QUE PAPAI NOEL É ESSE?
(Por Adalberto Pereira)
Seu Jerônimo era um
trabalhador que fazia “das tripas coração” para sustentar a família de cinco
pessoas: ele, a mulher, d. Quitéria, e os três filhos, todos de menor idade.
Era a vida sofredora de quem vive à custa de um salário que mal dá para manter
uma família de forma digna. Na sua simplicidade e no exercício de sua função de
auxiliar de serviços, era muito querido pelo chefe do seu setor.
Em se tratando da época
natalina, todos os anos, era a mesma história: sempre faltava um “trocadinho”
para dar os presentes de Natal para os filhos de 9, 10 e 11 anos. Para o casal,
aquela data era algo que não deveria existir. E as coisas pioravam quando viam
crianças mais afortunadas recebendo do “Papai Noel”, lindos presentes.
Na escola, Jurandir, um dos
filhos de seu Jerônimo ouviu uma conversa entre dois colegas, na qual eles
comentavam sobre Papai Noel. Os dois diziam que na noite de Natal colocariam
seus sapatos na janela, para o “bom velhinho” e que já haviam mandado uma carta
dizendo qual o presente desejado. Era o que os pais falavam aos filhos, na
ânsia de provocarem neles uma ansiedade, cujo resultado era confiar em algo
fictício.
Empolgado com o que ouvira
dos colegas, Jurandir chegou em casa com um sorriso ingênuo nos olhos. Correu
até a cozinha onde d. Quitéria preparava o almoço. Olhou para a mãe, deu um
longo suspiro e com um brilho de felicidade nos olhos, falou:
- Mãe! Na noite de Natal eu
vou colocar meus sapatinhos na janela pra Papai Noel colocar o meu presente de
Natal! Mas a senhora precisa fazer uma carta pra ele, dizendo o presente que eu
quero.
D. Quitéria, com os olhos
lacrimejantes, esfregou as mãos no avental, abraçou o filho e, escondendo as
lágrimas murmurou: - Meu filhinho! Quando o pai chegar, eu vou conversar com
ele! Tá bom?
Os outros irmãos, tão
ingênuos quanto o Jurandir, e ouvindo tudo aquilo aproveitaram pra gritar em
voz uníssona, enquanto se afastavam pulando de alegria: - E os nossos também!
Viu, mãe?
A conversa entre d. Quitéria
e seu Jerônimo foi bastante emocionante. Abraçados, marido e mulher não sabiam
o que fazer para satisfazer a ansiedade dos filhos. Dizer para eles que Papai
Noel não passa de uma ilusão, seria sepultar todas as esperanças das ingênuas
crianças. Era uma situação bastante constrangedora. Mas o sonho daquelas
crianças era tão contagiante que fazer o contrário seria provocar uma tortura
emocional.
Os dias passaram! Seu
Jerônimo chega em casa bastante animado e diz para a mulher que o seu chefe vai
promover um encontro entre os funcionários da empresa. A confraternização seria
na noite de Natal e que todos deveriam levar seus filhos. Eles seriam
contemplados com um presente de Papai Noel. Que felicidade! Finalmente, as
crianças realizariam seu sonho sem precisar colocar os sapatinhos na janela.
NOITE DE NATAL! 25 de
dezembro! Uma grande árvore de Natal se destacava no centro da sala
cuidadosamente preparada. Ao redor da árvore, os presentes, dos mais simples
aos mais sofisticados. Estes já tinham endereços certos: os filhos dos funcionários
mais laureados. Os outros, para os mais simples, ou porque não dizer “menos
importantes”?
Todos se serviram à vontade!
As comidas eram das mais diversificadas! As bebidas eram bem variadas, da
cachaça ao whisky. Mas para as crianças de d. Quitéria, os olhos não se
afastavam um segundo dos presentes bem empacotados à espera dos seus
destinatários. Finalmente, o Sr. Alfredo Guimarães, Gerente da empresa,
anunciou:
- Bem amigos aqui presentes!
Já comemos, já bebemos e até muitas dançaram! Mas agora chegou o momento das
nossas crianças! Que entre o nosso PAPAI NOEL! Nesse momento, uma porta se abre
e lá aparece o “Bom Velhinho”, contratado pela empresa. Nem precisa dizer o
tamanho da felicidade dos filhos de seu Jerônimo e d. Quitéria. Ali estava bem
diante deles, o tão sonhado e esperado Papai Noel!
Uma por uma as crianças eram
chamadas. Como não poderia ser diferente, os primeiros foram os filhos do
Gerente que receberam, cada um, uma bicicleta.
A filha da tesoureira, recebeu uma boneca que chorava e falava a palavra
“mamãe”. O filho do secretário recebeu um carro da Ferrari, que andava sob
controle remoto. E assim foram os primeiros presentes.
A ansiedade dos filhos do
auxiliar de serviços aumentava à proporção em que o tempo passava e as outras
crianças eram chamadas. Finalmente, o Gerente chama as últimas crianças:
Jurandir Fonseca, Juracy Fonseca e Juvêncio Fonseca! Os presentes eram
entregues seguindo a ordem de chamada. Ao abrirem os “presentes”, a grande
decepção: cada um recebeu um carrinho de plástico, só diferentes nas cores. Era
pouco até demais para quem sonhava com um bom presente.
Em casa, a tristeza das
crianças não deixava dúvida de que a imagem do Papai Noel havia desmoronado na
mente das crianças. Com os olhos lacrimejantes, Jurandir, o mais velho, olhou
para o pai e perguntou:
- Por que Papai Noel é tão
ingrato, papai? Por que ele deu uma bicicleta ao filho de seu Alfredo, uma
boneca mágica à filha de d. Creuza, uma carro automático ao filho de seu
Vanderley, e pra gente uns carrinhos de plástico? Eu não sabia que Papai Noel
só era bom pros filhos dos ricos!
Escondendo as lágrimas, seu
Jerônimo e d. Quitéria ouviam em silêncio o lamento daquela criança que
construíra dentro de si um Papai Noel amigo das crianças. Voltando à escola, no
ano seguinte, Jurandir ouviu de cada colega o relato de sua noite de Natal.
Ao ser indagado pela
professora sobre o que havia recebido de Papai Noel, ele foi bem lacônico: - É
UM VELHO MUITO CHATO, QUE SÓ GOSTA DE FILHO DE RICO! ODEIO PAPAI NOEL!
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