VENCENDO
OS DESENCANTOS
Num mundo onde tudo pode
acontecer sem causar qualquer tipo de surpresa, a notícia de um desabamento ou
de um surto de gripe não chega a ser algo estranho. Os meios de comunicação
reversam seus profissionais na ânsia de colher informações de tragédias que
possam virar algo sensacionalista. É assim que funciona a imprensa mundial.
Olhando com um olhar
crítico, um observador metido a curioso, faz um sorriso irônico, ao mesmo tempo
em que deixa escapar uma opinião que acaba causando um grande motivo de alerta
no mundo jornalístico. Faz um ar de desgosto e detona: - Jornalista deve achar
o máximo quando uma enchente provoca pânico numa cidade, ou quando um grupo
terrorista invade um templo religioso, ceifando vidas inocentes.
Dá até para entender o
desabafo desse curioso linguarudo, se pararmos um pouco e revivermos os
momentos trágicos de Mariana e Brumadinho, provocados pela desumanidade de
mercenários, onde funcionários foram vítimas de uma triste fatalidade.
Esfregando-se uns nos outros num “comovente” empurra-empurra, repórteres
nacionais e internacionais, garantiam suas “mesadas”, enquanto famílias em
desespero esperavam aflitas por notícias de seus entes queridos.
Como repórter, cobri
diversos acidentes, muitos deles de causar arrepios. A ordem era chegar
primeiro para informar antes dos concorrentes. Deitado e sem condições
psicológicas de conciliar meu sono, questionava no silencio das madrugadas,
como era triste viver à custa da desgraça dos outros. Comentando com um colega
de profissão, ele friamente respondeu: - São os ossos do ofício! E o pior é que
ele tinha razão.
A imprensa sobrevive dos
eventos esportivos e das tragédias que abalam as estruturas psicológicas da
humanidade. Certa vez, ouvi quando o cantor Juca Chaves disse que “o futebol
era o ganha-pão da imprensa”. Cheguei a pensar como seria o nosso País, se a
imprensa desse tanta ênfase aos problemas sociais, políticos e econômicos, como
o faz por ocasião das tragédias. Compará-los a urubus sobrevoando seu
“cardápio” favorito, não seria nenhum exagero.
Considerando a imprensa como
o “quarto poder” de um país, podemos garantir que ela, se apertasse um pouco os
“parafusos” da corrupção, teria plenas condições de ajudar na solução dos
nossos problemas, colocando na cadeia políticos, juízes, promotores e outros defensores da corrupção. Mas isso só seria
possível se ela não estivesse comprometida com siglas político-partidárias.
Coniventes com as ações
criminosas de quem deveria priorizar a moralidade e o respeito à nação,
jornalistas incompetentes levam ao desencanto um povo que há décadas clama por justiça
e que não se deixe levar pela força dos interesses individuais dos que se dizem
intocáveis e superiores às leis que regem um país. Enquanto isso, esse povo,
cada vez mais frágil, continua vítima de um sonho próprio de quem vive “deitado
eternamente em berço esplêndido”.
Otimista e, acima de tudo
ousado, não consigo ser tragado pela fragilidade moral de pseudos profissionais
da imprensa, que se curvam diante de uma parcialidade intolerante. Empunhando a
bandeira da esperança, sigo firme na tentativa de vencer os desencantos que a
vida teima em colocar como pedra de tropeça no caminho da vitória.
(Por
Adalberto Pereira)
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