PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.
41 - Aqui está mais uma história envolvendo a Rádio Espinharas! Aliás, a cada dia
um fato novo acontecia, sempre tendo como protagonistas os colegas de trabalho.
Em muitos deles eu estive entre eles.
Eu sempre procurei trabalhar com imparcialidade. Ao divulgar a notícia,
eu tinha o cuidado de estudá-la melhor para saber se valia a pena levar ao
conhecimento dos meus ouvintes. O jornalista cuidadoso merece a credibilidade
de quem o acompanha.
A primeira coisa que eu fazia era “fechar os olhos” para os
protagonistas dos fatos. Fosse rico ou pobre, feio ou bonito, famoso ou
desconhecido, preto ou branco, todos tinham de minha parte o mesmo tratamento.
Estava eu na minha sala de trabalho, preparando o noticiário do próximo
horário, quando o telefone tocou. Era o soldado Albino me comunicando que tinha
uma notícia “bomba”. Eu perguntei de que se tratava, mas ele disse que eu só
saberia quando chegasse à Delegacia.
Depois fiquei sabendo por ele mesmo que não havia antecipado o fato
temendo eu não ter coragem de divulgar. Mas eu nem era medroso e nem protecionista.
Não era daqueles que “corriam do páreo”.
Foi então que me deparei com uma cena constrangedora: a polícia havia
prendido o filho do prefeito de uma cidade vizinha, pelo desfalque de cem
cruzeiros dos cofres da Prefeitura. O pai estava inconsolável diante do filho
cabisbaixo.
Procurei o Delegado, colhendo dele todos os detalhes do fato.
Silenciosamente, em respeito ao sentimento de um pai aflito, sai de mansinho e
fui direto para a Rádio, a fim de divulgar o que seria motivo de espanto para a
população.
Temendo ser procurado por alguém na tentativa de me impedir de levar ao
ar aquele triste acontecimento, fiz tudo discretamente. Entrei no estúdio, pedi
que o controlista abrisse o microfone e joguei no ar, a “notícia bomba”.
Minutos depois, e quando já preparava a notícia para o jornal, recebia
na minha sala a visita do prefeito, pai do infrator, acompanhado pelo Pe.
Assis. E foi o próprio Pe. Assis que, com aquele seu jeito respeitoso e
respeitador, pediu-me para não divulgar o fato no jornal do meio dia, o
“Comunicação Total”.
Senti que o prefeito estava arrasado diante da situação desconfortável
em que se encontrava. Eu também me encontrava em situação idêntica, mas pelo
fato de não poder informar com maiores detalhes, em atendimento ao pedido do
Pe. Assis, a causa da prisão do delinquente.
Olhei para o Pe. Assis e disse que, se não era para divulgar aquele fato
envolvendo o filho do Prefeito, também não divulgaria quando o infrator fosse
uma pessoa das periferias. Era o que eu chamava de justiça. Vale salientar que
o prefeito continuou sendo meu amigo.
No dia seguinte, fui convocado a comparecer à sala do Pe. Assis, que
sempre muito educado, pediu-me desculpas pelo fato de interceder em favor do
Prefeito. Pe. Assis sabia da seriedade com que eu realizava o meu trabalho.
Sempre que o fato poderia gerar conflitos de opiniões, eu preferia fazer
tudo no mais completo sigilo. O bom mesmo era mostrar a verdade, mesmo que esta
não agradasse a alguém. Este foi o grande segredo do meu sucesso como
jornalista.
Não divulguei os nomes da cidade e dos envolvidos, em respeito ao
prefeito que, apesar do mau comportamento do filho, era um cidadão honesto e
bastante respeitado na região, inclusive amigo de Pe. Assis e correligionário de
Edivaldo Motta, de quem eu era grande amigo e eleitor.
- Por Adalberto Pereira –
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