A TRAIÇÃO ANDA DE LAMBRETA.
Ele era funcionário da Rede
Ferroviária Federal. Um esposo exemplar; um pai presente e amoroso; um
profissional honrado, querido e respeitado por todos. Gostava de cinema e não
perdia um sábado à noite no Cine El Dorado, principalmente quando se tratava de
um bom faroeste.
Ela, uma bela e ainda nova mulher,
“rainha do lar” e mãe de uma filha tão bela quanto a própria mãe. Ao contrário
do marido, preferia ficar em casa cuidando da filha, apesar dos insistentes
convites feitos por ele para acompanha-lo ao cinema.
Foram vários sábados sempre
seguindo a mesma rotina. O porteiro do cinema já o conhecia e sua presença
passou a ser algo tão regular que se viesse a faltar um dia, já seria motivo de
surpresa para os funcionários do cinema da Pedro Firmino.
É aí que surge um
coadjuvante na história. O nome não interessa. Aliás, ninguém nunca chegou a
saber. Se ele estragou a rotina do nosso personagem principal, a culpa não é
nossa. Afinal, sem ele a história não teria acontecido.
Fofoqueiro ou não, o
coadjuvante achou por bem fazer um alerta ao nosso personagem principal.
Esperou que ele saísse do cinema, chamou-o em um canto reservado e falou:
- Não me leve a mal! Mas,
depois de muito pensar, resolvi fazer-lhe uma revelação: todas as vezes que
você vem ao cinema, um bancário vai para sua casa e para ocupar o lugar que
deveria ser somente seu.
O funcionário da RFF ficou
paralisado diante do que ouvira daquele cara estranho, mas que sabia de fatos
envolvendo a sua intimidade familiar, que ele desconhecia. O impacto não poderia
ser pior! E o coadjuvante prosseguiu:
- Se você quiser confirmar o
que estou dizendo, podemos fazê-lo no próximo sábado. Para não levantar
suspeitas, não altere o seu comportamento em casa e aja como se não soubesse de
nada. Você topa ficar diante da verdade?
O nosso personagem principal
concordou. E no sábado, lá estavam os dois, na esquina da Prefeitura Municipal,
de onde conseguiam ver todo movimento nas imediações do cine El Dorado. O
coadjuvante observou:
- Veja! Aquela lambreta
estacionada no canteiro é do cara. Ele está esperando você entrar no cinema,
vai esperar uns vinte minutos e vai tomar o rumo de sua casa. Agora vá, compre
o seu ingresso e entre normalmente. Eu entrarei logo em seguida.
Dito e feito! Primeiro
entrou o nosso personagem. Em seguida, o nosso coadjuvante. Enquanto isso, o
“urso” olhava os cartazes como se estivesse interessado em algum filme. Minutos
depois, ouve-se o motor da lambreta.
- Pronto - disse o
coadjuvante – vamos tomar um taxi e chegaremos no momento cruciante para você.
Você vai precisar de muito controle emocional para a cena que vai presenciar.
Os dois chegaram, o nosso
personagem notou que a lambreta estava
escondida entre o jardim e a parede da casa. Ele meteu a chave na porta, abriu
lentamente e se dirigiu para o quarto do casal. A cena foi estarrecedora. O
bancário e a esposa traidora estavam como vieram ao mundo. O marido traído
sacou o revólver, apontou para os dois e pediu que o coadjuvante fosse no mesmo
taxi e levasse o juiz e o delegado.
Não sei como ele conseguiu,
mas lá estava ele com o Dr. Magalhães e o delegado Ludgero. Os três chegaram e
ao presenciar a dolorosa cena, o delegado mandou que ele guardasse a arma,
enquanto o Dr. Magalhães convocava a esposa traidora a comparecer ao Fórum na
segunda-feira.
Resolvida a situação, o
marido traído jogou sobre o corpo da mulher um valor insignificante apenas
suficiente para leva-la até Natal, onde moravam os pais da traidora. Perdida e
soluçando, ela olha para o “urso” bancário e brada:
- E agora, Fulano? O que nós
vamos fazer? Agora eu sói tenho você!
Vestindo-se e olhando para
sua amante, o bancário responde ironicamente:
- Nós??? E você pensa que eu
vou assumir a responsabilidade? Se você fez o que fez com seu marido, o que não
fará comigo? Te manda, mulher! Cai fora da minha vida!
Saiu dali imediatamente,
pegou a lambreta e se mandou!
Dizem que na segunda-feira o
Dr. Magalhães, juiz da Comarca de Patos, anulou o casamento do casal.
A mulher traidora foi embora
para Natal, onde moravam os pais, e o
marido traído continuou suas atividades da RFN, em Patos. Não sei dizer com
quem ficou a filha do casal. Especula-se que ela havia ficado com o pai.
- Por Adalberto Pereira –
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