A REVOLTA DOS MACACOS - Fábula
O homem, na ânsia de
usufruir a qualquer custo do direito de ser inteligente, pelo menos em certos
momentos, costuma criar situações visando uma posição de destaque no status
social. Imortalizar-se é o sonho de todos ou, na melhor das hipóteses, da
grande maioria. Isso não é fruto de um presente, temperado pelo egoísmo de quem
quer superar a tudo e a todos. Trata-se de uma psicose que remota dos tempos
dos trogloditas, dos já esquecidos paleolíticos.
E foi justamente num
momento de desgaste mental que o homem criou a idéia de que ele descende do
macaco. Este fato me levou a pensar como seria a imagem de Deus. Ao assistir ao
filme “King Kong”, afastei o meu olhar da tela, levei meu pensamento para fora
da sala de projeção e, mesmo sem sair de onde estava, comecei a ver meu Deus,
que me criou à sua imagem e semelhança, “despencando” daquele edifício e se
estatelando no chão, diante de centenas de olhares curiosos. Agora, longe
daquele lúgubre pensamento e daquela ideia pecaminosa, criei esta fábula:
A ESTÓRIA
Eram quase sete horas da
noite, quando o macaco “rei” entrava na gruta cavada pela própria Natureza,
para uma reunião emergente com a “macacada”, divertidos habitantes da floresta.
O clima era de muita expectativa. Afinal, o que teria provocado aquele
encontro? Certamente algo diferente deveria estar acontecendo para tirá-los de
seus afazeres e conduzi-los a uma incômoda assembleia.
O pigarrear, acompanhado de
um estrondoso “boa-noite” foi suficiente para tirá-los dos pensamentos que os
tomavam naquele momento. Todos se acomodaram em seus respectivos lugares. A
atenção era geral. Até parecia que todos estavam envolvidos por uma ação
hipnótica. Era um silêncio sepulcral, que foi quebrado pela voz autoritária do
grande chefe. Vamos considera-lo o “king Kong” (não o do filme que levou
milhões de pessoas às lágrimas).
- Meus senhores e minhas
senhoras! – começou o macacão. Eu os convoquei para esta reunião de emergência,
levado por um fato que me deixou bastante revoltado! Mais uma vez, a provocação
tem como protagonistas os humanos, mais precisamente uns cientistas malucos,
que se autodeterminam de heróis da sapiência universal.
Se já era grande a
expectativa, mesmo antes daquelas declarações, agora as coisas já passavam a
preocupar a todos os presentes. E o chefe prosseguiu:
- As coisas passaram dos
limites! Agora, eles estão afirmando que os homens são nossos descendentes!
Houve um murmúrio geral.
Era uma reação mais de revolta do que de admiração. E a reunião continua:
- Não aceitamos, em
hipótese alguma, esta humilhação! Nós não assaltamos bancos! Não somos nós que
sequestramos, matamos estupramos e falsificamos dinheiro! Nós não causamos
desfalques no INSS e não inventamos o mensalão! Precisamos ser respeitados! Não
podemos ser comparados àqueles que causaram o caos na educação, na saúde e na
segurança pública.
Todos se levantaram e, em
forma de protesto, gritavam:
- SOMOS HONESTOS! NÃO SOMOS
ASSASSINOS! EXIGIMOS RESPEITO!
Eufórico pelas reações de
apoio, o chefe dos macacos prosseguiu:
- Nós jamais invadimos
propriedades alheias, aproveitando-nos da sigla MST! Nunca destruímos
plantações, nem agredimos pessoas indefesas, para nos apoderar daquilo que não
nos pertence! Não traficamos armas nem drogas para fortalecer o crime
organizado! Não somos nós os culpados do presidente da República se preocupar
com os problemas lá de fora sem, antes, resolver os nossos, que são mais
cruciantes! Não criamos o Estatuto do Menor e do Adolescente, que estimula o
envolvimento de crianças com o crime organizado! Não fazemos parte da Comissão
dos Direitos Humanos, que só defende os criminosos, virando as costas para as
famílias dos cidadãos honestos e trabalhadores, assassinados covardemente! Não
somos nós os responsáveis pela insegurança das famílias e pelo desrespeito aos
direitos dos verdadeiros cidadãos!
As manifestações de revolta
dos macacos continuavam cada vez mais fortes, à proporção em que o chefe
falava.
- Diante de tudo o que foi
exposto, temos preparado um documento, no qual expomos a nossa revolta e o
nosso protesto contra a posição dos inconscientes cientistas. Repudiando a
afirmativa de que o homem é nosso descendente, exigimos das autoridades
competentes, um pedido formal de desculpas e a promessa de que, a partir de
hoje, os macacos sejam vistos como o único exemplo de patriotismo e de
moralidade nacional! TENHO DITO!
Todos aplaudiram com
entusiasmo a decisão do “king Kong” e o conduziram nos braços, como se faz com
os verdadeiros heróis.
NOTA DO AUTOR: Quaisquer
semelhanças com fatos reais, são meras semelhanças!
Criação e Postagem: Adalberto Pereira.
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