quarta-feira, 4 de setembro de 2019

FÁBULA


                                       O ABACATEIRO E O MACHADO   -   Fábula

Moacir era um matuto ignorante, dos chamados “cabeça dura”. Nunca aprendeu a ler nem escrever. As poucas vezes que frequentou uma escola, sempre causou mal estar aos colegas e à professora. Seu comportamento era insuportável. Reclamava de tudo: “Isso é vida? Vida boa mesmo é na roça plantando batata, macaxeira e mandioca! Bom mesmo é caçar preá pra comer no almoço e na janta!”.

 Certo dia amanheceu com “a braguilha pra trás” e resolveu cortar um pé de abacate que plantara há anos, em frente a sua casa. Era um abacateiro bastante produtivo que, além dos belos e saudáveis frutos, oferecia uma bela sombra onde as crianças da vizinhança brincavam alegremente.

D. Carolina, ao saber da intenção do marido, tentou afastar da sua mente perversa aquela ideia absurda. De nada adiantaram as súplicas da esposa. Os filhos ainda tentaram interceder, mas a brutalidade do matuto fez com que eles se mantivessem calados. Nem o choro das crianças comoveu o brutamonte.

Afiou bem o machado e depois de algum tempo, dirigiu-se ao local da trágica “operação”. Sentou-se, deu um longo suspiro e escorou o corpo “enferrujado” pelo maltrato da roça no tronco do abacateiro. Despreocupadamente resolveu preparar o seu tradicional cigarro de palha. Um belo intervalo para a criação da nossa fábula.

O abacateiro, com um olhar triste, falou para o machado: O que você pensa fazer comigo? Que mal eu lhe fiz? O que as criancinhas vão pensar de você quando souberem que você destruiu esta sombra que serve de estímulo para seus momentos de laser? O que dirão as pessoas sem os frutos que eu lhes dou?

O machado levantou o olhar e se encantou com os frutos que aquela árvore produzia. Por um instante, olhou pesaroso para o matuto que, indiferente a tudo, preparava o seu cigarro. O abacateiro notou uma gota de lágrima descendo lentamente no rosto do machado. Houve um silêncio, como se a realidade e o bom senso entrassem na história.

Fitaram-se novamente! O diálogo entre ambos foi ficando cada vez mais comovente. Cada palavra do abacateiro enfraquecia as forças do “violento” machado. Enquanto isso, o peso em sua consciência aumentava cada vez mais. Chorou em silêncio, pensando até que ponto chegava a maldade do homem. E ele seria o elemento principal para a prática dessa maldade.

O diálogo entre machado e abacateiro culminou com a última baforada daquele nojento cigarro de palha e um arroto mal educado daquele  matuto sem coração. O abacateiro pensou que aquele era o momento cruciante de sua longa existência. Tudo agora dependia de como o machado agiria sob as ordens de mãos cruéis.

Moacir levantou-se, olhou indiferente para o abacateiro e sem qualquer sentimento de remorso, pegou o machado. Tentou erguê-lo. Mas, o que estava acontecendo? – perguntou ele a si mesmo! Por que não consegue levantar o machado? O que havia acontecido enquanto ele preparava o seu cigarro? Era inacreditável o que estava acontecendo! Foram várias as tentativas, todas sem êxito.

Sem conseguir segurar o instrumento, chamou um dos filhos para ajuda-lo. Sem qualquer esforço, o filho segurou o machado, olhou para o pai e, com um sorriso de felicidade, falou: - A sua perversidade causou um grande peso para o machado, meu pai! Deixe o abacateiro em paz, dando sombras para as crianças e frutos para todos!

Machado e abacateiro se tornaram grandes amigos e sempre que se encontram lembram com alegria aquele momento. Chegaram à conclusão de que nada melhor para fortalecer uma grande amizade, do que um momento de superação à violência e à crueldade do homem. E quanto cada um descobrir no outro o seu valor, o mundo caminhará sob a sombra do amor e do respeito uns pelos outros.

OBS.: Esta fábula, que até parece um conto, pode servir de texto, dependendo da sua escolha. Quem sabe, um dia, não o transformarei em editorial da vida! Em nome do amor tudo pode acontecer!

(Por Adalberto Pereira)
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