PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
37 – A Rádio Espinharas é um acervo de grandes e interessantes
histórias. Em 1962, quando eu iniciei a minha trajetória no rádio, tive o
prazer de trabalhar com pessoas maravilhosas, do Sr. Zacarias ao Diretor
Maurício Leite, Foram muitos momentos interessantes, que marcaram minha vida
profissional.
Lembro que o colega Severino Quirino, com larga experiência no rádio de
Campina Grande, levou para Patos a idéia de colocar no ar uma dramaturgia,
aproveitando os profissionais disponíveis. Incentivado por Ariosto Sales, um
colega da Rádio Borborema, criou uma peça bíblica titulada “O Messias”. Era a
época da Páscoa.
Fazer novela no rádio era um desafio e esse desafio era muito mais
interessante, tratando-se de uma rádio do interior, onde locutores, operadores
e noticiaristas eram mais do que inexperientes. O sonoplasta era o maior
responsável pelo sucesso da peça, pois ele precisava ser rápido e ter bastante
reflexo.
Havia um disco gigante, com centenas de faixas, todas muito pequenas, o
que exigia boa visão do sonoplasta e rapidez na hora de fazer uso das mesmas.
Tinha barulhos de tiro de revólver, trovão, relâmpago, latir de cachorro,
relincho de jumento e muito mais.
Cada “ator” recebia o seu script, onde tinha os nomes de cada um, para
que todos soubessem o que dizer e o momento de dizer. Eu recebi a incumbência
de representar Anás, um Sacerdote do tempo de Jesus, e sogro de Caifás, o
grande Sacerdote que participou do julgamento de Jesus.
Convocaram o Luiz Oliveira, para fazer a sonoplastia. Só que Luiz era
míope por natureza e sempre usava uma lente para procurar a faixa da música
anunciada pelos locutores. Começou o primeiro ensaio. Ao lado de Luiz, Quirino
ia orientando.
-Tragam-me vinho! Estou com sede!! – brada o rei.
Luiz mete a lente em cima do
disco e manda o relincho de um jumento.
Foi uma explosão de gargalhadas, menos por parte de Severino Quirino que
ficou vermelho de raiva, mas conteve-se.
O ensaio prosseguiu e lá vem outra mancada do Luiz! No momento em que
abre uma porta, em lugar do barulho das dobradiças, surgiu um estrondo de trovão.
Diante do espanto de todos e do gesto de Quirino com as mãos na cintura
encarando o Luiz, este simplesmente e com muita calma, olhou para Quirino e disse:
- Esqueceram de passar graxa nos ferrolhos, chefe!
Chegou a vez do cego de Jericó. Com a ajuda de Quirino, Luiz conseguiu soltar
o falatório da multidão. Mas lá na cabine:
Mainardo Santos: - Que vozério é esse aí?
Batista Leitão:- É Jesus que vem chegando ceguinho!
Do outro lado, o grito de Quirino: - Para... para... para que já cegaram
Jesus e eu não sei onde foram buscar esse VOZÉRIO! Tem uma vírgula depois de
CHEGANDO e não tem acento no “E” de vozerio!
O trágico e cansativo dia de ensaio terminou! Quirino, sentado em um
lugar afastado de todos, bastante amargurado, recebia o consolo de Zé Augusto e
Luiz Pereira.
Deu trabalho, mas com a substituição do Luiz Oliveira pelo Orlando
Xavier e com a paciência (forçada) de Severino Quirino, conseguimos levar ao ar
a tão propagada e almejada peça “O
Messias”.
- Por Adalberto Pereira -
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PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
38 – Certa vez eu resolvi levar para Patos o cantor Sidney Magal, que
estava no auge de sua carreira, fazendo muito sucesso com a música “Meu Sangue
Ferve por Você”. Falei com José Soares de Figueiredo – Zé Tota – Diretor Social
do Patos Tênis Clube e tudo ficou acertado para a realização do evento, que
teria como título “Uma Noite Cigana”.
A ornamentação do Clube ficaria sob a responsabilidade dos colunistas
sociais Carlos Estevão e Joacil Martins, os melhores de Patos na época. O show
começaria às 22 horas do sábado. Para a propaganda volante, contratei os
serviços de Patrissom e tudo seguia às mil maravilhas.
No sábado, pela manhã, eu recebia, na Rádio Espinharas, um telefonema do
empresário do Magal, responsável pelos shows no Nordeste, informando o cancelamento
do show, dizendo que só tinha vôo para a noite e Magal não viajava naquele
horário.
Foi um “Deus nos acuda”! Mandei suspender a ornamentação do clube,
suspendi o contrato com o Hotel JK e mandei o Patrício Neto suspender as
propagandas volantes. Pedro Correia era o operador do horário e por curiosidade e para sorte
minha, gravou o telefonema.
Nesse dia eu perdi o apetite! Eram quase 2 horas da tarde quando o
empresário de Magal, no Rio de Janeiro, ligou para mim, perguntando como estava
a propaganda do show. Surpreso, e sem entender mais nada, eu contei o que
estava acontecendo, deixando o empresário bastante irritado com o seu colega de
Recife.
Ele me disse que já estavam no aeroporto e que estaria em Patos, por
volta das 18 horas. E o que fazer? Convoquei o Patrício Neto para intensificar
a propaganda. E a hospedagem? Recorri ao amigo José Ferreira, gerente do Posto
O Tigrão, que prontamente me garantiu um apartamento de luxo para o cantor e
sua equipe.
No apartamento do Magal, coloquei a fita com a gravação do empresário
nordestino. Eles e seus músicos ficaram pasmados, sem entender como um
empresário agia de tal forma. Magal disse que faria o show de toda forma e que
não pagaria um centavo ao irresponsável.
Eram 17 horas quando o empresário chegou ao Patos Tênis Clube dizendo
que não haveria o show, pois não ia colocar o cantor num clube vazio. Foi aí
que convoquei a polícia militar, da qual eu era Assessor e, por determinação do
capitão Clementino, colocamos o sujeito detido no interior do clube, pela
guarnição policial até o final do show.
Quem havia comprado o ingresso teve direito à sua respectiva mesa.
Liberamos a entrada para todos e o clube superlotou, fazendo do show um
verdadeiro sucesso, não de bilheterias,
mas de público.
Magal dispensou o cachê, que lhe foi pago pelo empresário que havia
promovido toda aquela confusão. Eu paguei apenas ao conjunto que fez o baile e
ao pessoal que prestou serviços no clube (porteiros, bilheteiros, guardas e
funcionários do clube).
- Por Adalberto Pereira -
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