O PASSADO NÃO MORREU - Parte 2
Bem! Eu contei na primeira
parte deste meu relato, um pouco da minha vida, a partir de Abreu e Lima,
estendendo-se à Campina Grande, famosa Rainha da Borborema. Agora, começo uma
nova etapa desta minha vida meio interessante e meio chata pra quem está lendo
esse monte de fatos repletos de monotonias.
Na primeira parte do meu
relato, esqueci de citar alguns professores. Assim eu seria um ingrato! Além de
d. Maroca e d. Guiomar, minhas primeiras professoras, outros fizeram parte da
minha vida estudantil: d. Raimunda; d. Terezinha, Marly carvalho (Francês),
Sevi Nunes (Latim), Paloma (Inglês), Gadelha (Canto Orfeônico), Raimundo
Suassuna (História Geral), Sinval (Matemática), d. Vanda (Geografia), Pe.
Emídio (Latim), Pe. Raimundo (Português), José Carlos (Matemática), Osmar
(Geografia), Willy Bullara (Francês). E meus diretores José Loureiro e Severino
Loureiro, Raul Córdula e William Ramos Tejo (em Campina Grande); Durval
Fernandes e Manoel Messias do Nascimento (ambos em Patos).
Quando eu estava no
Exército, um cidadão chamado Alício Barreto, fez um convite para meu pai
gerenciar sua fundição, localizada nas proximidades do antigo Terminal Rodoviário
de Patos. As vantagens oferecidas não poderiam ser rejeitadas e meu pai aceitou
“in loco”!. Minha mãe ficou em Campina Grande cuidando de mim e do meu irmão
Abinoan, que tinha apenas dois anos.
No final do mês de janeiro,
sabendo que eu havia cumprido o meu tempo do BSvE, meu pai voltou à Capina
Grande para levar-me para Patos. Ele havia conseguido, junto ao Sr. Eliezer de
Holanda Cavalcante, um emprego na algodoeira Anderson & Clayton. Era um
emprego muito legal: eu era responsável pela conferência das cargas que ali
chegavam. Conferia o peso do caminhão carregado e dele sem a carga.
Dia 3 de março de 1961. Por
volta das 19 horas eu e meu pai chegávamos à cidade de Patos, na Paraíba. Tudo
era muito estranho para mim, inclusive a temperatura. Sair de Campina Grande
com uma temperatura girando em torno dos 21ºC, para enfrentar um calor de 35ºC,
não era moleza! Por mim, teria ficado em Campina Grande, onde já estava fazendo
o curso de Paraquedista do Exército. Mas minha mãe não permitiu o meu
engajamento.
Pelo menos foi uma viagem
divertida. Teve até o lance de um passageiro que adormeceu e passou da cidade
onde deveria descer! Foi um “Deus nos acuda!”. Pela segunda vez eu viajava de
trem. O cenário era uma beleza! Mato de um lado, mato de outro e o único colorido
que agradavam aos meus olhos era o dos gravetos espalhados pelos áridos
terrenos por onde o trem passava numa lentidão de dar náuseas.
Mas não deixou de ser uma
aventura a mais na minha vida, já acostumada com as surpresas, em sua grande
maioria, surpreendentes. A primeira coisa a fazermos foi seguir da Estação
Ferroviária para o Hotel Santa Terezinha, de um cidadão chamado Vicente. O
local era ótimo! Ficava a uns 50 metros da estação e a uns 150 metros do
Terminal Rodoviário.
No início era tudo muito estranho.
Meu pai, que chegara em Patos a alguns meses, já era hóspede do hotel. Bom
mesmo foi saber que a empresa onde eu iria trabalhar, a Algodoeira
multinacional Anderson & Clayton, ficava quase em frente ao hotel Santa
Teresinha. Bastava atravessar a pista e pronto. Ao lado, ficada a SANBRA
(Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro).
Para ser mais preciso, tudo
isso: Hotel, algodoeiras e até a Cadeia Pública, ficavam no início da rua
Horácio Nóbrega. Hoje, fazendo o mesmo percurso, se continuássemos caminhando,
chegaríamos ao Hospital Regional Janduhy Carneiro e ao Estádio Municipal José
Cavalcanti. Mesmo sendo noite, eu já procurava decorar alguns pontos da cidade.
Começava aí, mais uma etapa
da minha vida, agora na cidade de Patos, conhecida como a “Morada do Sol”. Já
no primeiro domingo, fui com meu pai para a Escolas Dominical na Igreja
Batista, na rua Felizardo Leite. Fiz minhas primeiras amizades, a começar pelo
Pastor Silas Melo e sua esposa, d. Maria José Melo, (d. Zezé).
Outros amigos surgiram:
Juvenal Jerônimo, Severino Siqueira, Manoel Lucena, Manoel Ananias, Silvino
Lucena, Wilson Dias Novo, Neemias Quaresma, Agripino Santos (Pepino), José
Inácio, Aristides, Abraão Luiz, José Vicente, Leonila Lemos (Ir. Nila),
Olindina Siqueira, Maria Souza, Maria Belchior, Rosa (esposa do Abraão) e
muitos outros.
Conquistando a amizade e o
carinho de todos, passei a ter uma vida bastante ativa naquela igreja, onde fui
professor, superintendente da Escola Dominical, Secretário e responsável pelo
serviço de som da igreja, função que me levou aceitar ao convite para coordenar
e apresentar, com o pastor Silas Melo, o programa “A Voz Batista do Sertão”,
pela Rádio Espinharas de Patos, a pioneira da região.
Ano de 1962. Em atendimento
ao convite do radialista José Augusto Longo da Silva, fui apresentar com ele o
programa esportivo daquela emissora, levado ao ar às 18 horas. Foi o primeiro
passo para ficar trinta anos como radialista, tendo passagens por várias
emissoras de rádio da Paraíba e do Pernambuco, bem como oito jornais
paraibanos, pernambucanos e baianos. Foram 30 incansáveis anos de profissão.
Naquela época, a Rádio
Espinharas pertencia ao deputado Federal Drault Ernani de Melo e Silva e tinha
como diretor Maurício Leite. No quadro de locutores lembro o Artur Dionísio,
Luiz Pereira, José Augusto Longo da Silva, Mainardo Santos, Ramalho Silva,
Batista Leitão e Bosco Boró. No quadro de operadores: Orlando Xavier, Edilson
Brandão, José Wilson, Pedro Correia, mestre Abdon e Luiz Oliveira. Não poderia
esquecer o velho e querido Zacarias e a tesoureira Socorro que casou com o
Severino Quirino.
Zé Augusto e Luiz Pereira
acharam meu nome ridículo para um locutor e mudaram para Carlos Alberto, que
pegou rápido e perdurou por muitos anos, até os ouvintes se acostumarem com o
Adalberto Pereira a partir de 1973, minha segunda etapa naquela emissora. Daquele
ano até 1964, apresentei os programas “Seu Pedido, Sua Música”, à noite; “A
Música das Ruas” e “Cartão Sonoro”, ambos à tarde. O número de cartas recebidas
mostrava que a audiência estava indo bem! Já dava até para pedir um
aumentozinho de salário!
Com a substituição do
Maurício Leite pelo Rackson Torres, as coisas não funcionaram da mesma forma. A
rádio já não mais pertencia ao Dr. Drault Ernane, pois fora vendida à Diocese
de Patos. Muitas coisas mudaram e eu não via com bons olhos a maneira como o
Rackson conduzia a emissora. Preferi sair e seguir a minha vida à minha moda.
Fui trabalhar com meu pai na oficina de Seu Alício Barreto.
Ano de 1969. Eu nem pensava
mais voltar ao rádio, quando fui procurado para trabalhar na Difusora Rádio
Cajazeiras. Foi até uma surpresa, pois já estava afastado dos microfones há
quase 5 anos. Em Cajazeiras, fiquei hospedado no Cajazeiras Hotel, de d.
Lourdes. Deparei-me com uma proibição ridícula dos diretores Mozart e José
Adegildes: Não podia visitar a concorrente Rádio Alto Piranhas. Mas eu visitei,
mesmo contrariando à ordem recebida e causando o espanto dos colegas. (Eu não
comprara a briga deles!).
Eu apresentava um programa
romântico, recitando poesias de minha autoria e de outros autores. Vez por
outra, apresentava editoriais escritos por mim. Fechei a audiência do horário e
me mantive no ar, mesmo sabendo que já não era bem visto pelos diretores. Não
demorei muito tempo ali e resolvi deixar tudo e voltar para Patos. Foram quase
quatro anos afastado dos microfones! Isso me incomodava, pois eu já estava com
o rádio no sangue.
Final do ano de 1972. A
situação financeira não estava boa. Resolvi procurar emprego nas rádios de
Campina Grande. Na Caturité, disseram que o quadro estava cheio, na Borborema
acharam que não tinha experiência suficiente. Fiquei sabendo que a Cariri
estava precisando de locutores. Fui lá e fiz um teste. Fui aprovado, mas só me
prometeram o emprego para o mês seguinte. Sabendo disso, Petrônio Gouveia, José
Augusto Longo e Batista Leitão pediram ao Pe. Assis que me contratasse.
O padre Joaquim de Assis Ferreira
me contratou e daquela data até o ano de 2001, nunca mais fiquei fora do rádio.
Eu já era conhecido como Adalberto Pereira e tinha o meu próprio espaço. Foi
quando coloquei no ar o programa “O Domingo é Nosso”, que explodiu na
audiência. Para o sucesso do programa contei com grandes parceiros: Empresa de
Transportes Marajó; Cine São Francisco; Foto Alarcon; Aguardente Coroa; Sorveteria
Tchan; Banca de Revistas A Manchete; e Aldo Baterias, além do comércio
patoense.
Alcancei o meu objetivo
maior: dar oportunidade aos artistas da terra, levando para o programa Jáder, o
Garotinho do Forró Quente; Agamenon Show; Gilson Monteiro, com sua voz
inconfundível; José Valadares e o seu trio. Pudemos dar oportunidades a
artistas como Midian Alves e Gê Maria. Mas não fiz tudo sozinho, contei com a
participação de Cilene Medeiros, Sildani Medeiros e Arlene Nóbrega.
Nossa equipe de operadores era
sensacional! Juarez Farias, José Medeiros, José do Bonfim, Pedro Correia, Antônio
Vieira, José Maria, José Augusto da Costa Nóbrega, Petrônio Gouveia. Todos eles
revestidos de uma competência invejável. Isso dava mais brilho ao nosso
programa e nos colocava numa situação bastante cômoda para apresentá-lo. Para
completar, contávamos com a eficiência do nosso discotecário Amaury de
Carvalho.
Na minha segunda passagem
pela Rádio Espinharas, outros grandes profissionais, além dos que vieram de
1962, marcaram presença em minha vida: Sousa Irmão, Louraci Freitas, Nestor
Gondim, Paulo Porto, Juarez Farias, Batista de Brito, Edleuson Franco de
Medeiros, Aloisio Araújo, Roberto Fernandes, Francisco Tomaz de Brito, Luiz
Gonzaga Lima de Moraes, Fildani Gouveia, Joaquim Pedra, José Medeiros, Assis
Pedra, Petrônio Gouveia, Odísia Wanderley, Corina Gomes.
Somem-se a estes, aqueles
que me receberam de braços abertos no início da minha carreira, que só encerrou
em 2001, quando decidi morar em Brasília. Vale relembrar: Pedro Correia,
Orlando Xavier, Edleuson Franco, Amaury de Carvalho.
Vários fatos marcaram minha
passagem pelas oito emissoras da minha vida. Lembro que no início da minha
carreira, havia na Rádio Espinharas o famoso gongo, que soava quando
anunciávamos uma nota de falecimento ou um convite de missa. O gongo deu
defeito e mestre Abdon levou para concertar em casa. Alguns dias se passaram
sem o “sonoro” gongo.
Despreocupado como sempre o
foi, o locutor Mainardo Santos (que detestava quando colocavam nota de
falecimento para ele divulgar) lançou um olhar de raiva para o operador Luis
Oliveira (outro despreocupado), e mandou: “Nota de falecimento!”. Esperou o
gongo e nada! Viu quando Luiz gesticulou dizendo que seguisse em frente. Foi aí
que o Mainardo lembrou que estava sem o aparelho do gongo. Sem pensar duas
vezes, Mainardo fez com a boca os três sons do gongo e divulgou a nota.
E já que estou falando do
Mainardo Santos, lá vai outra dele: Era natural naquela época, as pessoas
ligarem para a rádio para se informar da hora certa. Isso deixava o operador
apavorado. Vendo a preocupação do colega, Mainardo foi atender ao telefone. Do
outro lado da linha uma voz feminina fazia a tradicional pergunta: Pode me
informar a hora certa, por favor? Mainardo – Venda o telefone e compre um
relógio. No dia seguinte a mulher foi com o marido prestar queixas ao Maurício
Leite, que demitiu Mainardo na hora!
Em Patos, além de
radialista, passei a viver outros momentos de muitas emoções. Primeiro, fui
convidado pelo prefeito Edmilson Motta para ser seu assessor de imprensa. Ele
mesmo, vendo a minha facilidade no domínio da Língua Portuguesa, convidou-me
para lecionar no Colégio Municipal Aristides Hamad Timene. Aceitei aos dois
convites.
Isso abriu grandes espaços
para outras atividades na área da educação! Lecionei nos cursos preparatórios
para vestibular. O primeiro deles foi o Curso Kennedy, do Dr. Efigênio; o
segundo foi o Curso Extra 3; e o último, o
Curso Apolo 11. Aí o negócio disparou e fui contratado para lecionar
Língua Portuguesa no Colégio Comercial Roberto Simonsen.
Mas eu sempre queria mais! Para
isso, passei a estudar as regras de futebol e iniciei minha carreira como
árbitro na Liga Patoense de Futebol, filiada à Federação Paraibana de Futebol.
Fiz isso durante 12 anos. Da mesma Liga, fui vice-presidente na gestão de Mário
Lemos e Diretor do Departamento de Arbitragem da mesma entidade.
E como já estava “na dança”,
aceitei ao convite do Francisco de Assis Vieira (Binda), para ser treinador do
Central Futebol Clube. Cheguei até a ser goleiro do time em algumas partidas.
Mas as emoções não acabaram por aí! O presidente da L. P. F., Juracy Dantas de
Sousa, me fez um convite ousado: ser técnico da Seleção Amadora. E quem disse
que eu ia perder essa oportunidade?
Mas espera aí! Que negócio é
esse de ser Relações Públicas da Polícia Militar? Pois é! Foi durante um jantar
oferecido à Imprensa patoense, pelo III BPM, na Churrascaria Buena Brasa, que o
então capitão Clementino, comandante da 4ª Companhia, anunciou o meu nome como
Relações Públicas da Polícia Militar, comandada pelo Cel. Deuslírio Pires de
Lacerda. Lá passei dois anos, até ir trabalhar em Petrolina.
Ôpa, ia esquecendo que
também dei uma de cantor e compositor! Pois é! Para participar de um Festival
de Músicas Carnavalescas, no Cine El Dourado, compus três músicas: “Saudades
dos Carnavais” (marcha-rancho), Até Quarta-Feira e “A Marcha da Peteca” (estas
marchas de salão). Somente “Saudades dos Carnavais” ficou entre as cinco melhores.
O maestro Saraiva (Valdemir Campos) fez os arranjos dela e de “Até Quarta-Feira”. Por unanimidade da Câmara Municipal, foi-me outorgado o título de CIDADÃO PATOENSE (Projeto de Lei de autoria do vereador Polion Carneiro).
A partir daí, passei a
receber propostas para integrar os quadros de cantores das orquestras carnavalescas.
Entre elas, lembro-me da orquestra do maestro Rusinho e da orquestra do maestro
Zé da Trompa. Cantamos em Coremas, São Mamede, Maturéia, Taperoá e no Centro
Recreativo de São Sebastião, em Patos. Eu selecionei um vasto repertório. A
minha alegria levava os foliões ao delírio.
Tá bom! Já escrevi demais!
Já provei que ainda estou com a memória fértil, apesar dos quase 7.8. Depois,
se me der coragem e se a memória continuar ajudando, na terceira parte, falarei
de outras aventuras do meu passado que, graças a Deus, ainda não morreu!
(Por Adalberto Pereira)
-o-o-o-o-o-o-o-
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