PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
39 – A política apresenta fatos interessantes: uns engraçados, outros
até certo ponto constrangedores. E foi levado pela curiosidade de conhecer
esses dois lados da política que eu fiquei interessado em acompanhá-la. E isso
começou quando eu ainda tinha 10 anos.
Nessa época, ano de 1951 descambando para as décadas de 60 e 70, eu ouvi
grandes oradores. Posso citar com segurança Alcides Carneiro, na minha infância,
e João Agripino Maia, o leão de Catolé do Rocha, na minha juventude.
Tornei-me admirador do “bacalhau”, como era chamado João Agripino, pela
sua maneira calma, mas severa de proferir seus discursos. Tanto é que guardo
comigo uma frase que ele pronunciou num comício ao lado do Hotel JK, em Patos: “Se eu não puder fazer mais; se não
puder fazer melhor, o mínimo que farei é o que Pedro Gondim já fez!”.
Mas como eu dissera no início, fatos interessantes e constrangedores se
misturam no mundo da política. E é isso que faz dela atraente. O fato que mais
me constrangeu foi um tumultuo em um comício na Praça da Bandeira, em Capina
Grande, em 1950, culminando com um tiroteio que causou a morte de duas pessoas.
Em Patos a disputa acirrada entre Edivaldo Fernandes Motta e Rui de
Andrade Gouveia, provocou intriga entre famílias e até entre pessoas amigas.
Pena que essas pessoas não sabiam que tudo não passava de uma jogada para
tornar as campanhas políticas mais ferrenhas.
Edivaldo fazia um comício na Rua da Baixa, enquanto Rui Gouveia
realizava o dele no Alto do Hospital, próximo ao local onde está o Estádio
Municipal José Cavalcante. Zé de Gena, “edivaldista” de morrer, sempre levava
um gravador e às escondidas, gravava os discursos de Rui para mostrar a
Edivaldo depois.
No final do comício, lá estava Zé de Gena mostrando a gravação do
discurso de Rui. Eu estava de lado e ouvi os ataques que Rui fazia contra
Edivaldo, inclusive colocando em jogo a honra de d. Francisca Motta. Edivaldo
ouvia tudo em silêncio, vez por outra soltava um sorrido meio amarelo de quem
não estava gostando.
Eu sabia que aquele sorriso de Edivaldo era uma demonstração de que o
troco estava se aproximando. Nem Edivaldo, nem Rui deixavam de graça uma
ofensa. E foi aí que veio o que eu esperava:
Edivaldo disse, quase murmurando: - Vamos marcar um comício para
domingo, no mesmo local! Vamos apagar o rastro daquele F.D.P! Eu pensei comigo
mesmo – êita que o negócio vai pegar fogo. Eu tinha plena certeza de que
Edivaldo não deixaria isso de graça!
A passeata saiu pela 18 do Forte, passou pela algodoeira de Severino Lustosa e seguiu pela Felizardo
Leite até chegar à casa de Edivaldo. Era sempre assim que acontecia depois dos
comícios.
Todos foram para suas casas e, como sempre acontecia, eu era um dos
últimos a sair. Senti alguém tocando no meu ombro. Era Edivaldo Mota. Confesso
que tremi nos “alicerces”. O que se passava na cabeça de Edivaldo?
Acompanhado de Zé de Gena, ele me chamou para tomarmos um aperitivo no
Escondidinho, um local onde funcionavam umas sinucas e, no seu interior, um
salão com luz negra, onde eram servidas as mais variadas bebidas.
Procuramos uma mesa num local afastado da entrada e ele pediu três doses
de uísque. Perguntou o que eu e Zé de Gema queríamos. Eu pedi uma dose de
Campari e Zé de Gena, o mesmo que Edivaldo.
Não demorou muito, e eu que estava de frente à entrada, notei a chegada
de Rui Gouveia e mais dois companheiros. Fiquei preocupado. Edivaldo e Zé de
Gena, como de costume, não largavam os seus taurus 38. Eu também estava com o
meu Smith 32. Pensei: - vai dá m...!
Tranquilamente, toquei no braço de Edivaldo e disse: - Ei, Perereca,
vamos embora! Já bebemos, tiramos a poeira da garganta, agora vamos pegar o
leito! Mas o Zé de Gena olhou para Edivaldo e baixinho disse:
- o Rui acaba de entrar! O que você quer que eu faça? Eu tremi! Mas,
para minha surpresa, Edivaldo reagiu: - Agora é que eu não saiu daqui! Aquele
F.D.P. vai engolir o que disse da Francisca!
Edivaldo se levantou e se dirigiu até a mesa onde estavam Rui Gouveia e
seus companheiros. Vocês vão acreditar no que vem agora? Pois acreditem se
quiser, mas eu estava lá e vi o inacreditável.
Edivaldo chegou, puxou uma cadeira da mesa ao lado e sentou frente a frente
com Rui, que fez um sorriso debochado e gritou para o garçom, apontando para
Edivaldo: - traz um copo pra esse nojento aqui.
Este, por sua vez, desabafou: - Domingo eu vou fazer um comício lá no
Alto do Hospital e vou falar da tua mãe, como você falou da Francisca. Aí você
vai ver com quantos paus se faz uma cangalha!
Rui Gouveia, olhando pra Zé de Gena, falou: foi esse linguarudo aí, não
foi? Mas tudo foi uma brincadeira! Coisas de política! Faz assim: fala da minha
mulher, mas deixa a velha em paz.
O clima foi assim por quase uma hora e entre mortos e feridos, todos
saíram ilesos. São os bastidores da politica brasileira. Aí eu te pergunto:
vale a pena brigar por político?
- Por Adalberto Pereira –
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PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
40 – Dr. Valdemar Florentino de Souza Irmão é um nome que merece estar
guardado com muito carinho no coração de cada amigo que ele conquistou com o
seu jeito saudável de conviver com as pessoas. Eu o conheci quando trabalhamos
juntos na Rádio Espinharas de Patos.
Não levando a sério o seu radicalismo político, sentimos muito orgulho
de tê-lo como amigo. Seu coração muito maior do que muitos pensam, estás muito
bem localizado num ser humano privilegiado pela simplicidade e por uma
humildade ímpar.
Mas o meu objetivo não é trazer à tona as virtudes deste cidadão que
todos conhecem muito bem. Souza Irmão, como nós o conhecemos e “Bili” para sua
esposa Louraci, leva consigo o terrível “vírus do esquecimento”, que age
liberalmente quando não está no seu estado de repouso.
Certo dia, estávamos no bar da nossa amiga Lila, o conhecido Bar
Fluminense, local de encontro dos radialistas, quando o Souza aparece ofegante
e sem uma gota de sangue. Certamente algo não está bem com o colega, pensamos
nós. Com os olhos arregalados, ele grita:
- Gente, acabaram de roubar o meu carro! Lila, me dá uma caneta e um
guardanapo! Vamos fazer uma note para divulgar na rádio! Vamos, Lila! Depressa!
Alguém ao pegar o guardanapo e a caneta, começou a fazer as perguntas
para as devidas anotações: tipo, cor e
ano do carro, hora do furto, local onde estava o veículo! De repente, entra no
bar um rapaz e ao ouvir os comentários, bate no ombro de Souza e pergunta:
- Doutor! Aquele carro azul que está na frente do Banco do Brasil, não é
o seu?
Souza deu um longo suspiro de alívio, bateu com a mão na testa e mesmo
abafado pelas gargalhadas dos presentes, deu para ouvi-lo dizer:
- É verdade! Não é que eu fui de carro pro banco e nem lembrava!
Mas o “vírus do esquecimento” não largava o colega. Certa vez uma de
suas clientes levou como presente para ele uma galinha. Depois da agradecer,
ele colocou a “penosa” num canto da parede até chegar o fim do expediente.
Depois de liberar a secretária e guardar os utensílios de trabalho, ele
pegou a galinha, desceu os degraus do consultório e jogou o “presente” no
porta-malas do carro. Antes de chegar em casa, passou na padaria da rua do
Prado, comprou pão e seguiu para o repouso diário.
Dias depois, Louraci começa a sentir um mal cheiro dentro de casa. Os
dois começam a vasculhar a casa toda, pensando se tratar de um rato morto.
Foram várias tentativas e nada. O mal cheiro ficava cada vez mais forte e,
consequentemente, insuportável.
Souza se preparava para tirar o carro da garagem quando Loura gritou lá
de dentro:
- Bili! Quando você vier pra casa traz um galeto pro almoço!
Foi aí que Souza lembrou da galinha. Correu para trás do carro, abriu o
porta-malas e lá estava a “penosa” morta e apodrecida. Descobriram, afinal,
qual a causa da fedentina!.
Ainda bem que ele nunca esqueceu o horário de apresentar comigo o jornal
na Rádio Itatiunga! Seria um desastre!
- Por Adalberto Pereira –
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