COISAS ESTRANHAS
Tem coisas que não devíamos contar, por se tratar de algo impossível
para quem não acredita em fatos estranhos. Mas, se o fato aconteceu, por que
não contá-lo, mesmo contrariando algumas pessoas?
No Batalhão de Serviços de Engenharia, em Campina Grande, onde servi lá
pelos idos de 1960, contava-se a história de um tal “capitão sem cabeça”.
Disseram-me que se tratava do um capitão que teve sua cabeça decepada num
acidente com um Jeep do Exército.
Lá, no BSvE, mais precisamente no flanco esquerdo, existia um “cemitério
de carros velhos”, onde podíamos encontrar sucatas de jeep e caminhões que
foram muito úteis nas tarefas militares. Esses veículos (sem motores) eram
colocados sobre tonéis e estacas resistentes.
Pois bem! Diziam os soldados mais antigos, que por volta da meia noite,
as luzes dos referidos veículos acendiam e suas buzinas tocavam, mesmo sem
existirem, o que enchia os soldados de medo. Chegaram a me dizer que os carros
se deslocavam de seus lugares.
Certa noite, estávamos no alojamento, ao lado do Portão das Armas, local
de acesso ao Batalhão, quando ouvimos um barulho estranhos. Rapidamente, fomos
surpreendidos com a presença do Relacionador de Viaturas (*) que, ofegante, anunciava
a presença de um soldado caído nas proximidades.
Corremos até o local (uns 20 metros de onde estávamos) e verificamos que
se tratava do soldado Pimentel, que montava guarda no flanco esquerdo. Ele
estava sem voz e pálido como um cadáver. Ninguém sabia o que havia acontecido,
pois ele não falava e os olhos pareciam querer saltar daquele rosto
amedrontado.
Conduzido à enfermaria do quartel, o colega só teve condições de falar
dois dias depois. Foi aí que ele contou que um dos jeep do “cemitério dos
carros velhos” havia acendido os faróis, ligado o motor e se deslocado do local
onde estava há anos.
Até hoje, ninguém sabe se o jipe realmente se movimentou ou se não
passou de uma reação do sistema emocional do colega, que já havia demonstrado
em outras ocasiões ser bastante medroso. De toda forma, a carreira e o desmaio
do colega não foi nada inventado. Eu mesmo testemunhei.
(*) RELACIONADOR DE VIATURAS era o soldado que ficava na entrada do quartel
com uma prancheta anotando as viaturas que entravam e saiam, seus motoristas,
sua quilometragem e seus destinos. Ele controlava saídas e entradas de todos os
veículos.
(Por Adalberto Pereira) - Sd. CLAUDINO – 216
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