PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
33 - Certa vez, ao encerrar o meu programa dominical, pela Rádio
Espinharas, recebi a visita do senhor Amir Gaudêncio Queiroz, que se fazia
acompanhar do jovem Luiz Camurça Filho. O Dr. Amir era candidato ao Senado e
fazia campanha pelo sertão da Paraíba.
O jovem perguntou se eu poderia
entrevistar o candidato. Mesmo fora do meu horário e depois de pensar um
pouco, arrisquei entrevistar o ilustre visitante, pois fiquei sabendo se tratar
de alguém ligado à família Gaudêncio, de Campina Grande, de quem eu era um
admirador.
Terminada a entrevista, o Dr. Amir convidou-me para um almoço, que
aconteceu em um restaurante na saída de Patos, em frente ao Posto do empresário
Hardman Cavalcanti Pinto. Durante o almoço, o candidato convidou-me para fazer
sua campanha em Patos. Ainda vacilei, mas acabei aceitando e, por conta do meu
trabalho (sem nenhuma remuneração exigida de minha parte), ficamos muito
amigos, mesmo ele não sendo eleito.
Bem, mas o assunto é outro, apesar de precisar do fato narrado nessa
introdução, no decorrer da história.
O soldado Albino, da Polícia Militar, sempre que surgia um fato novo na delegacia,
ele ligava para eu fazer a cobertura policial. Na época, os delegados eram
oficiais da polícia, que variavam entre capitães e até cabos, no caso de
cidades de pequeno porte.
Um tal de Joel, “puxador” de carros, tido como elemento de alta
periculosidade, não só no Ceará, de onde era natural, foi preso na cidade de
Patos. Ele havia roubado um carro de um rico empresário cearense e muitos
atribuem sua morte a este fato (?).
Joel foi morto nos corredores da
delegacia, acusado de tentar alcançar uma das janelas para fugir. Mas alguns
detalhes me levaram a fazer um comentário que não agradou a um sargento:
Primeiro a altura da janela e, segundo, a bala ter atingido as costas e não o
lado esquerdo do corpo do sujeito.
Tudo isso me fez deixar escapar um comentário desagradável para os
policiais daquela delegacia:
- Ele não tentou fugir! Ele foi forçado a sair da cela, pois tem
hematomas no rosto e nos braços, como se tivesse brigado com alguém para se
defender de alguma tentativa de agressão. Um sargento não gostou e mandou que
eu me limitasse a fazer o meu trabalho.
Voltei para a rádio e fiz a matéria, cuja cópia enviei para o jornal
Diário da Borborema, do qual eu era correspondente em Patos. A matéria foi
bastante contundente e o comandante do IIII BPM, ao ver a matéria no jornal,
fez-me três ameaças.
A primeira delas pegou-me de surpresa, mas as outras foram gravadas por
determinação do Pe. Joaquim de Assis Ferreira, nosso diretor. As cópias em fita
Cassete foram enviadas imediatamente ao Secretário de Segurança Pública do
Estado da Paraíba, anexada a uma solicitação de proteção à minha pessoa.
É aí que entra a pessoa do Dr. Amir Gaudêncio Queiroz, Secretário da
Indústria e Comércio do Estado da Paraíba, no governo Ivan Bichara Sobreira.
Por coincidência, no momento em que recebia as cópias, o Secretário
estava ao lado do Dr. Amir Gaudêncio.
Sabendo do Secretário que se tratava de ameaças contra um jornalista de
Patos, o Dr. Amir quis saber quem era esse jornalista.
Ao ouvir o meu nome, imediatamente o Dr. Amir solicitou do seu colega
Secretário, a substituição do comandante do III BPM. – Esse rapaz é como se
fosse meu filho e esse comandante não pode ficar mais em Patos, disse o Dr.
Amir Gaudêncio.
O Comandante foi substituído e, mesmo contra aa vontade do Pe. Assis, eu
fui fazer a cobertura do evento e ainda almocei no Cassino dos Oficiais, aa
convite do capitão Clementino, meu amigo particular. Parece impossível, mas sentei
em frente ao ex-comandante, meu algoz.
- Por Adalberto Pereira -
-o-o-o-o-o-o-o-
PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
34 - Com apenas 16 anos resolvi conhecer melhor o mundo político. E o
meu começo foi justamente com uma visita à residência do Sr. Severino Bezerra
Cabral, na Avenida Getúlio Vargas, em Campina Grande.
Mesmo com apenas 10 anos, eu sempre ouvia pelo rádio os discursos do Dr.
Alcides Carneiro e meti na cabeça que todos os políticos falavam bem como ele,
o orador mais respeitado da época (década de 50). Isso me fez ficar interessado
em conhecê-los de perto.
Chegando na residência do Sr. Severino Cabral, candidato a Prefeito de
Campina Grande, fui carinhosamente recebido por D. Anita Cabral, sempre sentada
na sua cadeirinha de balanço. Ela mandou que eu entrasse e fosse ter com seu
marido.
Na sala de jantar daquela gigante mansão, encontrei um homem forte, com
ar grotesco e meio amatutado, saboreando cuscuz com leite. Ele mandou que eu
sentasse e tomasse café com ele, mas eu meio amedrontado, agradeci.
Severino Cabral, pela sua maneira de andar e agir, passou a ser chamado
de “Pé de Chumbo”, nome que o fez famoso na campanha contra o banqueiro Nilton
Rique, proprietário do Banco Industrial de Campina Grande.
E eu passei a acompanhar todos os comícios do “pé de chumbo”. Era o
candidato da pobreza, cujas passeatas eram acompanhadas pela poeira levantada
pelos pés dos seus humildes seguidores.
Cabral era analfabeto e seus discursos eram acompanhados de fatos
interessantes que provocavam risadas de uns e críticas de outros. Ele era
assessorado pelos eruditos Vital do Rego e Raimundo Asfora.
Nos comícios, Vital do Rego ficava por trás de Cabral e, baixinho, ia
dizendo o que ele deveria dizer. Cabral apenas repetia. Em Bodocongó, um bairro
de Campina Grande, o comício foi em frente a igreja Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro.
E Vital começou; - Povo de Bodocongó! (Cabral repetia)! Eu confio
(Cabral repetia)... em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro... Cabral foi bem até
Senhora, mas enganchou em Perpétuo Socorro. Foi ai que ele se virou e com o
microfone na boca, perguntou:
- Nossa Senhora de quê, Vitá?
Tentando concertar o seu equívoco, ele mesmo arriscou continuar: - Nossa Senhora do Pé de... do
Pé de... do Pronto Socorro!
Para abafar uma possível gargalhada dos presentes, o locutor pegou o
microfone e lascou: CABRAL... CABRAL... CABRAL...
Foram muitas as ocasiões em que Cabral protagonizou momentos
hilariantes, obrigando os seus auxiliares a amenizar a situação. Eu nem quero
contar como foi o comício numa localidade chamada Pau Grande.
Mesmo sendo analfabeto, Severino Bezerra Cabral foi eleito com uma
maioria superior a mil votos sobre o banqueiro Nilton Rique. Diga-se de passagem que Cabral, apesar de analfabeto, foi um dos melhores prefeitos de Campina Grande.
Depois de eleito, Cabral precisou fazer uma viagem à Capital
pernambucana e levou com ele Vital e Asfora. Ao sair de Campina Grande, Vital
do Rego fez a seguinte proposta a Cabral: se ele cometesse algum erro de
português até chegar em Recife, ele pagaria todas as despesas.
Foram horas de viagem e por mais que os dois tentassem arrancar um
“deslize” do Cabral, este se mantinha calado, apenas balançando a cabeça de
forma afirmativa ou negativa. Mas ao chegar em Recife, Cabral deu um longo
suspiro e mandou essa:
- Ói aí gente! Nóis viajemos, cheguemo, num falemos e ninguém erremo!
Parecendo ter ensaiado, os dois bradaram: PAGA AS DESPESAS, CABRAL!
- Por Adalberto Pereira -
-o-o-o-o-o-o-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário