TROCADILHO
Alberto namorava Joana D’Arc, que
gostava de Roberto, que era amigo de Alberto, namorado de Joana D’Arc, que
traiu Alberto, amigo de Roberto. Os três eram amigos de Pedro, o sacristão da
igreja Matriz, cujo pároco era o padre Genaro, amigo dos quatro.
Se eu começasse minha narrativa
desta forma, certamente vocês ficariam bastante confusos. Por isso, começarei
de uma forma menos anormal.
Alberto era um jovem simples e
muito tímido, ao ponto de se transformar quando alguém lhe fazia um elogio. No
Colégio Estadual da Prata, onde cursava o segundo ano ginasial, era muito
querido pelos professores e respeitado pelos colegas.
Joana D’Arc, ao contrário, era
uma garota extrovertida, tagarela e gostava de mexer com todos. Em sala de
aula, era ponto de referência, considerada a alegria da turma. Filha de um
conhecido comerciante, sempre dava impressão de ser aquele tipo de
“protegidinha do papai”.
Roberto era aquele tipo que
ficava quietinho para chamar a atenção, sempre esperando a oportunidade para
“botar as unhas de fora”. Surpreendia a todos com suas peraltices, que não
chegavam a causar danos físicos ou morais a quem ele escolhia para sua próxima
vítima.
Todos ficaram boquiabertos quando
souberam que Alberto e Joana D’Arc estavam namorando. É que a intimidade entre
ela e Roberto, ia além do que se pensava. E não era a toa que muitos colegas
chegavam a considerá-los namorados. Quando isso acontecia, eles respondiam:
somos apenas colegas!
Certo dia, ao passar em frente à Igreja
Matriz da cidade, Alberto encontrou Pedro, o sacristão que o abordou admirado:
- Que tipo de amigo você é, hein Alberto! Vai casar e nem avisa aos amigos! –
disse o sacristão. Estupefato, Alberto disse que não estava entendendo nada e
pediu que Pedro se explicasse melhor.
- Ora, a Joana D’Arc veio com os
pais e falou com o padre Genaro sobre os preparativos do casório e, como ela é
sua namorada, o noivo só pode ser você, disse o sacristão.
Alberto, meio sem graça,
replicou: - Deve ser outra Joana D’Arc, Pedro! As coincidências acontecem!
Pedro disse: É! Pode ser! Deu de ombros e foi embora.
Dias depois, Roberto e Joana
D’Arc estavam “trocando alianças”. Pensando deixar os dois constrangidos,
Alberto fez questão de ficar na porta da igreja para cumprimentar os
recém-casados.
Na saída, já casados, cinicamente, ambos olharam nos olhos de
Alberto e agradeceram aos votos de felicidades que saíram dos lábios trêmulos e
descoloridos do “amigo”.
Então, a história terminou assim:
Alberto namorou Joana D’Arc, que gostou de Roberto, que fingira ser amigo de
Alberto. Os três eram amigos de Pedro, o sacristão da igreja Matriz, cujo
pároco era o padre Genaro, amigo dos quatro, mas que, sem entender patavina do
que estava acontecendo, casou Roberto e Joana D’Arc, a que traiu Alberto
ex-amigo de Roberto.
E foi assim que eu conclui esta
minha narrativa. Não tinha outro jeito, apesar dos esforços para fazer
diferente. Por acaso você, leitor amigo, teria outro final para livrar-me desse
incômodo trocadilho?
(Por Adalberto Pereira)
-o-o-o-o-o-o-o-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário