terça-feira, 17 de setembro de 2019

EDITORIAL DA VIDA


                                                 TIRO PELA CULATRA  

O termo “O tiro saiu pela culatra” é bastante usado quando uma pessoa pensa em fazer alguma coisa e, mesmo achando que os planos são os mais perfeitos possíveis, não consegue alcançar o seu objetivo. Tudo vem na contramão. Isso acontece com  grande freqüência, independente das ocasiões e do lugares.

Certa vez, um caçador saiu para sua costumeira caçada. Tomou um gole de café, deu um beijo na testa da mulher e pegou as veredas. Ele sempre depositou muita confiança na velha espingarda, herança do avô. Por diversas vezes a mulher dissera que estava em tempo dele comprar uma espingarda nova, mas ele não se separava da velha “companheira”.

No meio da mata encontrou uma pedra e fez dela a sua poltrona para descansar da caminhada. Pegou o velho cantil, tomou um gole de água, deu um estalo na língua e preparou um cigarro de palha para dar umas pitadas. Olhou para o céu como se estivesse estudando o tempo, puxou o chapéu de palha pra traz e escorou a cabeça num pé de oiticica. Encostou a velha espingarda em uma das pernas e ficou a contemplar a mata e, enquanto baforava seu cigarro ia fazendo seus planos para aquela caçada.  Depois de devorar o cigarro, levantou-se devagarzinho e caminhou mais uns cem metros até chegar ao local ideal.

Em um dos galhos da árvore notou a presença de algumas de suas primeiras vítimas. Fez um sorriso de felicidade, apontou a soca-soca e acionou o gatilho. O pipoco ecoou por toda a mata, provocando um eco cinematográfico. O tiro saiu pela culatra e a pólvora salpicou a testa do infortúnio caçador. Foi aí que lembrou o conselho da mulher! Realmente estava no tempo de comprar uma espingarda nova.

Mas o tiro também sai pela culatra em outras ocasiões que envolvem outro tipo de caçador. Trata-se do caçador de votos. Numa pequena cidade nordestina, um candidato a prefeito estava com sua campanha indo de vento em popa. Todos já o consideravam eleito e com uma expressiva maioria.

Mas contrariando a família e alguns amigos que coordenavam sua campanha, ele resolveu mexer com o adversário. Descobrindo, através de amigos que o seu opositor era meio gago, resolveu fazer uma brincadeira em um dos seus comícios, gaguejando de forma irônica e proposital.

A brincadeira revoltou a população que via no adversário daquele candidato um homem simples, mas de uma personalidade invejável. Os votos conquistados quando ele falava dos seus planos para a cidade foram desaparecendo, enquanto o outro recebia as adesões dos insatisfeitos.

O tiro saiu pela culatra e o candidato brincalhão perdeu a eleição. Manter a preferência do eleitorado é algo que precisa de preparo moral e muito cuidado no tratamento aos adversários. Geralmente a confiança exagerada leva o candidato a erros imperdoáveis. Não adianta fazer com as mãos e desmanchar com os pés. O eleitor rejeita o candidato corrupto.

O eleitor não suporta candidatos que substituem o respeito aos adversários por discursos agressivos. Um candidato pode ir muito bem nas pesquisas, mas pode reverter a situação se colocar os ataques pessoais acima dos seus planos de governo. Reverter o quadro quando a situação está em decadência e sua eleição está em xeque, pode não ser o caminho a ser seguido. Depois que o tiro sai pela culatra, retirar a pólvora da testa passa a ser uma tarefa difícil e dolorida.

A vida pregressa do candidato pode ser outro fator preponderante na caminhada em busca do sucesso na eleição. Quem plantou sementes selecionadas, com certeza terá diante de si uma árvore que produzirá bons frutos. Os que assim não procederam serão decepcionados em suas pretensões. E nem adianta tentar reverter a situação. A única saída é “jogar a toalha” e corrigir os erros cometidos.

(Por Adalberto Pereira)
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