sábado, 26 de dezembro de 2020

ESPERANDO PAPAI NOEL...

 


                               QUE PAPAI NOEL É ESSE?

(Por Adalberto Pereira)

Seu Jerônimo era um trabalhador que fazia “das tripas coração” para sustentar a família de cinco pessoas: ele, a mulher, d. Quitéria, e os três filhos, todos de menor idade. Era a vida sofredora de quem vive à custa de um salário que mal dá para manter uma família de forma digna. Na sua simplicidade e no exercício de sua função de auxiliar de serviços, era muito querido pelo chefe do seu setor.

Em se tratando da época natalina, todos os anos, era a mesma história: sempre faltava um “trocadinho” para dar os presentes de Natal para os filhos de 9, 10 e 11 anos. Para o casal, aquela data era algo que não deveria existir. E as coisas pioravam quando viam crianças mais afortunadas recebendo do “Papai Noel”, lindos presentes.

Na escola, Jurandir, um dos filhos de seu Jerônimo ouviu uma conversa entre dois colegas, na qual eles comentavam sobre Papai Noel. Os dois diziam que na noite de Natal colocariam seus sapatos na janela, para o “bom velhinho” e que já haviam mandado uma carta dizendo qual o presente desejado. Era o que os pais falavam aos filhos, na ânsia de provocarem neles uma ansiedade, cujo resultado era confiar em algo fictício.

Empolgado com o que ouvira dos colegas, Jurandir chegou em casa com um sorriso ingênuo nos olhos. Correu até a cozinha onde d. Quitéria preparava o almoço. Olhou para a mãe, deu um longo suspiro e com um brilho de felicidade nos olhos, falou:

- Mãe! Na noite de Natal eu vou colocar meus sapatinhos na janela pra Papai Noel colocar o meu presente de Natal! Mas a senhora precisa fazer uma carta pra ele, dizendo o presente que eu quero.

D. Quitéria, com os olhos lacrimejantes, esfregou as mãos no avental, abraçou o filho e, escondendo as lágrimas murmurou: - Meu filhinho! Quando o pai chegar, eu vou conversar com ele! Tá bom?

Os outros irmãos, tão ingênuos quanto o Jurandir, e ouvindo tudo aquilo aproveitaram pra gritar em voz uníssona, enquanto se afastavam pulando de alegria: - E os nossos também! Viu, mãe?

A conversa entre d. Quitéria e seu Jerônimo foi bastante emocionante. Abraçados, marido e mulher não sabiam o que fazer para satisfazer a ansiedade dos filhos. Dizer para eles que Papai Noel não passa de uma ilusão, seria sepultar todas as esperanças das ingênuas crianças. Era uma situação bastante constrangedora. Mas o sonho daquelas crianças era tão contagiante que fazer o contrário seria provocar uma tortura emocional.

Os dias passaram! Seu Jerônimo chega em casa bastante animado e diz para a mulher que o seu chefe vai promover um encontro entre os funcionários da empresa. A confraternização seria na noite de Natal e que todos deveriam levar seus filhos. Eles seriam contemplados com um presente de Papai Noel. Que felicidade! Finalmente, as crianças realizariam seu sonho sem precisar colocar os sapatinhos na janela.

NOITE DE NATAL! 25 de dezembro! Uma grande árvore de Natal se destacava no centro da sala cuidadosamente preparada. Ao redor da árvore, os presentes, dos mais simples aos mais sofisticados. Estes já tinham endereços certos: os filhos dos funcionários mais laureados. Os outros, para os mais simples, ou porque não dizer “menos importantes”?

Todos se serviram à vontade! As comidas eram das mais diversificadas! As bebidas eram bem variadas, da cachaça ao whisky. Mas para as crianças de d. Quitéria, os olhos não se afastavam um segundo dos presentes bem empacotados à espera dos seus destinatários. Finalmente, o Sr. Alfredo Guimarães, Gerente da empresa, anunciou:

- Bem amigos aqui presentes! Já comemos, já bebemos e até muitas dançaram! Mas agora chegou o momento das nossas crianças! Que entre o nosso PAPAI NOEL! Nesse momento, uma porta se abre e lá aparece o “Bom Velhinho”, contratado pela empresa. Nem precisa dizer o tamanho da felicidade dos filhos de seu Jerônimo e d. Quitéria. Ali estava bem diante deles, o tão sonhado e esperado Papai Noel!

Uma por uma as crianças eram chamadas. Como não poderia ser diferente, os primeiros foram os filhos do Gerente que receberam, cada um,  uma bicicleta. A filha da tesoureira, recebeu uma boneca que chorava e falava a palavra “mamãe”. O filho do secretário recebeu um carro da Ferrari, que andava sob controle remoto. E assim foram os primeiros presentes.

A ansiedade dos filhos do auxiliar de serviços aumentava à proporção em que o tempo passava e as outras crianças eram chamadas. Finalmente, o Gerente chama as últimas crianças: Jurandir Fonseca, Juracy Fonseca e Juvêncio Fonseca! Os presentes eram entregues seguindo a ordem de chamada. Ao abrirem os “presentes”, a grande decepção: cada um recebeu um carrinho de plástico, só diferentes nas cores. Era pouco até demais para quem sonhava com um bom presente.

Em casa, a tristeza das crianças não deixava dúvida de que a imagem do Papai Noel havia desmoronado na mente das crianças. Com os olhos lacrimejantes, Jurandir, o mais velho, olhou para o pai e perguntou:

- Por que Papai Noel é tão ingrato, papai? Por que ele deu uma bicicleta ao filho de seu Alfredo, uma boneca mágica à filha de d. Creuza, uma carro automático ao filho de seu Vanderley, e pra gente uns carrinhos de plástico? Eu não sabia que Papai Noel só era bom pros filhos dos ricos!

Escondendo as lágrimas, seu Jerônimo e d. Quitéria ouviam em silêncio o lamento daquela criança que construíra dentro de si um Papai Noel amigo das crianças. Voltando à escola, no ano seguinte, Jurandir ouviu de cada colega o relato de sua noite de Natal.

Ao ser indagado pela professora sobre o que havia recebido de Papai Noel, ele foi bem lacônico: - É UM VELHO MUITO CHATO, QUE SÓ GOSTA DE FILHO DE RICO! ODEIO PAPAI NOEL!

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