MINHA INESQUECÍVEL CAMPINA GRANDE
PARTE 4
Campina Grande também teve nomes que causavam terror no meio de sua pacata sociedade. Quem viveu aquela época deve lembrar de elementos como João Cabeludo, o famoso tarado Manteiga e o João Alves de Brito (João Madeira), que assassinou o Vereador Felix Araújo.
Vamos falar um pouco das aventuras e da sorte de cada uma das personagens aqui citadas, E nada melhor do que começar pelo João Cabeludo, o terror da polícia e da sociedade campinenses.
JOÃO CABELUDO
Diziam, na época, que o João Cabeludo, ao ser perseguido pela polícia, entrava no matagal e se transformava num "tôco" de onde saía uma densa fumaça. Mito ou verdade, o fato é que ele esbanjava terror nos bairros de Campina Grande.
Preso, João Cabeludo ainda tentou uma fuga mas sua ação foi frustrada pela descoberta feita por um policial. Tomando conhecimento do fato, o delegado autorizou que ele fosse conduzido até um local da cadeia, onde receberia uns "conselhos" não muito agradáveis.
Eu estava no quintal de casa quando ouvi alguém dizendo: "Me matem, mas não me torturem! Acabem logo com isso!" Subi no muro e vi que se tratava do João Cabeludo. Um soldado mandou que eu descesse, mas ao ouvir um disparo, subi rapidamente e ainda vi o corpo caído com um buraco nas costas.
A morte do João Cabeludo aconteceu no pátio interno da Casa de Detenção e foi provocada por um tiro de fuzil desferido pelo soldado Matusalém, o mesmo soldado que me mandara descer. O projétil entrou no peito e saiu nas costas, provocando um furo enorme. Foi horripilante.
Saí correndo, entrei em casa e, com os olhos arregalados, como se tivesse visto um monstro, gritei pra minha mãe: "Mãe! o soldado matou um preso e eu vi, mãe!". Ela me agarrou e disse, "Cala a boca, menino! Não vai contar isso pra ninguém, ouviu?". Inútil a advertência, pois horas depois a cidade inteira já sabia.
JOÃO MADEIRA
João Alves de Brito, o João Madeira, depois de assassinar o Vereador Félix Araújo, pulou o muro do jardim de uma residência, onde ficou escondido, não sei por quanto tempo. Disseram depois que foi na casa de Plínio Lemos. Coincidência ou não, até hoje as más línguas dizem que ele, o Dr. Plínio, tinha alguma ligação com o crime.
João Madeira foi preso e uma certa noite, já chagando a madrugada, alguém abriu a cela onde ele estava, facilitando a invasão de outros presos que, segundo comentários, também tiveram suas celas abertas propositadamente. Chegaram a dizer que foi o próprio soldado de plantão o facilitador. Quanto ele recebeu e quem o pagou, ninguém arriscou a dizer.
O certo é que os detentos revoltados, invadiram a cela do João Madeira e o assassinaram de forma trágica com golpes de facas de mesa, garfos e outros instrumentos cortantes . Eu morava no Monte Santo, próximo à Casa de Detenção e, como estava febril e com dificuldade de conciliar o sono, ouvi os gritos da vítima pedindo socorro. De nada adiantou.
No dia seguinte o corpo foi conduzido até o necrotério do Cemitério do Carmo, onde ficou à disposição dos curiosos até ser jogado numa cova, nu e sem caixão como se fosse um animal desprezível. Eu estava presente e vi pessoas atirando pedras e torrões sobre o corpo do João Madeira. A cena era comovente e de causar náuseas até nos mais insensíveis seres humanos.
Os órgãos genitais da vítima foram colocados no seu peito, como uma insuportável e repugnante prova da revolta dos presidiários. Lá, no necrotério, ouvi algumas pessoas comentando baixinho que foi uma mulher presidiária a autora da castração. Certo ou errado, o fato é que os "instrumentos" do cadáver estavam lá e eu vi.
MANTEIGA
O Manteiga, cujo nome verdadeiro ninguém nunca soube, era um tarado muito perigoso que causava terror entre as mocinhas de Campina Grande. Se alguém falasse esse nome o desespero tomava conta do ambiente.
E qual o perfil do sujeito? Era um tipo elegante, com um andar diferente, bem perfumado e com uma cabeleira tipo Elvis Presley. O excesso de brilhantina fazia os seus cabelos brilharem ao sol. Tinha muita facilidade de conquistar garotas da sociedade campinense, seus alvos preferidos.
Mas um certo dia alguém "derreteu" o Manteiga. Ele se deu mal ao mexer com uma jovem da alta sociedade campinense. Depois de ser procurado até no Rio de Janeiro, o "Don Juan" foi descoberto e preso em Campina Grande.
Segundo notícia circulada pela cidade, o cara perdeu os principais documentos que faziam dele um perigo para o mundo feminino. Chegaram a dizer que o cara ficou tão gordo que era difícil reconhecê-lo.
"RATINHO"
Aproveitando o assunto, vale a pena falar sobre o "Ratinho", um criminoso bastante perigoso, que deixava apavorados os comerciantes de Campina Grande. Ao ser preso, ele se tornou o dono da cela onda estava com mais três bandidos.
Ele costumava usar a sua força física contra quem ali chegasse. Até que um dia chegou um rapazinho que tentara matar um cidadão em uma cidade próxima à Campina Grande. Ratinho tentou "usar" o rapaz, que resistiu enquanto foi possível.
O sujeito era tão mal que a comida que era servida, ele comia primeiro, cuspia no restante e obrigava os comparsas a comerem sem esboçarem qualquer tipo de reação. Ele era o único que dormia numa rede. E ai daqueles que contestassem.
"Ratinho" fez um sorriso irônico e disse: "Vai dormir, garoto. Amanhã você será o meu "café da manhã", Durante a noite, enquanto todos dormiam, o rapaz com muito esforço, conseguiu arrancar o cano da pia.
Era madrugada quando ele alcançou o seu objetivo. Silenciosamente deu umas cutucadas no "Ratinho" e com duas pancadas na cabeça, matou o brutamontes. Outro bandido que acordou teve o mesmo fim. Um terceiro ainda chegou a ser levado ao hospital, mas morreu no caminho.
Nunca um presidiário recebeu tantos presentes, como o matador dos três bandidos. É que comerciantes e comerciários de Campinas Grande comemoraram a morte do cara que os deixava em pânico. Até uma cama com colchão e cobertores foram enviados para o jovem.
Bem! Vou ficando por aqui! A história é longa e cheia de emoções. Se for a vontade de DEUS a quinta parte será publicada brevemente. Aguardem!
(História escrita por Adalberto Pereira)
(Direitos autorais reservados)
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