segunda-feira, 27 de março de 2023

UMA HISTÓRIA COMOVENTE > VALE A PENA ACOMPANHÁ-LA - Parte 6

 

                                            MINHA INESQUECÍVEL CAMPINA GRANDE

PARTE 6                         

Desde o primeiro dia da nossa chegada à Campina Grande, minha vida passou por uma transformação impressionante, a começar pela minha adaptação aos costumes da cidade, muito diferentes dos costumes de Paulista.

Lá, os tratamentos que em Paulista eram seu moço e senhora, eram seu Zé e d. Maria; deixei de chamar os meninos de garoto para chamá-los de guri. Venda era bodega; gás era querosene; deixei de saborear meu gostoso amendoim cozinhado e o gostoso mungunzá pernambucano.

Nas minhas narrativas anteriores procurei registrar fatos que marcaram os onze anos bem vividos na Rainha da Borborema. E sempre que um fato era lembrado, outros iam surgindo, chegando a ocupar espaços divididos em seis etapas.

Campina Grande sempre será uma cidade inesquecível para aqueles que viveram  e que ainda vivem grandes aventuras. No meu caso, essas aventuras começaram quando eu ainda tinha 9 anos, ou seja, no ano de 1950.

Vale salientar que o meu primeiro emprego foi numa banca de revista, localizada na esquina do prédio da chamada Mesa de Renda, perto da Prefeitura. Eu tinha 16 anos. De lá, fui trabalhar no escritório de Representações do sr. Geraldo Soares, no Edifício Açu, na Praça da Bandeira. De lá só saí para servir ao Exército Brasileiro.

Quando eu estudava no Colégio Alfredo Dantas muitas coisas aconteceram. Foi nessa época que conheci um jovem poeta chamado Ronaldo Cunha Lima, que sempre tomava seu cafezinho São Braz, no andar térreo do Edifício São Luiz, onde funcionava a Rádio Borborema.

No mesmo local funcionava a Sorveteria Flórida. Aquele local também era frequentado por mais dois ilustres intelectuais conhecidos como Vital do Rego e Raimundo Asfora. Eu sempre gostava de ficar bem próximo aos três, ouvindo palavras eruditas e anotando algumas num papel para, em casa, consultar o dicionário e saber os seus significados.

Na Panificadora Das Neves, eu comprava o saboroso "Pão Recife", o preferido do meu pai. Na Praça da Bandeira, bem na esquina com a Getúlio Vargas, o Edifício dos Correios e Telégrafos era para nós, um local de visita especial. 

Eu e uns colegas do Alfredo Dantas, depois das aulas, íamos até lá para subirmos e descermos no elevador. Um dia faltou energia e ficamos presos por quase meia hora. Era uma aventura inesquecível e que nos deixava muito felizes.

Um fato que não poderia escapar eram as minhas brigas com o colega Mailton. Essas disputas aconteciam ao lado do prédio dos Correios. Tinha até torcida organizada. Uns chegavam a apostar o lanche do dia seguinte.  Minha mãe nem sonhava que aquilo acontecia. Se ela descobrisse a palmatória entrava em ação.

Eu era muito briguento e as brigas aconteciam duas e até três vezes por semana. Depois,  eu e o Mailton seguíamos juntos para casa, pois o trajeto era o mesmo. Nunca ficamos rivais, mesmo porque estudávamos na mesma classe e até algumas vezes dividíamos o lanche: um pão com doce comprado na cantina da d. Júlia, dentro do próprio Colégio.

Nas proximidades dos Correios estava o Cine Capitólio e mais ao lado o Abrigo Maringá, onde estavam muitas barracas, onde meu pai comprava caixas de passas para me agradar. Descendo mais um pouco, a Primeira Igreja Batista, frequentada por meus pais e pastoreada pelo Reverendo  Silas Falcão.

Bem ao lado do prédio dos Correios ficava o Colégio da Damas. Muitas vezes ficávamos sentados na Praça esperando a saída das alunas daquele colégio. Descendo na mesma rua do Cine Capitólio, estava o Cine Babilônia. Os dois eram sensacionais. Mais embaixo estava o Açude Velho. 

Ali também se destacava os Edifícios  Ezial e Açu, onde eu trabalhei no escritório de representações do sr. Geraldo Soares. Era ali, bem na frente onde paravam os ônibus coletivos com destino ao Monte Santo e a Bodocongó,  passando pela Praça Felix Araújo e pela Arrojado Lisboa.

Lembro até da sinuca do Biuzinho, onde eu frequentava para ver um rapazinho chamado Paulo Arruda dar o seu show de sinuca. Ele chegava a dar 50 pontos de vantagem aos seus adversários. Quando o Fluminense do Rio de Janeiro foi jogar amistosamente contra o Treze, os jogadores Pinheiro, Altair, Quarentinha  e o goleiro Castilho foram lá jogar sinuca. O espaço foi pequeno para os curiosos que pediam até camisas aos atletas.

E as lembranças continuam até chegar aos clubes de futebol contra os quais joguei vestindo a camisa 14 do Vasco da Gama do Monte Santo. Cada clube tinha sua sede, onde eram realizadas reuniões todos os sábados à noite. Cada jogador dava a contribuição estipulada pela Diretoria. A contribuição do 1º quadro (o time principal) era maior que a do 2º quadro. 

E por falar em Monte Santo, quero usar este espaço para destacar uma família que eu havia esquecido em minhas citações:  a família do casal "Gorducha" e d. Mercês, pais da Carminha, do Maurício e de um garoto, cujo nome não me chega à memória. Seria uma ingratidão não destacar essas pessoas.

Era naquela casa, que ficava ao lado da nossa, onde nos reuníamos para bater aquele papo gostoso com o Bila, um funcionário da então Cutelaria Caroca. Bila era uma presença indispensável nos nossos jogos oficiais e amistosos. Ele tinha um carinho especial pelo Vasco da Gama. Às vezes servia até de roupeiro.

Voltando ao assunto dos clubes, vamos começar nossa caminhada pelo Humaitá, um time de Bodocongó, onde se destacavam os jogadores Icário, Adautinho, Lelé e o goleiro João Pipoca. Seguimos com o Bangu da Casa de Pedra; o Corinthians, o Flamengo de Zé Pinheiro; o 15 de Novembro; Vitória;  o Nacional do Zezé; o Estudantes, onde atuava o grande atleta Salomão; o Madureira e o Paulistano da Liberdade, entre outros.

O campeonato amador da cidade era tão organizado que até jogadores do Treze Futebol Clube fugiam da concentração para jogar uma peladinha fora do Presidente Vargas e longe dos olhos da Comissão Técnica e diretores. Um desses jogadores era o Josias. ponteiro esquerdo do "Galo".

Importante também é lembrar nossas idas às matinês no Cine Avenida. Como eu era menor de idade, minha mãe me deixava sob os cuidados de uma jovem, que acompanhava outros meninos e meninas das Ruas Monte Santo, Ceará, Olegário Maciel e Conde D'Eu. Era ela quem comprava todos os ingressos. Era  muito engraçado!

A última rua onde moramos foi a do Monte Santo. Alí, passavam cerca de 80% dos féretros com destino ao cemitério do Carmo. Nos dias de Finados, a rua ficava repleta de vendedores ambulantes, que ofereciam flores, velas  e outros apetrechos para enfeitar covas e túmulos. Nossa casa ficava a menos de duzentos metros do portão principal do "campo santo".

Bem! Vou ficando por aqui! A história foi longa e cheia de emoções. Mas todo esse trabalho foi realizado com a ajuda do nosso DEUS, que nos orientou e abriu nossa mente, para registrarmos os fatos nela guardados por longos anos.  A ELE toda a nossa gratidão.

(História escrita por Adalberto Pereira)

(Direitos autorais reservados)


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