quinta-feira, 12 de setembro de 2019

EDITORIAL DA VIDA


                                                        TROCADILHO 

Alberto namorava Joana D’Arc, que gostava de Roberto, que era amigo de Alberto, namorado de Joana D’Arc, que traiu Alberto, amigo de Roberto. Os três eram amigos de Pedro, o sacristão da igreja Matriz, cujo pároco era o padre Genaro, amigo dos quatro.

Se eu começasse minha narrativa desta forma, certamente vocês ficariam bastante confusos. Por isso, começarei de uma forma menos anormal.

Alberto era um jovem simples e muito tímido, ao ponto de se transformar quando alguém lhe fazia um elogio. No Colégio Estadual da Prata, onde cursava o segundo ano ginasial, era muito querido pelos professores e respeitado pelos colegas.

Joana D’Arc, ao contrário, era uma garota extrovertida, tagarela e gostava de mexer com todos. Em sala de aula, era ponto de referência, considerada a alegria da turma. Filha de um conhecido comerciante, sempre dava impressão de ser aquele tipo de “protegidinha do papai”.

Roberto era aquele tipo que ficava quietinho para chamar a atenção, sempre esperando a oportunidade para “botar as unhas de fora”. Surpreendia a todos com suas peraltices, que não chegavam a causar danos físicos ou morais a quem ele escolhia para sua próxima vítima.

Todos ficaram boquiabertos quando souberam que Alberto e Joana D’Arc estavam namorando. É que a intimidade entre ela e Roberto, ia além do que se pensava. E não era a toa que muitos colegas chegavam a considerá-los namorados. Quando isso acontecia, eles respondiam: somos apenas colegas!

Certo dia, ao passar em frente à Igreja Matriz da cidade, Alberto encontrou Pedro, o sacristão que o abordou admirado: - Que tipo de amigo você é, hein Alberto! Vai casar e nem avisa aos amigos! – disse o sacristão. Estupefato, Alberto disse que não estava entendendo nada e pediu que Pedro se explicasse melhor.

- Ora, a Joana D’Arc veio com os pais e falou com o padre Genaro sobre os preparativos do casório e, como ela é sua namorada, o noivo só pode ser você, disse o sacristão.

Alberto, meio sem graça, replicou: - Deve ser outra Joana D’Arc, Pedro! As coincidências acontecem! Pedro disse: É! Pode ser! Deu de ombros e foi embora.
Dias depois, Roberto e Joana D’Arc estavam “trocando alianças”. Pensando deixar os dois constrangidos, Alberto fez questão de ficar na porta da igreja para cumprimentar os recém-casados.

Na saída, já casados,  cinicamente, ambos olharam nos olhos de Alberto e agradeceram aos votos de felicidades que saíram dos lábios trêmulos e descoloridos do “amigo”.

Então, a história terminou assim: Alberto namorou Joana D’Arc, que gostou de Roberto, que fingira ser amigo de Alberto. Os três eram amigos de Pedro, o sacristão da igreja Matriz, cujo pároco era o padre Genaro, amigo dos quatro, mas que, sem entender patavina do que estava acontecendo, casou Roberto e Joana D’Arc, a que traiu Alberto ex-amigo de Roberto.

E foi assim que eu conclui esta minha narrativa. Não tinha outro jeito, apesar dos esforços para fazer diferente. Por acaso você, leitor amigo, teria outro final para livrar-me desse incômodo  trocadilho?

(Por Adalberto Pereira)
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