residia a maioria dos operários da usina. Foi nesta rua onde eu nasci, às
23h:30 do dia 22 de novembro de 1941.
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