segunda-feira, 27 de setembro de 2021

ACONTECEU DE VERDADE!

 

                                                 INCIDENTE NO MOTEL        

A amizade entre Hudson e Sidney veio de uma infância sofrida, quando ambos, filhos de pais pobres, ainda moravam numa cidadezinha do interior da Bahia. Isso há uns vinte e cinco anos atrás.

Os pais dos garotos, embora vizinhos, poucas vezes se encontravam para uma conversa longa capaz de torna-los amigos muito próximos. Algumas vezes eles se encontravam na bodega de seu Libório, a única na redondeza, onde se faziam as “feiras” da semana.

Os anos passavam lentamente para quem não tinha uma vida cômoda. Parecia que a “máquina do tempo” estava enferrujada, truncando os sonhos das duas crianças. Apesar das dificuldades, eles nunca deixaram de sonhar com um futuro promissor.

Hudson chegou em casa, depois de uma manhã bastante tumultuada na escola de D. Quitéria. Era sexta-feira, dia de “argumento”, quando os conhecimentos e a aprendizagem da semana eram testados diante da pesada palmatória, que castigava quem não desse uma resposta correta às perguntas formuladas pela carrancuda mestra.

Assim como o Hudson, Sidney também se destacava naquela pequena escola, a única da cidadezinha. Alguns colegas chegavam a achar desagradáveis as presenças de ambos nos momentos de desafios como aquele. Podemos dizer que eram os “donos” da palmatória.

Em um dos raros dias em que ambos tiveram uma conversa mais prolongada, eles chegaram a programar uma viagem à capital, para tentar a sorte, mesmo sabendo que, para quem vinha do interior, nada era fácil. Mas a coragem superou as dificuldades e as incertezas. E lá foram eles!

Para os dois garotos, a vida na cidade grande chegou a assustá-los. Os edifícios pareciam estar desabando sobre suas cabeças. O tumultuo no trânsito e o barulho das buzinas dos automóveis chegavam a irritá-los. Houve momentos em que ambos desejaram voltar para sua cidade de origem. Mas tudo ficava apenas na vontade.

O presente se transformou no futuro tão sonhado. Agora já com seus vinte e dois e vinte e três anos respectivamente, Hudson e Sidney, funcionários de uma agência bancária famosa, nem acreditavam que já eram noivos de duas jovens lindas e formosas, com as quais casaram dois anos depois.

Cinco anos se passaram. Hudson já era pai de Valéria, uma linda menina de três anos. Sidney foi mais além e já era pai de um casal: Vitória de dois anos e Robério de um ano. Os dois, para manter a amizade, moravam no mesmo condomínio, embora em andares diferentes.

Hudson, que não levava muito em consideração os votos do casamento, não resistia diante da beleza feminina e sempre que podia lá estava ele ocupando os apartamentos dos motéis. Sidney, ao contrário, dedicava-se sempre à família, mantendo-se fiel à sua linda consorte, apesar dos maus conselhos do amigo.

Era costume a mulher de Sidney visitar sua melhor amiga, cujo casamento não fora capaz de separá-las. Para isso, ela sempre usava o carro do marido, que preferia ficar em casa com os filhos Vitória e Robério.

Certa noite, ao sair do apartamento do Motel “Reduto dos Amantes”, Hudson foi de encontro a um carro estacionado ao lado. Desceu preocupado e notou que o veículo com o qual colidira era do amigo Sidney. Pensou lá com ele mesmo: Hum... Vejam só! O Sidney dando suas escapulidas, hein!

Ainda pensou em fazer uma surpresa ao amigo, mas deixou para segunda-feira, no banco. Entrou no carro e foi embora, rindo consigo mesmo! Estava ansioso para passar na cara do amigo a descoberta que fizeram naquela noite.

Na segunda-feira, ao encontrar o amigo no banco, Hudson não pensou duas vezes para desabafar sua extraordinária descoberta. Colocou a mão no ombro do amigo e confessou:

- Meu amigo, eu vou te fazer uma confissão: Quem bateu no teu carro, sábado à noite,  lá no motel fui eu! Só que eu nunca esperava que você também dava suas escapulidinhas!

(batendo levemente no rosto do amigo e com um sorriso maroto, murmurou): Safadinho!. E se afastou balançando a cabeça.

Calado, Sidnei não conseguia entender o que estava acontecendo. A manhã foi bastante “pesada” para ele. Com muita dificuldade conseguia coordenar suas ações. O ambiente bancário se transformou num verdadeiro inferno para o fiel marido.

Em casa, Sidney, tentando conter a decepção que o dominava, chamou a mulher e com os olhos lacrimejantes, perguntou onde ela esteve no sábado à noite. Como se nada tivesse acontecido e cinicamente, ela respondeu:

- Ora, querido! Como sempre, fui fazer uma visitinha à Clarice! Aquela minha amiga de infância, lembra?

Ele não resistiu e esbravejou:

- Vagabunda! Senvergonha! Sua amiga está morando agora num motel, prostituta safada? Olhe lá no carro! Você sabe quem bateu no nosso carro? Pois eu vou te dizer: Foi o Hudson e ele me contou tudo nos mínimos detalhes!

Foi o fim de uma vida a dois, que durou apenas cinco anos e acabou num quarto de motel. Com o testemunho do amigo Hudson, Sidney ganhou a guarda dos dois filhos, uma vez que a mãe não tinha condição moral para conduzir as crianças por um caminho digno.

Neste mundo de meu DEUS acontecem cada coisas estranhas! Pena que as vítimas sempre não merecem tamanhos castigos!

OBS.: A história é real, mas os nomes dos personagens são criação do escritor.

- Por Adalberto Pereira –

Nenhum comentário:

Postar um comentário