O LADO NEGRO DA POLÍTICA
Como seria o mundo sem a
política? Essa pergunta eu fiz a mim mesmo há pelo menos 40 anos atrás. Com
pequenos intervalos eu a tenho repetido por diversas vezes, principalmente nos
últimos 20 anos. As respostas se apresentam de várias e diferentes maneiras.
Por exemplo: que tal acabar com as eleições para vereadores, prefeitos e
deputados, passando os mesmos a serem escolhidos através de concursos públicos,
dos quais só pudessem participar quem tivesse cursos superiores? O primeiro
resultado positivo seria a economia nos cofres públicos e a eliminação do nosso
dinheiro nas “farras” promovidas por políticos descarados e sem o menor
escrúpulo.
A primeira vez que a política
despertou em mim um interesse inexplicável, eu tinha apenas 10 anos. Isso
aconteceu em 1951, na cidade de Campina Grande. Querendo ver de perto um
discurso de um cidadão chamado José Américo de Almeida, pedi que meu pai me
levasse até a Praça da Bandeira, onde haveria uma concentração política. Minha
paixão pela política, que era bem diferente da atual, com homens também muito
diferentes, passou a fazer parte de minha vida, levando-me por diversas vezes a
sonhar num palanque, pronunciando frases de homens eruditos que eu decorava com
a maior facilidade.
Durante anos convivi com o bipartidarismo.
Que anos áureos da política brasileira!!! Havia mais fidelidade! Quem era da
UDN, por exemplo, defendia a bandeira do partido com “unhas e dentes”, sem se
deixar levar pela influência do dinheiro sujo do poder e das conveniências dos
cargos públicos e dos empregos de familiares. Era o tempo em que os homens
tinham vergonha na cara e chegavam até a contaminar seus eleitores com o
tempero da honestidade. Como era lindo ver meus pais dizendo de cabeça erguida
que votavam com orgulho no PSD (Partido Social Democrático)!
Mas os anos passaram e os
políticos perderam a vergonha! Já não tinham o mesmo sentimento de honestidade!
Como as prostitutas vendem seus corpos, eles passaram a vender o seu caráter, lançando
nos esgotos podres a sua idoneidade moral! A política virou politicagem e os
políticos, politiqueiros. Perdendo os escrúpulos, os eleitores se tornaram em
verdadeiros mercenários, votando em quem der mais. Outros mais sem-vergonhas
que os politiqueiros, recebem esmolas travestidas de “ações sociais”,
tornando-se verdadeiros escravos das migalhas derramadas debaixo das “mesas”
fartas de quem saqueia os bolsos dos cidadãos honestos.
Às vezes, envolvido por
pensamentos positivos, penso estar navegando nos mares serenos da felicidade!
Saindo desses pensamentos, deparo-me com a frase pronunciada pelo Kiko ao
empurrar o frágil senhor Madruga! É aí que passo a pensar até que ponto chega a
falta de bom senso dos politiqueiros do presente, dando direitos a analfabetos
a irem às urnas! Mais enraivecido me sinto sabendo que esses mesmos
aproveitadores da insignificância cultural de muitos, também colocaram diante das
urnas, menores que ainda nem se deram conta da responsabilidade de um voto. E
são esses mesmos que, “blindados” por um Estatuto fajuto e irresponsável, não
podem responder pelos crimes por eles praticados.
Ainda na lúgubre contemplação do
lado negro da política, vejo-me diante de um Congresso medroso, inseguro e
impotente (por que não dizer covarde?) para mudar uma lei que coloca o cidadão
nas mãos fulminantes e assassinas de bandidos inescrupulosos, e ainda desafia a
nossa impotência com uma pensão para as famílias de quem ceifa vidas inocentes.
E tudo isso sob os preciosos aplausos de uma miserável e cínica Comissão dos
Direitos Humanos. Até parece que estamos diante de sócios beneméritos das
facções criminosas que, no silêncio da sua conivência, concordam plenamente com
esse descalabro social.
Saudades dos velhos tempos dos
políticos sérios, quando o ensino público colocava jovens nos primeiros da
lista dos vestibulares da UFPb e UFPe. Como era maravilhoso estudarmos Educação
Moral e Cívica, cantarmos o Hino Nacional Brasileiro nas salas de aula,
desfilarmos garbosos em comemoração ao Dia da Independência. A politicalha
castrou das crianças e dos jovens o direito ao espírito patriótico. Aqueles que
prometeram ser nossos representantes no Congresso Nacional, não passam de
marionetes manipuladas pelas mãos de quem governa de costas para o povo. Que
saudades de homens ilustres que lutaram por um país justo! Se vivos estivessem,
certamente estariam decepcionados com os Partidos a quem pertenceram e que se
venderam por moedas bem mais valorosas do que aquelas recebidas por Judas, o
traidor. Basta vermos os desfalques na Petrobrás e no BNDES.
Como posso mentir para meus
filhos, netos e bisnetos, dizendo-lhes amar um país que se naufraga num mar de
lamas, sendo conduzido por politiqueiros indesejáveis, desmerecedores do nosso
respeito? Serei eu, por acaso, obrigado a depravar-me lançando-me no leito da
hipocrisia, simplesmente para ser ovacionado pelos incautos seguidores dos que
conduzem o país ao caos? “A política afina o espírito humano, educa os povos no
conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a
nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento...”. E ele
prossegue falando sobre a verdadeira política: “Não é esse jogo da intriga, da
inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem...”.
Usando de sua inefável
capacidade intelectual, Rui Barbosa diz que politicagem não traduz ainda todo o
desprezo do objeto significado e que sem dúvida rima muito bem com criadagem, patrolagem, afilhadagem e ladroagem. Concluindo, ele
pergunta: “Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo?
Politicaria? Politicalha? Política e Politicalha não se confundem, não se
parecem, não se relaciona uma com a outra. Antes, se negam, se excluem, se
repulsam mutuamente. A Política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios
definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A
Politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais.”
Realmente, a Política “é o
exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma,
enquanto a Politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos
negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A Política é
a higiene dos países moralmente sadios, enquanto a Politicalha é a malária dos
povos de moralidade estragada.” Essas comparações nos levam a uma convicção
de que somos tragados e estragados pela malária espalhada por esta politicalha
instalada nos mais altos escalões dos setores que administram o país.
Quem será capaz de nos socorrer?
Quando serão eliminados os subservientes que servem de pedras de tropeço na
estrada que nos conduz à ordem e ao progresso do nosso país? Quem poderá
moralizar os nossos três Poderes? Quando teremos uma imprensa livre e
comprometida com a sociedade sofrida e cada vez mais distante dos seus
direitos? Até quando estaremos contemplando o lado negro da política? As
respostas a essas perguntas tornam-se impossíveis enquanto vivermos na
dependência daqueles que, pela sua deficiência ética e cultural, ainda não
sabem os verdadeiros deveres dos parlamentares que deveriam nos representar nos
cargos que ocupam.
Texto de inteira
responsabilidade de Adalberto Pereira.
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