O ABACATEIRO E O
MACHADO - Fábula
Moacir era um matuto
ignorante, dos chamados “cabeça dura”. Nunca aprendeu a ler nem escrever. As
poucas vezes que frequentou uma escola, sempre causou mal estar aos colegas e à
professora. Seu comportamento era insuportável. Reclamava de tudo: “Isso é
vida? Vida boa mesmo é na roça plantando batata, macaxeira e mandioca! Bom mesmo
é caçar preá pra comer no almoço e na janta!”.
Certo dia amanheceu com “a braguilha pra trás”
e resolveu cortar um pé de abacate que plantara há anos, em frente a sua casa.
Era um abacateiro bastante produtivo que, além dos belos e saudáveis frutos,
oferecia uma bela sombra onde as crianças da vizinhança brincavam alegremente.
D. Carolina, ao saber
da intenção do marido, tentou afastar da sua mente perversa aquela ideia absurda. De nada adiantaram
as súplicas da esposa. Os filhos ainda tentaram interceder, mas a brutalidade
do matuto fez com que eles se mantivessem calados. Nem o choro das crianças comoveu
o brutamonte.
Afiou bem o machado e depois
de algum tempo, dirigiu-se ao local da trágica “operação”. Sentou-se, deu um
longo suspiro e escorou o corpo “enferrujado” pelo maltrato da roça no tronco
do abacateiro. Despreocupadamente resolveu preparar o seu tradicional cigarro
de palha. Um belo intervalo para a criação da nossa fábula.
O abacateiro, com um olhar
triste, falou para o machado: O que você pensa fazer comigo? Que mal eu lhe
fiz? O que as criancinhas vão pensar de você quando souberem que você destruiu
esta sombra que serve de estímulo para seus momentos de laser? O que dirão as
pessoas sem os frutos que eu lhes dou?
O machado levantou o olhar e
se encantou com os frutos que aquela árvore produzia. Por um instante, olhou
pesaroso para o matuto que, indiferente a tudo, preparava o seu cigarro. O
abacateiro notou uma gota de lágrima descendo lentamente no rosto do machado.
Houve um silêncio, como se a realidade e o bom senso entrassem na história.
Fitaram-se novamente! O
diálogo entre ambos foi ficando cada vez mais comovente. Cada palavra do
abacateiro enfraquecia as forças do “violento” machado. Enquanto isso, o peso
em sua consciência aumentava cada vez mais. Chorou em silêncio, pensando até
que ponto chegava a maldade do homem. E ele seria o elemento principal para a prática
dessa maldade.
O diálogo entre machado e
abacateiro culminou com a última baforada daquele nojento cigarro de palha e um
arroto mal educado daquele matuto sem
coração. O abacateiro pensou que aquele era o momento cruciante de sua longa
existência. Tudo agora dependia de como o machado agiria sob as ordens de mãos cruéis.
Moacir levantou-se, olhou
indiferente para o abacateiro e sem qualquer sentimento de remorso, pegou o
machado. Tentou erguê-lo. Mas, o que estava acontecendo? – perguntou ele a si mesmo!
Por que não consegue levantar o machado? O que havia acontecido enquanto ele
preparava o seu cigarro? Era inacreditável o que estava acontecendo! Foram
várias as tentativas, todas sem êxito.
Sem conseguir segurar o
instrumento, chamou um dos filhos para ajuda-lo. Sem qualquer esforço, o filho segurou
o machado, olhou para o pai e, com um sorriso de felicidade, falou: - A sua
perversidade causou um grande peso para o machado, meu pai! Deixe o abacateiro
em paz, dando sombras para as crianças e frutos para todos!
Machado e abacateiro se
tornaram grandes amigos e sempre que se encontram lembram com alegria aquele
momento. Chegaram à conclusão de que nada melhor para fortalecer uma grande amizade,
do que um momento de superação à violência e à crueldade do homem. E quanto
cada um descobrir no outro o seu valor, o mundo caminhará sob a sombra do amor
e do respeito uns pelos outros.
OBS.: Esta fábula, que até parece
um conto, pode servir de texto, dependendo da sua escolha. Quem sabe, um dia,
não o transformarei em editorial da vida! Em nome do amor tudo pode acontecer!
(Por Adalberto Pereira)
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