segunda-feira, 1 de julho de 2019

EDITORIAL DA VIDA


                                         VENCENDO OS DESENCANTOS 

Num mundo onde tudo pode acontecer sem causar qualquer tipo de surpresa, a notícia de um desabamento ou de um surto de gripe não chega a ser algo estranho. Os meios de comunicação reversam seus profissionais na ânsia de colher informações de tragédias que possam virar algo sensacionalista. É assim que funciona a imprensa mundial.

Olhando com um olhar crítico, um observador metido a curioso, faz um sorriso irônico, ao mesmo tempo em que deixa escapar uma opinião que acaba causando um grande motivo de alerta no mundo jornalístico. Faz um ar de desgosto e detona: - Jornalista deve achar o máximo quando uma enchente provoca pânico numa cidade, ou quando um grupo terrorista invade um templo religioso, ceifando vidas inocentes.

Dá até para entender o desabafo desse curioso linguarudo, se pararmos um pouco e revivermos os momentos trágicos de Mariana e Brumadinho, provocados pela desumanidade de mercenários, onde funcionários foram vítimas de uma triste fatalidade. Esfregando-se uns nos outros num “comovente” empurra-empurra, repórteres nacionais e internacionais, garantiam suas “mesadas”, enquanto famílias em desespero esperavam aflitas por notícias de seus entes queridos.

Como repórter, cobri diversos acidentes, muitos deles de causar arrepios. A ordem era chegar primeiro para informar antes dos concorrentes. Deitado e sem condições psicológicas de conciliar meu sono, questionava no silencio das madrugadas, como era triste viver à custa da desgraça dos outros. Comentando com um colega de profissão, ele friamente respondeu: - São os ossos do ofício! E o pior é que ele tinha razão.

A imprensa sobrevive dos eventos esportivos e das tragédias que abalam as estruturas psicológicas da humanidade. Certa vez, ouvi quando o cantor Juca Chaves disse que “o futebol era o ganha-pão da imprensa”. Cheguei a pensar como seria o nosso País, se a imprensa desse tanta ênfase aos problemas sociais, políticos e econômicos, como o faz por ocasião das tragédias. Compará-los a urubus sobrevoando seu “cardápio” favorito, não seria nenhum exagero.

Considerando a imprensa como o “quarto poder” de um país, podemos garantir que ela, se apertasse um pouco os “parafusos” da corrupção, teria plenas condições de ajudar na solução dos nossos problemas, colocando na cadeia políticos, juízes, promotores e outros  defensores da corrupção. Mas isso só seria possível se ela não estivesse comprometida com siglas político-partidárias.

Coniventes com as ações criminosas de quem deveria priorizar a moralidade e o respeito à nação, jornalistas incompetentes levam ao desencanto um povo que há décadas clama por justiça e que não se deixe levar pela força dos interesses individuais dos que se dizem intocáveis e superiores às leis que regem um país. Enquanto isso, esse povo, cada vez mais frágil, continua vítima de um sonho próprio de quem vive “deitado eternamente em berço esplêndido”.

Otimista e, acima de tudo ousado, não consigo ser tragado pela fragilidade moral de pseudos profissionais da imprensa, que se curvam diante de uma parcialidade intolerante. Empunhando a bandeira da esperança, sigo firme na tentativa de vencer os desencantos que a vida teima em colocar como pedra de tropeça no caminho da vitória.

(Por Adalberto Pereira)

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