A TROCA DE VALES
Apesar dos conselhos
recebidos de Zéu Palmeira, seu irmão, Seu Du não se emendava. Vez por outra lá
estava ele aprontando as suas. Desta vez, a vítima foi o próprio Zéu Palmeira,
um desportista bastante querido e respeitado na cidade de Patos e
circunvizinhanças. Zéu era “dono” do Esporte Clube de Patos, um dos grandes
representantes da cidade no campeonato estadual paraibano.
Bastante conceituado, Zéu
resolveu candidatar-se a deputado estadual,
para representar as Espinharas da Assembleia Legislativa da Paraíba. Era
a época em que os candidatos podiam “presentear” seus eleitores para conquistar
seus votos. A casa dos Palmeira era “vazada”, com a frente para a Rua Rui
Barbosa.
Zéu e sua equipe prepararam
um “vale” de cinco cruzeiros que seria entregue a cada eleitor cadastrado. Fizeram
então uma fila que começava na frente da residência. O eleitor passava por uma
mesa, onde uma funcionária fazia a entrega do “abençoado” vale, saindo pela
parte de trás da casa. O dinheiro seria entregue depois das eleições do dia 15
de novembro (era a data das eleições no passado).
Inteligente e articuloso,
Seu Du confeccionou outro vale, no valor de dez cruzeiros e ficou nas portas
dos fundos. À proporção que o eleitor ia passando, ele trocava o de cinco pelo
de dez e dizia que a troca pelo valor real só seria feita no dia vinte e não
mais no dia 16, conforme fora prometido. Dizia ter havido uma mudança nos
planos. Muitos preferiram ficar com o vale de cinco, pois já sabiam do que Seu Du
era capaz.
Zéu havia viajado para
Recife e não sabia do que estava acontecendo.
No dia dezesseis, Seu Du entrou
na sala onde Zéu atendia eleitores e amigos, colocou os vales de cinco
cruzeiros na gaveta da mesa de trabalho do irmão, pegou o valor correspondente
e desapareceu.
Zéu Palmeira foi eleito.
Achou estranho que as pessoas não comparecerem para receber o “presente”
prometido. Procurou o irmão para saber o que havia acontecido, mas soube que
ele estava em Recife, na casa do irmão Antônio Palmeira. Ficou meio desconfiado,
mas preferiu “deixar pra lá”.
No dia vinte, marcado por
Seu Du, Zéu acordou com o barulho das pessoas em busca do “presente” prometido.
Finalmente chegaram, pensou ele! Mas não foi pequena a surpresa ao notar que,
no lugar de cinco cruzeiros, os vales registravam o dobro. Para não demonstrar
a raiva que o dominava, Zéu fabricou um sorriso que, nem de longe era o seu
verdadeiro sorriso.
É difícil enumerar as vezes
que Zéu, Manuel e Antônio Palmeira tentaram mudar o comportamento rebelde de
Beca, sem muito sucesso. Parece que estava no sangue de Seu Du, a ansiedade
pelas peraltices por ele praticadas, mas que em nenhum momento maculou o nome
de uma família idônea, querida e respeitada por todos.
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