UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA
(Pesquisado, escrito e postado por Adalberto
Pereira)
A luta contra o Regime Comunista no Brasil
começou na década de 50. É notório que muitos pensam que perseguições, as
prisões, as torturas e as rígidas represálias contra os detentores de idéias
comunistas tenha sido algo “patenteado” pelo Regime Militar iniciado em 31 de
março de 1964. Puro engano, ou simplesmente fruto do desconhecimento da
verdade.
Lembro que ao chegar em Campina Grande em
1950, com apenas 9 anos de idade, nossa primeira residência foi na Rua
Liberdade. Meu pai trabalhava na Fundição Vulcano, do senhor Luiz Rodrigues, um
comunista declarado. Meu pai fora chamado para assumir o lugar do irmão, meu
tio Severino, quer havia falecido, em Santa Rita, na Paraíba, onde fora passar
o carnaval com a família.
Era uma época em que os operários viviam
muito bem. Meu pai, por exemplo, ganhava dois salários mínimos (parece-me que o
salário era em torno de 1.300 cruzeiros), e eu estudava no melhor colégio da
cidade, o Colégio Alfredo Dantas, dos Loureiros (José Loureiro e Severino
Loureiro), onde estudavam os filhos dos comerciantes, comerciários, políticos,
industriais, banqueiros, e senhores da alta sociedade campinense.
Lembro ainda que as forças anticomunistas
chegavam na Fundição Vulcano a procura do Sr. Luiz Rodrigues e ele fugia pelo
lado oposto, já que o prédio tinha saída pela Getúlio Vargas e pala Av. Rio
Branco. “Seu” Luiz fazia coleção de livros subversivos e, por várias vezes foi
preso e torturado com bolos de palmatória nas solas dos pés.
Por várias vezes meu pai comentava com minha
mãe as agressões sofridas pelo patrão. Eu, mesmo com meus 10 anos, conseguia assimilar
as conversas e quando eu perguntava o que “os homens” tinham feito com seu Luiz,
meu pai dizia que aquilo não era conversa pra crianças.
Certo dia eu perguntei a minha professora o significado
da palavra “comunismo”. Ela ficou meio sem jeito e disse que era perigoso falar
aquele nome. Aquilo aumentou ainda mais a minha curiosidade. Anos depois fiquei
sabendo que era um sistema que tirava a nossa liberdade de agir, falar e pensar
livremente.
A ERA DO BIPARTIDARISMO
O bipartidarismo colocava diante de nós a UDN
(União Democrática Nacional) e o PSD (Partido Social Democrático).
A UDN – União Democrática Nacional - foi
fundada em abril de 1945 para fazer frente ao governo de Getúlio Dorneles
Vargas e seguia a uma orientação conservadora. Em Campina Grande, um dos grandes
nomes desse partido foi Argemiro Figueiredo.
Os udenistas defendiam o lema “O preço da
liberdade é a eterna vigilância”. Eles optaram pela cor amarela e seus
seguidores eram pessoas de classe média urbana, mas também conservavam em suas
fileiras alguns representantes da elite. Um dos seus líderes foi o general
Juarez Távora e nas eleições presidenciais de 1960 deu apoio a Jânio Quadros,
na campanha contra o general Henrique Teixeira Lott. Diga-se de passagem que
Jânio não era filiado à UDN. O símbolo de Jânio era uma vassoura e o de Lott
era uma espada.
Na Paraíba, a UDN esteve no poder de 1947 a
1965, destacando-se em sua linha de frente, políticos como Oswaldo Trigueiro,
Flávio Ribeiro Coutinho, Pedro Moreno Gondim, João Agripino Filho, Argemiro de
Figueiredo, Ernani Sátyro e José Cavalcanti. A União Democrática Nacional foi
extinta em outubro de 1965.
O PSD – Partido Social Democrático, foi
fundado em 17 de julho de 1945 e esteve presente na maioria das eleições,
proporcionais e majoritárias, realizadas entre os anos de 1945 e 65. Foi uma
idéia de interventores nomeados pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas,
durante o chamado Estado Novo.
Seu maior aliado foi o PTB – Partido
Trabalhista Brasileiro, mas tivesse feito várias alianças com a UDN – União
Democrática Nacional, sua tradicional adversária. O PSD teve grande
participação na eleição de Getúlio Vargas, em 1950. Ele foi extinto em outubro
de 1965, pelo Ato Institucional nº 2.
Muitos integrantes da extinta UDN passaram a
integrar as fileiras da recém-criada ARENA (Aliança Renovadora Nacional). A
criação da ARENA aconteceu em 1965 com o objetivo de sustentar a Ditadura
Militar iniciada em 1964. O programa do partido só foi oficializado em sua
Convenção Nacional
realizada em 21 de setembro de 1975, em Brasília.
Posição tomada na
Convenção em relação a existência do partido:
Expressão
política da Revolução de Março de 1964, que uniu os brasileiros em geral,
contra a ameaça do caos econômico, da corrupção administrativa e da ação
radical das minorias ativistas, a ARENA é uma aliança de nosso povo, uma
coligação de correntes de opinião, uma aliança nacional.
O partido foi
extinto em 20 de dezembro de 1979. Nos anos de 1966 a 1979 surgiram duas novas
correntes políticas: a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, cognominada de
“situação”; e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, conhecido como
“oposição”. Mais tarde, a ARENA passou a ser conhecida como PDS – Partido
Democrático Social.
Insatisfeitos com o
posicionamento tomado por algumas lideranças, dissidentes do PDS criaram o PFL
– Partido da Frente Liberal, hoje o DEM. O PDS, por sua vez, teve seu nome
mudado para PPR – Partido Progressista Renovador; posteriormente para PPB –
Partido Progressista Brasileiro; hoje apenas PP.
O PORQUÊ DO GOLPE
MILITAR
O presidente João
Goulart estava propenso a implantar algumas reformas de base, entre as quais a
reforma bancária, a reforma universitária, a reforma eleitoral e a reforma
agrária. Isso levava alguns setores da marinha e aeronáutica a desconfiarem da
possível instauração de um regime comunista no país.
Houve manifestações
públicas contra os atos, atitudes e leis de caráter esquerdista por parte do
governo federal. Com o objetivo de enfraquecer o governo as elites se
mobilizaram adotando o Regime Parlamentarista, que prevaleceu entre os anos de
1961 e 62. Houve um plebiscito e em 1963 foi restabelecido o regime
presidencialista.
Em 1964 João
Goulart, que também era chamado de “Jango”,
propôs reformas constitucionais que permitiam o controle de remessas de
dinheiro ao exterior, bem como o voto do analfabeto. Mas o estopim para o Golpe
militar foi um discurso feito pelo presidente da república na Central do
Brasil.
Nesse discurso,
Jango determinava a reforma agrária e a nacionalização das refinarias
estrangeiras de petróleo. No dia 19 de março, setores da imprensa, em sua
maioria cristã, e o empresariado, realizaram a chamada “Marcha da Família com
Deus pela Liberdade”.
Mas o que
contribuiu mesmo para a queda de João Goulart foi o Decreto de número 53.700,
de 13 de março de 1964, revogado no dia 9 de abril, pelo presidente interino
Ranieri Mazzilli. Dizia assim o citado Decreto:
“Declara de
interesse social para fins de desapropriação as áreas rurais que ladeiam os
eixos rodoviários federais, os leitos das ferrovias nacionais, e as terras
beneficiadas ou recuperadas por investimentos exclusivos da União em obras de
irrigação, drenagem e açudagem, atualmente inexploradas ou exploradas
contrariamente à função social da propriedade, e dá outras providências.” Esse Decreto
provocou reação nos setores mais conservadores.
No dia 2 de abril
de 64, o senador Auro Soares de Moura Andrade, presidente do Congresso
Nacional, declarou vago o cargo de vice-presidente da República. O general
Mourão Filho declarou o afastamento do presidente João Goulart por abuso do poder e que os militares defenderiam
a Constituição.
Diante da vacância,
o general Humberto de Alencar Castelo Branco lideraria o grupo de militares que
assumiram o Poder. Em 15 de abril de 64, Castelo Branco foi oficializado
Presidente da República. Foram mantidos os treze partidos políticos existentes,
bem como o Congresso Nacional.
As eleições presidenciais marcadas para o dia 3 de outubro de
1965 foram mantidas, mas Leonel Brizola e outros líderes esquerdistas não
puderam concorrer por terem perdido seus direitos políticos e por terem sido
exilados. Para muitos, o golpe militar foi um ato legal, por preservarem o
sistema democrático.
QUEM FOI LUIZ CARLOS PRESTES?
Luiz Carlos Prestes, um gaúcho nascido em
Porto Alegre em 3 de janeiro de 1898, era o símbolo do comunismo no Brasil,
mesmo depois de ter sido militar e ter chagado ao posto de Tenente. Companheiro
de Olga Benário, morta na câmara de gás na Alemanha, Prestes foi
Secretário-Geral do Partido Comunista Brasileiro.
Ele teve seus direitos de cidadão revogados
por dez anos e fugiu por ser perseguido pelo governo em 64. Em sua casa, a
Polícia encontrou várias cadernetas que culminaram com inquéritos e processos
contra ele. Exilou-se na União Soviética e foi anistiado em 1979, pelo
presidente militar João Batista Figueiredo.
Alinhados às idéias de Prestes, em 1992, os
comunistas fundaram uma organização conhecida como “Corrente Comunista Luis
Carlos Prestes”. Ele deu apoio à candidatura de Leonel Brizola para governador
do Rio de Janeiro e para Presidente da República em 1989. Recebeu do PDT o
título de Presidente de Honra.
Ele participou do levante de 1922, no Rio de
Janeiro, conhecido como “Revolta dos 18 do Forte de Copacabana”. No Rio Grande
do Sul foi engenheiro militar por dois anos, mas saiu do exército em 1924, para
trabalhar em uma empresa de engenharia civil. Foi o organizador de um movimento
político-militar, mais tarde conhecido como “Coluna Prestes”.
Foi convidado para comandar a Revolução de
1930, ao lado de Getúlio Vargas, então chefe civil. Para isso recebeu dos
líderes revolucionários a quantia de 800 contos de réis para compra de
armamentos, mas repassou o dinheiro para a Internacional Comunista, na
Argentina.
Mudou-se para a União Soviética em 1931,
aceitando um convite feito por aquele país, onde se dedicou aos estudos
marxistas-leninistas. Por imposição do Partido Comunista da União Soviética,
foi aceito em agosto de 1934, como filiado do Partido Comunista Brasileiro, o
PCB. Ele faleceu no Rio de Janeiro em 7
de março de 1990.
Por Adalberto Pereira.
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