sábado, 30 de maio de 2020

ACONTECEU DE VERDADE - 21


PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU.     

41 - Aqui está mais uma história envolvendo a Rádio Espinharas! Aliás, a cada dia um fato novo acontecia, sempre tendo como protagonistas os colegas de trabalho. Em muitos deles eu estive entre eles.

Eu sempre procurei trabalhar com imparcialidade. Ao divulgar a notícia, eu tinha o cuidado de estudá-la melhor para saber se valia a pena levar ao conhecimento dos meus ouvintes. O jornalista cuidadoso merece a credibilidade de quem o acompanha.
A primeira coisa que eu fazia era “fechar os olhos” para os protagonistas dos fatos. Fosse rico ou pobre, feio ou bonito, famoso ou desconhecido, preto ou branco, todos tinham de minha parte o mesmo tratamento.

Estava eu na minha sala de trabalho, preparando o noticiário do próximo horário, quando o telefone tocou. Era o soldado Albino me comunicando que tinha uma notícia “bomba”. Eu perguntei de que se tratava, mas ele disse que eu só saberia quando chegasse à  Delegacia.

Depois fiquei sabendo por ele mesmo que não havia antecipado o fato temendo eu não ter coragem de divulgar.  Mas eu nem era medroso e nem protecionista. Não era daqueles que “corriam do páreo”.

Foi então que me deparei com uma cena constrangedora: a polícia havia prendido o filho do prefeito de uma cidade vizinha, pelo desfalque de cem cruzeiros dos cofres da Prefeitura. O pai estava inconsolável diante do filho cabisbaixo.

Procurei o Delegado, colhendo dele todos os detalhes do fato. Silenciosamente, em respeito ao sentimento de um pai aflito, sai de mansinho e fui direto para a Rádio, a fim de divulgar o que seria motivo de espanto para a população.

Temendo ser procurado por alguém na tentativa de me impedir de levar ao ar aquele triste acontecimento, fiz tudo discretamente. Entrei no estúdio, pedi que o controlista abrisse o microfone e joguei no ar, a “notícia bomba”.

Minutos depois, e quando já preparava a notícia para o jornal, recebia na minha sala a visita do prefeito, pai do infrator, acompanhado pelo Pe. Assis. E foi o próprio Pe. Assis que, com aquele seu jeito respeitoso e respeitador, pediu-me para não divulgar o fato no jornal do meio dia, o “Comunicação Total”.

Senti que o prefeito estava arrasado diante da situação desconfortável em que se encontrava. Eu também me encontrava em situação idêntica, mas pelo fato de não poder informar com maiores detalhes, em atendimento ao pedido do Pe. Assis, a causa da prisão do delinquente.

Olhei para o Pe. Assis e disse que, se não era para divulgar aquele fato envolvendo o filho do Prefeito, também não divulgaria quando o infrator fosse uma pessoa das periferias. Era o que eu chamava de justiça. Vale salientar que o prefeito continuou sendo meu amigo.

No dia seguinte, fui convocado a comparecer à sala do Pe. Assis, que sempre muito educado, pediu-me desculpas pelo fato de interceder em favor do Prefeito. Pe. Assis sabia da seriedade com que eu realizava o meu trabalho.

Sempre que o fato poderia gerar conflitos de opiniões, eu preferia fazer tudo no mais completo sigilo. O bom mesmo era mostrar a verdade, mesmo que esta não agradasse a alguém. Este foi o grande segredo do meu sucesso como jornalista.

Não divulguei os nomes da cidade e dos envolvidos, em respeito ao prefeito que, apesar do mau comportamento do filho, era um cidadão honesto e bastante respeitado na região, inclusive amigo de Pe. Assis e correligionário de Edivaldo Motta, de quem eu era grande amigo e eleitor.

- Por Adalberto Pereira –

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