INCIDENTE NO MOTEL
A amizade entre Hudson e
Sidney veio de uma infância sofrida, quando ambos, filhos de pais pobres, ainda
moravam numa cidadezinha do interior da Bahia. Isso há uns vinte e cinco anos
atrás.
Os pais dos garotos, embora
vizinhos, poucas vezes se encontravam para uma conversa longa capaz de
torna-los amigos muito próximos. Algumas vezes eles se encontravam na bodega de
seu Libório, a única na redondeza, onde se faziam as “feiras” da semana.
Os anos passavam lentamente
para quem não tinha uma vida cômoda. Parecia que a “máquina do tempo” estava
enferrujada, truncando os sonhos das duas crianças. Apesar das dificuldades,
eles nunca deixaram de sonhar com um futuro promissor.
Hudson chegou em casa,
depois de uma manhã bastante tumultuada na escola de D. Quitéria. Era
sexta-feira, dia de “argumento”, quando os conhecimentos e a aprendizagem da
semana eram testados diante da pesada palmatória, que castigava quem não desse
uma resposta correta às perguntas formuladas pela carrancuda mestra.
Assim como o Hudson, Sidney
também se destacava naquela pequena escola, a única da cidadezinha. Alguns
colegas chegavam a achar desagradáveis as presenças de ambos nos momentos de
desafios como aquele. Podemos dizer que eram os “donos” da palmatória.
Em um dos raros dias em que
ambos tiveram uma conversa mais prolongada, eles chegaram a programar uma
viagem à capital, para tentar a sorte, mesmo sabendo que, para quem vinha do
interior, nada era fácil. Mas a coragem superou as dificuldades e as
incertezas. E lá foram eles!
Para os dois garotos, a vida
na cidade grande chegou a assustá-los. Os edifícios pareciam estar desabando
sobre suas cabeças. O tumultuo no trânsito e o barulho das buzinas dos automóveis
chegavam a irritá-los. Houve momentos em que ambos desejaram voltar para sua
cidade de origem. Mas tudo ficava apenas na vontade.
O presente se transformou no
futuro tão sonhado. Agora já com seus vinte e dois e vinte e três anos
respectivamente, Hudson e Sidney, funcionários de uma agência bancária famosa,
nem acreditavam que já eram noivos de duas jovens lindas e formosas, com as
quais casaram dois anos depois.
Cinco anos se passaram.
Hudson já era pai de Valéria, uma linda menina de três anos. Sidney foi mais
além e já era pai de um casal: Vitória de dois anos e Robério de um ano. Os
dois, para manter a amizade, moravam no mesmo condomínio, embora em andares
diferentes.
Hudson, que não levava muito
em consideração os votos do casamento, não resistia diante da beleza feminina e
sempre que podia lá estava ele ocupando os apartamentos dos motéis. Sidney, ao
contrário, dedicava-se sempre à família, mantendo-se fiel à sua linda consorte,
apesar dos maus conselhos do amigo.
Era costume a mulher de Sidney
visitar sua melhor amiga, cujo casamento não fora capaz de separá-las. Para
isso, ela sempre usava o carro do marido, que preferia ficar em casa com os
filhos Vitória e Robério.
Certa noite, ao sair do
apartamento do Motel “Reduto dos Amantes”, Hudson foi de encontro a um carro
estacionado ao lado. Desceu preocupado e notou que o veículo com o qual
colidira era do amigo Sidney. Pensou lá com ele mesmo: Hum... Vejam só! O
Sidney dando suas escapulidas, hein!
Ainda pensou em fazer uma
surpresa ao amigo, mas deixou para segunda-feira, no banco. Entrou no carro e
foi embora, rindo consigo mesmo! Estava ansioso para passar na cara do amigo a
descoberta que fizeram naquela noite.
Na segunda-feira, ao
encontrar o amigo no banco, Hudson não pensou duas vezes para desabafar sua
extraordinária descoberta. Colocou a mão no ombro do amigo e confessou:
- Meu amigo, eu vou te fazer
uma confissão: Quem bateu no teu carro, sábado à noite, lá no motel fui eu! Só que eu nunca esperava
que você também dava suas escapulidinhas!
(batendo levemente no rosto
do amigo e com um sorriso maroto, murmurou): Safadinho!. E se afastou
balançando a cabeça.
Calado, Sidnei não conseguia
entender o que estava acontecendo. A manhã foi bastante “pesada” para ele. Com
muita dificuldade conseguia coordenar suas ações. O ambiente bancário se
transformou num verdadeiro inferno para o fiel marido.
Em casa, Sidney, tentando
conter a decepção que o dominava, chamou a mulher e com os olhos lacrimejantes,
perguntou onde ela esteve no sábado à noite. Como se nada tivesse acontecido e
cinicamente, ela respondeu:
- Ora, querido! Como sempre,
fui fazer uma visitinha à Clarice! Aquela minha amiga de infância, lembra?
Ele não resistiu e
esbravejou:
- Vagabunda! Senvergonha! Sua
amiga está morando agora num motel, prostituta safada? Olhe lá no carro! Você
sabe quem bateu no nosso carro? Pois eu vou te dizer: Foi o Hudson e ele me
contou tudo nos mínimos detalhes!
Foi o fim de uma vida a
dois, que durou apenas cinco anos e acabou num quarto de motel. Com o
testemunho do amigo Hudson, Sidney ganhou a guarda dos dois filhos, uma vez que
a mãe não tinha condição moral para conduzir as crianças por um caminho digno.
Neste mundo de meu DEUS
acontecem cada coisas estranhas! Pena que as vítimas sempre não merecem
tamanhos castigos!
OBS.: A história é real, mas
os nomes dos personagens são criação do escritor.
- Por Adalberto Pereira –
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