sexta-feira, 16 de agosto de 2019

AS PRESEPADAS DE SEU DU


                                                 A  TROCA DE VALES

Apesar dos conselhos recebidos de Zéu Palmeira, seu irmão, Seu Du não se emendava. Vez por outra lá estava ele aprontando as suas. Desta vez, a vítima foi o próprio Zéu Palmeira, um desportista bastante querido e respeitado na cidade de Patos e circunvizinhanças. Zéu era “dono” do Esporte Clube de Patos, um dos grandes representantes da cidade no campeonato estadual paraibano.

Bastante conceituado, Zéu resolveu candidatar-se a deputado estadual,  para representar as Espinharas da Assembleia Legislativa da Paraíba. Era a época em que os candidatos podiam “presentear” seus eleitores para conquistar seus votos. A casa dos Palmeira era “vazada”, com a frente para a Rua Rui Barbosa.

Zéu e sua equipe prepararam um “vale” de cinco cruzeiros que seria entregue a cada eleitor cadastrado. Fizeram então uma fila que começava na frente da residência. O eleitor passava por uma mesa, onde uma funcionária fazia a entrega do “abençoado” vale, saindo pela parte de trás da casa. O dinheiro seria entregue depois das eleições do dia 15 de novembro (era a data das eleições no passado).

Inteligente e articuloso, Seu Du confeccionou outro vale, no valor de dez cruzeiros e ficou nas portas dos fundos. À proporção que o eleitor ia passando, ele trocava o de cinco pelo de dez e dizia que a troca pelo valor real só seria feita no dia vinte e não mais no dia 16, conforme fora prometido. Dizia ter havido uma mudança nos planos. Muitos preferiram ficar com o vale de cinco, pois já sabiam do que Seu Du era capaz.
Zéu havia viajado para Recife e não sabia do que estava acontecendo. 

No dia dezesseis, Seu Du entrou na sala onde Zéu atendia eleitores e amigos, colocou os vales de cinco cruzeiros na gaveta da mesa de trabalho do irmão, pegou o valor correspondente e desapareceu.

Zéu Palmeira foi eleito. Achou estranho que as pessoas não comparecerem para receber o “presente” prometido. Procurou o irmão para saber o que havia acontecido, mas soube que ele estava em Recife, na casa do irmão Antônio Palmeira. Ficou meio desconfiado, mas preferiu “deixar pra lá”.

No dia vinte, marcado por Seu Du, Zéu acordou com o barulho das pessoas em busca do “presente” prometido. Finalmente chegaram, pensou ele! Mas não foi pequena a surpresa ao notar que, no lugar de cinco cruzeiros, os vales registravam o dobro. Para não demonstrar a raiva que o dominava, Zéu fabricou um sorriso que, nem de longe era o seu verdadeiro sorriso.

É difícil enumerar as vezes que Zéu, Manuel e Antônio Palmeira tentaram mudar o comportamento rebelde de Beca, sem muito sucesso. Parece que estava no sangue de Seu Du, a ansiedade pelas peraltices por ele praticadas, mas que em nenhum momento maculou o nome de uma família idônea, querida e respeitada por todos.

                                                        -o-o-o-o-o-o-o-o-

Nenhum comentário:

Postar um comentário