FORA DO AR
O rádio sempre foi a
coqueluche do momento, com um ibope de causar inveja. As emissoras se
esforçavam para oferecer o que havia de melhor aos seus fiéis ouvintes. Qual
era o cantor que não se sentia orgulhoso sabendo que suas músicas eram rodadas
nos programas de rádio? Eles faziam questão de visitar as emissoras, muitos
deles com um disco Compacto nas mãos para ser lançado.
Mas não era apenas isso! O
sonho dos jovens era ser locutor de rádio. Quando conseguiam realizar esse
sonho faziam questão de desfilar nas ruas de cabeça erguida para serem vistos
pelos seus ouvintes. Ficavam felizes ao serem reconhecidos.
O negócio era tão bom que
uma senhora chegou a levar o filho para apresenta-lo ao diretor de uma
determinada emissora, afirmando ter ele uma belíssima voz. “ele tem uma voz
linda e afinada, senhor” – disse ela, tentando “encher a bola” do garoto, que ouvia
encabulado.
Como era salutar receber as
visitas das pessoas que procuravam ansiosas, conhecer o locutor de determinados
programas! Apertar a mão do seu “ídolo” e pousar com ele numa fotografia, era
um prêmio para ser guardado pelo resto da vida. Para isso, muitos levavam uma
máquina fotográfica para registrar o momento.
Inconformados em apenas
conhecer o seu locutor preferido, ouvintes mais apaixonados convidavam os
profissionais do rádio para finais de semanas nos sítios, fazendas, chácaras,
ou para almoços em suas residências. Eles faziam questão de oferecer o que
havia de melhor, em termos de comidas e sobremesas.
Estar no ar é o que todos
que ingressam na vida radiofônica almejavam. Ter um programa com a participação
do ouvindo ao vivo, animava e mostrava a capacidade que cada um tinha de
conquistar o seu público ouvinte. Se não houvesse reclamações por parte dos que
fazem a linha de frente, pelo menos o emprego estaria garantido.
Um programa bem planejado
com atrações diversificadas atrai grandes patrocinadores. O bom apresentador
para manter seu programa no ar com um alto índice de audiência precisa ter uma
boa dicção, mostrar-se sempre sorridente e nunca tentar inserir os ouvintes nos
seus problemas pessoais. Deve se conscientizar de que o microfone é um
instrumento de trabalho e não uma arma de vingança.
Quem faz sucesso no ar deve
estar preparado psicologicamente para um futuro incerto, pois a vida
profissional de um radialista está dividida em três partes distintas: começo,
meio e fim. A partir do momento em que ele estiver FORA DO AR, terá alcançado o
ponto negro de sua vida profissional. É a época do esquecimento, uma ingratidão
a que todos estão sujeitos.
Encontrei um colega
radialista, cuja fama fizera com que ele se auto elogiasse, achando-se
insubstituível. Mesmo sendo muito procurado, não dava a atenção merecida aos
seus admiradores. Eu sempre o prevenia dizendo que o nosso futuro era bastante
ingrato. Ele ria ironicamente e se retirava em silêncio.
Quando o encontrei senti uma
tristeza estampada no seu rosto. Cabisbaixo, dizia-se decepcionado com aqueles
por quem fora tantas vezes ovacionado. Agora, FORA DO AR, ninguém o procurava
mais. Ele não estava preparado para o momento em que descobriu não ser
insubstituível. Enfrentava, então, a ingratidão de quem só nos abraça quando
estamos NO AR.
(Por Adalberto Pereira)
-o-o-o-o-o-o-o-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário