Até os meus
9 anos de idade, morei em Abreu e Lima, então Distrito de Paulista - Pernambuco.
Nasci na Usina Timbó, na Rua Azul, quando
Abreu e Lima ainda era conhecida por Maricota. Hoje, lembrando os meus tempos na
“casa do alto”, resolvi contar um pouco de lá em versos, com o título:
A VIDA
NA ROÇA EM ABREU E LIMA
No
sítio em Abreu e Lima pouca coisa se comprava,
Pois
meu pai sempre plantava muitas frutas e verduras
Era um
tempo de farturas sendo Deus o nosso escudo.
Tinha
remédio pra tudo, dor de cabeça e coceira;
Tinha
erva-doce, e cidreira, capim santo e
sabugueiro,
Nem
precisava dinheiro pra comprar medicamentos.
Trabalhos
para os jumentos lá na roça não faltavam
Nas
cangalhas transportavam mangas, sapotis e cajus.
E no
meio dos bambus muitas cobras venenosas.
As
mocinhas vaidosas usavam vestido de chita.
Cada
uma mais bonita requebrando a cintura,
Era a
beleza mais pura, presente vindo do céu.
Tinha o
canto do xexéu, do canário e sabiá,
Um pé
de maracujá se espalhava no cercado
E o
mugido do gado era a mais bela canção.
Tinha
pés de fruta-pão, de graviola e caju,
Jabuticaba
e umbu, laranja cravo e mamão.
Tinha
jaca e limão e nada faltava pra gente.
Cada
amigo e parente que a roça visitava
Sempre
dali levava muitas frutas e verduras.
Até mel
de rapadura tinha na roça também.
Na
nossa casa ninguém passava necessidade,
Diferente
da cidade, onde o povo chora e clama,
Na roça
não se reclama por falta de amor e paz.
Na
cidade não se faz a vida ter alegria;
Seja
noite, seja dia não se encontra segurança;
De lá
só quero lembrança, além disso, nada mais.
Na roça
se vive em paz, lá não tem poluição,
Não se
vive de ilusão, tudo é felicidade.
Lá se
vive de verdade contemplando a natureza.
Nossa
vida tem beleza, pois na roça só Deus manda;
Lá tem
rede na varanda para o corpo descansar,
Tem água
de coco e cajá, cana caiana e maçã.
Banana
prata e anã, e água na cachoeira.
Mandioca
e macaxeira, batata doce e cará,
Tudo isso
tinha lá no sítio onde eu morava
Nada
pra gente faltava e todo mundo era feliz.
Quem vai
lá sempre diz: daqui eu não saio mais!
Lá tem
moça e tem rapaz e segurança pra gente.
Lá tem
peba e tem serpente, jararaca e cascavel,
E as
estrelas no céu brilham com mais beleza
Como é
bela a natureza na roça onde eu vivia!
Quando
meu pai saia de casa pra trabalhar
Minha
mãe ia cuidar dos bodes, e das galinhas
E para
nossas vizinhas mandava ovos e frutas
Eu via
sair das grutas muitas cobras venenosas
Eram muito
perigosas mas eu nem tinha medo
Pois era mais um segredo que Deus guardava na
roça.
Carro
de boi e carroça passavam pelas estradas
Neles
eram transportadas mercadorias pra feira
E
levantavam poeira para o vento espalhar.
Agora
vou encerrar esta minha narração,
Sem
tirar do coração as lembranças do passado,
Quero
sempre estar lembrado da minha vida na roça.
AUTOR: Adalberto Pereira.
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