sexta-feira, 7 de maio de 2021

UMA IMPRENSA FALIDA.

 

MASOQUISMO INTELECTUALParte inferior do formulário

 

Contam os historiadores que o nobre escritor e jornalista ucraniano Leopold Ritter von Sacher-Masoch, ganhou renome com histórias românticas de sua vida na Galícia. Informam ainda que essas histórias sempre têm como alvo o prazer através da dor, do sofrimento físico e psicológico.

Em uma dessas histórias, ele narra momentos em que viveu com sua mulher Aurora von Rümelin. Ele relata um ato em que sente prazer em ser vítima de torturas físicas e mentais. Para os normais, isso é algo inexplicável, mas podemos comprovar lendo esta partícula escrita pelo próprio Leopold:

ELE: “- Açoite-me! – roguei-lhe. – Açoite-me, sem piedade! (…) Cada golpe feria-me o corpo, que continuava a arder, mas essas dores deliciavam-me, pois vinham da mulher que adorava e por quem estava pronto, a cada minuto, a oferecer a minha vida”. (transcrito)

Meditando um pouco sobre os momentos vividos por Sacher-Masoch, veio-me a idéia de escrever algo que viesse associar este ilustre personagem a pessoas que se identificam com o mesmo, não somente pelo prazer no sofrimento físico, mas, sobretudo pelo desvirtuamento intelectual.

Na verdade, quando alguém defende a prática da desonestidade e da pobreza moral, mesmo sabendo que sua atitude pode causar resultados negativos, certamente está trazendo para dentro de si momentos horripilantes.  Mas se esse alguém tem um pequeno percentual de caráter, este prazer é apenas superficial, levando-o à tortura interior.

Convivi com pessoas que sentiam prazer em tecer elogios a quem não tinha o mínimo mérito para recebê-los. Ao serem questionadas a respeito daquela subserviência, as respostas eram sempre quase as mesmas: - Esta é a minha sobrevivência! Meio constrangidas, concluíam: - Isso pode até tirar-me a paz, mas é assim que as coisas funcionam.

Atualmente, e isso não é coisa nova, o mundo está cheio de masoquistas intelectuais. São aqueles que, mesmo ostentando diplomas e certificados, mesmo com conhecimentos universitários, com mestrados e doutorados, e vistos como verdadeiros conhecedores da verdade, tornam-se autênticos bajuladores.

E o que dizer dos bajulados? Bem! Agora estamos diante de um verdadeiro paradoxo. De um lado, aqueles que se sentem felizes sendo assim tratados; do outro, os que detestam ser bajulados, mas toleram os bajuladores. Estes reconhecem que não são tão dignos assim ao ponto de serem ovacionados.

Tolerantes ou não, as vítimas dos masoquistas intelectuais, incomodam-se com suas investidas em busca de sustentáculo profissional. Os tolerantes sabem perfeitamente que as mesmas “honrarias” mentirosas poderão mudar de endereço num estalar de dedos, dependendo do valor proposto.

Tive a honra de assessorar dois ilustres cidadãos patoenses: o Dr. Edimilson Mota e o também Dr. Rivaldo Medeiros. Eram dois homens de caráter invejável. Detestavam ser bajulados e evitavam os bajuladores. Muitas vezes chegava a deixá-los meio sem graça. Isso me deixava bem à vontade para o exercício das minhas funções.

Em certa ocasião fui entrevistar um deputado e ao encerrar o meu trabalho, ele olhou seriamente para mim e disse ter admirado o meu comportamento como repórter. Foi aí que ele, em forma de desabafo, disse não tolerar ser entrevistado por determinados jornalistas que, ao iniciarem as entrevistas,  cobriam-no de elogios para ganhar-lhe a confiança.

A grande verdade é que o mundo jornalístico é o maior reduto de masoquistas intelectuais. São pseudos-jornalistas que se martirizam moralmente e o fazem com o maior prazer. Outros preferem dizer com a maior cara de pau: - Eu bajulo, sim! E daí? Bajulo pra me sair bem! Nem sempre eles ganham para agirem assim, mas o fazem com prazer.

Torturar a memória não é nada agradável à saúde moral. Fica mais difícil conciliar o sono depois de um dia de tortura mental. O masoquista intelectual, ao colocar a cabeça no travesseiro, sente que o seu ego chora amargamente pelo seu comportamento mesquinho. Chora por não levar a verdade a quem o sustenta como “profissional”: seus leitores, ouvintes e telespectadores.

Em visita a um Distrito da cidade de Araripina, fui abordado por um cidadão que, mesmo na sua ignorância cultural, olhou curiosamente para mim e perguntou se eu não tinha medo de fazer certas perguntas aos meus entrevistados. Achei aquilo interessante e, procurando ser mais confiável, resolvi ser ainda mais contundente nas minhas reportagens.

Confesso que alguns políticos não toleravam ser por mim entrevistados. Prova disso está no fato de um deles, e isso aconteceu em Patos, pedir ao nosso Diretor Pe. Assis, que não me mandasse para entrevistá-lo. Justificou dizendo que minhas perguntas eram muito “pesadas”. Pe. Assis me contou com um leve, mas confortável sorriso nos lábios e saiu balançando a cabeça.

Irritam-me as entrevistas que muitos repórteres da televisão brasileira fazem. Eles se acovardam e não insistem nas perguntas. São medrosos e denigrem a imagem do verdadeiro profissional da comunicação. Se eles ainda alimentassem um pouquinho de responsabilidade, certamente reconheceriam que são falhos na missão de divulgar os fatos como eles acontecem.

Apesar dos pesares, sinto-me feliz por ter vivido dois grandes momentos nos meus quase trinta anos de profissão: O PRIMEIRO, por ter participado de uma imprensa livre, sem restrições e sem censuras internas ou externas. O SEGUNDO, por ter “jogado a toalha” no momento em que os “donos” de revistas, jornais, rádio e TVs, levados pela incapacidade administrativa, tiraram dos jornalistas a sua capacidade profissional.

Sinceramente, eu não me adaptaria a esse sistema mesquinho, que leva os profissionais da imprensa ao jogo absurdo das conveniências de quem dá mais ou paga melhor. Não me sentiria bem enganando a mim mesmo, transformando-me em  frágil marionete nas mãos dos coniventes com as farsas que dominam os mais diversos veículos de comunicação.

Não quero dizer que nos áureos tempos da imprensa corajosa e honrada, não existiram alguns que cometeram seus deslizes. Mas os resultados desses sempre foram trágicos: rádios foram à falência, jornalecos saíram de circulação, televisões mergulharam no mundo do ostracismo e revistas não chegaram à quinta edição.

Esquentar os bancos de uma faculdade, fazer ostentação de diplomas e pendurá-los na parede em local visível, nada disso faz do sujeito um jornalista competente. Esse sacrifício só vale a pena quando o exercício da profissão é respaldado pela coerência da informação e pela imparcialidade do informante.

Ser vítima do masoquismo intelectual só não faz mal aos insensíveis. Estes pouco ou nada se importam com a revolta de quem preza pela informação verdadeira. Muitos chegam até a dizer: - Para mim, o que importa é o salário estar garantido; o resto que se dane!

Hoje, para deixar a situação ainda mais caótica, surgem as redes sociais, verdadeiros “trampolins” para muitos picaretas da informação. Nunca se viu tantos absurdos acumulados. Blogueiros sem nenhuma formação moral formam um verdadeiro batalhão de “assassinos” das informações.

Espaços que poderiam ser utilizados para o crescimento social, político, cultural e econômico de um povo que clama por honestidade e respeito, são manchados e enlameados por postagens desprovidas de credibilidade. Pior que eles, são os seus seguidores, em sua grande maioria pessoas isentas de riqueza moral.

Mesmo tendo Leopold von Sacher-Masoch falecido em 9 de março de 1895, com 59 anos e há 126 anos atrás, seus seguidores continuam vivos entre nós e em plenas atividades, maltratando a mente já meio fragilizada de uma geração de pseudos intelectuais da mísera cultura jornalística.

E ASSIM CAMINHA A NOSSA IMPRENSA: FALIDA E CADA VEZ MAIS DESACREDITADA.

- Por Adalberto Pereira –                                      

 

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