segunda-feira, 25 de maio de 2020

ACONTECEU DE VERDADE - 19



PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.    

37 – A Rádio Espinharas é um acervo de grandes e interessantes histórias. Em 1962, quando eu iniciei a minha trajetória no rádio, tive o prazer de trabalhar com pessoas maravilhosas, do Sr. Zacarias ao Diretor Maurício Leite, Foram muitos momentos interessantes, que marcaram minha vida profissional.

Lembro que o colega Severino Quirino, com larga experiência no rádio de Campina Grande, levou para Patos a idéia de colocar no ar uma dramaturgia, aproveitando os profissionais disponíveis. Incentivado por Ariosto Sales, um colega da Rádio Borborema, criou uma peça bíblica titulada “O Messias”. Era a época da Páscoa.

Fazer novela no rádio era um desafio e esse desafio era muito mais interessante, tratando-se de uma rádio do interior, onde locutores, operadores e noticiaristas eram mais do que inexperientes. O sonoplasta era o maior responsável pelo sucesso da peça, pois ele precisava ser rápido e ter bastante reflexo.

Havia um disco gigante, com centenas de faixas, todas muito pequenas, o que exigia boa visão do sonoplasta e rapidez na hora de fazer uso das mesmas. Tinha barulhos de tiro de revólver, trovão, relâmpago, latir de cachorro, relincho de jumento e muito mais.

Cada “ator” recebia o seu script, onde tinha os nomes de cada um, para que todos soubessem o que dizer e o momento de dizer. Eu recebi a incumbência de representar Anás, um Sacerdote do tempo de Jesus, e sogro de Caifás, o grande Sacerdote que participou do julgamento de Jesus.

Convocaram o Luiz Oliveira, para fazer a sonoplastia. Só que Luiz era míope por natureza e sempre usava uma lente para procurar a faixa da música anunciada pelos locutores. Começou o primeiro ensaio. Ao lado de Luiz, Quirino ia orientando.

-Tragam-me vinho! Estou com sede!! – brada o rei.

Luiz mete  a lente em cima do disco e manda o relincho de um jumento.
Foi uma explosão de gargalhadas, menos por parte de Severino Quirino que ficou vermelho de raiva, mas conteve-se.

O ensaio prosseguiu e lá vem outra mancada do Luiz! No momento em que abre uma porta, em lugar do barulho das dobradiças, surgiu um estrondo de trovão.

Diante do espanto de todos e do gesto de Quirino com as mãos na cintura encarando o Luiz, este simplesmente e com muita calma, olhou para Quirino e disse:

- Esqueceram de passar graxa nos ferrolhos, chefe!

Chegou a vez do cego de Jericó. Com a ajuda de Quirino, Luiz conseguiu soltar o falatório da multidão. Mas lá na cabine:

Mainardo Santos: - Que vozério é esse aí?

Batista Leitão:- É Jesus que vem chegando ceguinho!

Do outro lado, o grito de Quirino: - Para... para... para que já cegaram Jesus e eu não sei onde foram buscar esse VOZÉRIO! Tem uma vírgula depois de CHEGANDO e não tem acento no “E” de vozerio!

O trágico e cansativo dia de ensaio terminou! Quirino, sentado em um lugar afastado de todos, bastante amargurado, recebia o consolo de Zé Augusto e Luiz Pereira.

Deu trabalho, mas com a substituição do Luiz Oliveira pelo Orlando Xavier e com a paciência (forçada) de Severino Quirino, conseguimos levar ao ar a tão propagada e almejada  peça “O Messias”.

- Por Adalberto Pereira -

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PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.   

38 – Certa vez eu resolvi levar para Patos o cantor Sidney Magal, que estava no auge de sua carreira, fazendo muito sucesso com a música “Meu Sangue Ferve por Você”. Falei com José Soares de Figueiredo – Zé Tota – Diretor Social do Patos Tênis Clube e tudo ficou acertado para a realização do evento, que teria como título “Uma Noite Cigana”.

A ornamentação do Clube ficaria sob a responsabilidade dos colunistas sociais Carlos Estevão e Joacil Martins, os melhores de Patos na época. O show começaria às 22 horas do sábado. Para a propaganda volante, contratei os serviços de Patrissom e tudo seguia às mil maravilhas.

No sábado, pela manhã, eu recebia, na Rádio Espinharas, um telefonema do empresário do Magal, responsável pelos shows no Nordeste, informando o cancelamento do show, dizendo que só tinha vôo para a noite e Magal não viajava naquele horário.

Foi um “Deus nos acuda”! Mandei suspender a ornamentação do clube, suspendi o contrato com o Hotel JK e mandei o Patrício Neto suspender as propagandas volantes. Pedro Correia era o operador  do horário e por curiosidade e para sorte minha, gravou o telefonema.

Nesse dia eu perdi o apetite! Eram quase 2 horas da tarde quando o empresário de Magal, no Rio de Janeiro, ligou para mim, perguntando como estava a propaganda do show. Surpreso, e sem entender mais nada, eu contei o que estava acontecendo, deixando o empresário bastante irritado com o seu colega de Recife.

Ele me disse que já estavam no aeroporto e que estaria em Patos, por volta das 18 horas. E o que fazer? Convoquei o Patrício Neto para intensificar a propaganda. E a hospedagem? Recorri ao amigo José Ferreira, gerente do Posto O Tigrão, que prontamente me garantiu um apartamento de luxo para o cantor e sua equipe.

No apartamento do Magal, coloquei a fita com a gravação do empresário nordestino. Eles e seus músicos ficaram pasmados, sem entender como um empresário agia de tal forma. Magal disse que faria o show de toda forma e que não pagaria um centavo ao irresponsável.

Eram 17 horas quando o empresário chegou ao Patos Tênis Clube dizendo que não haveria o show, pois não ia colocar o cantor num clube vazio. Foi aí que convoquei a polícia militar, da qual eu era Assessor e, por determinação do capitão Clementino, colocamos o sujeito detido no interior do clube, pela guarnição policial até o final do show.

Quem havia comprado o ingresso teve direito à sua respectiva mesa. Liberamos a entrada para todos e o clube superlotou, fazendo do show um verdadeiro sucesso, não de bilheterias,  mas de público.

Magal dispensou o cachê, que lhe foi pago pelo empresário que havia promovido toda aquela confusão. Eu paguei apenas ao conjunto que fez o baile e ao pessoal que prestou serviços no clube (porteiros, bilheteiros, guardas e funcionários do clube).

- Por Adalberto Pereira -

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