quinta-feira, 16 de março de 2023

 

                                           MINHA INESQUECÍVEL CAMPINA GRANDE     

PARTE 1

Campina Grande é uma cidade que, ao longo dos anos, tem passado por transformações extraordinárias. É uma cidade que tem uma história cheia de emoções, não só na política, como em outros segmentos da sociedade.

Foi lá onde vivi momentos que merecem ser levados em consideração pelas formas como se desenrolaram, fazendo dos seus personagens figuras inesquecíveis pela maneira de cada um se comportar.           

No Alto da Bela Vista, a figura de destaque foi o Bruxelas, um vizinho metido a entendedor de política, mas que ficava furioso se alguém falasse mal da UDN (União Democrática Nacional),  partido que se identificava pela cor amarela.    

Na Rua Monte Santo, os acontecimentos foram os mais diversos, mas sempre existe aquele que nos chama mais a atenção. Não dá para esquecer os momentos na casa do Bila, um funcionário da Cutelaria Caroca. 

Ali acontecia de tudo, até os ensaios da Escola de Samba  do Vasco da Gama, o time de coração do Bila e onde dei meus primeiros passos no futebol,  integrando o seu quadro juvenil ao lado de outros garotos, entre eles Antônio Correia, Nivaldo e Zé Costa.

Era um local meio desorganizado, mas gostoso de se visitar. Também era difícil resistir ao olhar fulminante da Carminha, filha de d. Mercês e irmã do Maurício que foi para o Rio de Janeiro e virou cabeleireiro.

Certa vez, inventaram de convidar o cantor Zito Borborema para um almoço num dia de domingo. Para isso, minha mãe teve que colaborar com os ingredientes principais. A única galinha disponível pela família era uma que estava doente e prestes a dar o último "suspiro". Aproveitaram e serviram ao cantor, que não desconfiou de nada.

Só sei que o almoço foi bastante animado e nós não podíamos perder o saudável "evento". Só não arriscamos provar da galinha. Ficamos apenas a observar como o convidado saboreava a "penosa" com tanto prazer. 

Houve um momento em que o Bila passou por mim, deu uma leve cotovelada e piscou como se quisesse dizer alguma coisa que ninguém podia ouvir, principalmente o cantor Zito Borborema.

Na Rua Arrojado Lisboa, o destaque ficava por conta do Dr. Mário, que de doutor só tinha mesmo o apelido. Era um sujeito de meia estatura, que não largava do paletó e muito menos da idéia de que era um grande orador.

Morava numa casinha ao lado da nossa e todas as vezes que saltava da lotação, ficava em pé na nossa calçada e ali permanecia até descobrir que não era observado, para entrar em sua casa.  Era muito conhecido pelas pessoas da alta sociedade campinense, que o tinha como objeto de diversão.

Lá, na Praça da Bandeira, o dr. Mário fazia seus discursos, usando palavras eruditas, ouvidas e decoradas por ele ao presenciar conversas entre Ronaldo Cunha Lima, Vital do Rego e Raimundo Asfora, na calçada do café São Braz.

Mas não poderia falar na Arrojado Lisboa e omitir a Escola de d. Adelma, onde d. Guiomar, sua filha, era a professora principal. Esta escola era referência, inclusive para chacotas. Muitos chegavam a dizer ironicamente: estudou na escola de d. Adelma.

Mas a figura mais lembrada em minhas conversas era d. Ambrozina, casada com Seu João Coveiro, assim conhecido por ser administrador do Cemitério do Carmo. Ela era daquelas pessoas que só tinham parentes ricos e famosos.

Certa vez, um seu sobrinho que era funcionário da Prefeitura Municipal de Campina Grande e responsável pela manutenção da iluminação pública, ao subir na escada para trocar uma lâmpada, desequilibrou-se e caiu da escada.

Ele ainda foi levado ao hospital, mas não resistiu e veio a falecer. Uma vizinha nossa, sabendo da morte do eletricista, correu até a residência de d. Ambrozina para comunicar o triste fato.

Mas a reação da nossa personagem foi surpreendente. Mostrando total indiferença,  olhou nos olhos da informante e disse que ela não tinha nenhum parentesco com o infortunado cidadão. Disse ser ele apenas um conhecido da família.

Dias depois, ela bateu em nossa porta, chamou minha mãe e a abraçou em soluços. Minha mãe perguntou o que havia acontecido e ela disse em prantos, que seu primo, um odontólogo, havia falecido. Depois descobrimos que, em relação ao parentesco, era tudo mentira.

Mas o que marcou a figura de d. Ambrozina foi a forma como ela se comportava diante de suas visitas aos enfermos. Certa vez, ao visitar um cidadão que se encontrava bastante febril, ela olhou para a esposa do enfermo e disse:

- Minha filha! Pra ser sincera, pelo jeito ele não vai até amanhã. Veja! Ele não tem uma gota de sangue! Já vi um caso igual e a pessoa só teve uma semana de vida. Pode preparar a mortalha!

E se pensam que ela falava baixinho, estão totalmente enganados. O enfermo olhou para a incômoda visitante e quase a engole com um olhar de raiva. A família ficou revoltada e para evitar que a situação piorasse, educadamente convidou-a para tomar um cafezinho. Única forma de afastá-la do local.

Para d.Ambrozina  era tão normal agir daquela maneira que as pessoas até passaram a evitar  recebê-la para visitar seus enfermos. Certa vez, Seu Pedro Nicolau, um vizinho nosso, cuja casa ficava em frente à nossa,  estava enfermo e ela foi visitá-lo. Chegou à porta da residência e gritou:

- Ô de casa! D. Inacinha, a senhora tá em casa?

Ao abrir a porta e se deparar com d. Ambrozina, d. Inacinha, a esposa do enfermo, adiantou-se dizendo que ele já estava bem e que já havia até saído para o trabalho. Assim, evitou a "trágica" visita. Mas Seu Pedro estava lá no quarto em pleno repouso e livre do pessimismo da visitante.

Falar sobre Campina Grande e não lembrar algumas figuras que marcaram os meus onze anos vividos alí, seria uma imperdoável ingratidão. Infelizmente não consegui lembrar de todos, pois minha memória tem seus limites.

Assim, vale a pena citar professores como d. Raimunda, d. Terezinha, d. Otília (primário); Marly Carvalho e d. Jacinta (Francês); Pe. Emídio e Sevi Nunes (Latim); d. Vanda (Geografia); Gadelha (Canto Orfeônico); Raimundo Suassuna (História); Sinval (Matemática); Paloma (Inglês); Djalma (Trabalhos Manuais). 

Também devem ser citados os Diretores, José Loureiro e Severino Loureiro (Colégio Alfredo Dantas); Raul Córdula e William Ramos Tejo (Colégio Estadual da Prata). Homens ilustres e eruditos, que muito contribuíram para o soerguimento do sistema educacional da Rainha da Borborema.

Bem! Vou ficando por aqui! A história é longa e cheia de emoções. Se for a vontade de DEUS a segunda parte será publicada brevemente. Aguardem!

(História escrita por Adalberto Pereira)

(Direitos autorais reservados)


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