segunda-feira, 2 de setembro de 2019

EDITORIAL DA VIDA


                                                              FORA DO AR 

O rádio sempre foi a coqueluche do momento, com um ibope de causar inveja. As emissoras se esforçavam para oferecer o que havia de melhor aos seus fiéis ouvintes. Qual era o cantor que não se sentia orgulhoso sabendo que suas músicas eram rodadas nos programas de rádio? Eles faziam questão de visitar as emissoras, muitos deles com um disco Compacto nas mãos para ser lançado.

Mas não era apenas isso! O sonho dos jovens era ser locutor de rádio. Quando conseguiam realizar esse sonho faziam questão de desfilar nas ruas de cabeça erguida para serem vistos pelos seus ouvintes. Ficavam felizes ao serem reconhecidos.

O negócio era tão bom que uma senhora chegou a levar o filho para apresenta-lo ao diretor de uma determinada emissora, afirmando ter ele uma belíssima voz. “ele tem uma voz linda e afinada, senhor” – disse ela, tentando “encher a bola” do garoto, que ouvia encabulado.

Como era salutar receber as visitas das pessoas que procuravam ansiosas, conhecer o locutor de determinados programas! Apertar a mão do seu “ídolo” e pousar com ele numa fotografia, era um prêmio para ser guardado pelo resto da vida. Para isso, muitos levavam uma máquina fotográfica para registrar o momento.

Inconformados em apenas conhecer o seu locutor preferido, ouvintes mais apaixonados convidavam os profissionais do rádio para finais de semanas nos sítios, fazendas, chácaras, ou para almoços em suas residências. Eles faziam questão de oferecer o que havia de melhor, em termos de comidas e sobremesas.

Estar no ar é o que todos que ingressam na vida radiofônica almejavam. Ter um programa com a participação do ouvindo ao vivo, animava e mostrava a capacidade que cada um tinha de conquistar o seu público ouvinte. Se não houvesse reclamações por parte dos que fazem a linha de frente, pelo menos o emprego estaria garantido.

Um programa bem planejado com atrações diversificadas atrai grandes patrocinadores. O bom apresentador para manter seu programa no ar com um alto índice de audiência precisa ter uma boa dicção, mostrar-se sempre sorridente e nunca tentar inserir os ouvintes nos seus problemas pessoais. Deve se conscientizar de que o microfone é um instrumento de trabalho e não uma arma de vingança.

Quem faz sucesso no ar deve estar preparado psicologicamente para um futuro incerto, pois a vida profissional de um radialista está dividida em três partes distintas: começo, meio e fim. A partir do momento em que ele estiver FORA DO AR, terá alcançado o ponto negro de sua vida profissional. É a época do esquecimento, uma ingratidão a que todos estão sujeitos.

Encontrei um colega radialista, cuja fama fizera com que ele se auto elogiasse, achando-se insubstituível. Mesmo sendo muito procurado, não dava a atenção merecida aos seus admiradores. Eu sempre o prevenia dizendo que o nosso futuro era bastante ingrato. Ele ria ironicamente e se retirava em silêncio.

Quando o encontrei senti uma tristeza estampada no seu rosto. Cabisbaixo, dizia-se decepcionado com aqueles por quem fora tantas vezes ovacionado. Agora, FORA DO AR, ninguém o procurava mais. Ele não estava preparado para o momento em que descobriu não ser insubstituível. Enfrentava, então, a ingratidão de quem só nos abraça quando estamos NO AR.

(Por Adalberto Pereira)
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