terça-feira, 24 de julho de 2018

O LADO NEGATIVO DA POLÍTICA


O LADO NEGRO DA POLÍTICA

               Como seria o mundo sem a política? Essa pergunta eu fiz a mim mesmo há pelo menos 40 anos atrás. Com pequenos intervalos eu a tenho repetido por diversas vezes, principalmente nos últimos 20 anos. As respostas se apresentam de várias e diferentes maneiras. Por exemplo: que tal acabar com as eleições para vereadores, prefeitos e deputados, passando os mesmos a serem escolhidos através de concursos públicos, dos quais só pudessem participar quem tivesse cursos superiores? O primeiro resultado positivo seria a economia nos cofres públicos e a eliminação do nosso dinheiro nas “farras” promovidas por políticos descarados e sem o menor escrúpulo.
               A primeira vez que a política despertou em mim um interesse inexplicável, eu tinha apenas 10 anos. Isso aconteceu em 1951, na cidade de Campina Grande. Querendo ver de perto um discurso de um cidadão chamado José Américo de Almeida, pedi que meu pai me levasse até a Praça da Bandeira, onde haveria uma concentração política. Minha paixão pela política, que era bem diferente da atual, com homens também muito diferentes, passou a fazer parte de minha vida, levando-me por diversas vezes a sonhar num palanque, pronunciando frases de homens eruditos que eu decorava com a maior facilidade.
               Durante anos convivi com o bipartidarismo. Que anos áureos da política brasileira!!! Havia mais fidelidade! Quem era da UDN, por exemplo, defendia a bandeira do partido com “unhas e dentes”, sem se deixar levar pela influência do dinheiro sujo do poder e das conveniências dos cargos públicos e dos empregos de familiares. Era o tempo em que os homens tinham vergonha na cara e chegavam até a contaminar seus eleitores com o tempero da honestidade. Como era lindo ver meus pais dizendo de cabeça erguida que votavam com orgulho no PSD (Partido Social Democrático)!
               Mas os anos passaram e os políticos perderam a vergonha! Já não tinham o mesmo sentimento de honestidade! Como as prostitutas vendem seus corpos, eles passaram a vender o seu caráter, lançando nos esgotos podres a sua idoneidade moral! A política virou politicagem e os políticos, politiqueiros. Perdendo os escrúpulos, os eleitores se tornaram em verdadeiros mercenários, votando em quem der mais. Outros mais sem-vergonhas que os politiqueiros, recebem esmolas travestidas de “ações sociais”, tornando-se verdadeiros escravos das migalhas derramadas debaixo das “mesas” fartas de quem saqueia os bolsos dos cidadãos honestos.
               Às vezes, envolvido por pensamentos positivos, penso estar navegando nos mares serenos da felicidade! Saindo desses pensamentos, deparo-me com a frase pronunciada pelo Kiko ao empurrar o frágil senhor Madruga! É aí que passo a pensar até que ponto chega a falta de bom senso dos politiqueiros do presente, dando direitos a analfabetos a irem às urnas! Mais enraivecido me sinto sabendo que esses mesmos aproveitadores da insignificância cultural de muitos, também colocaram diante das urnas, menores que ainda nem se deram conta da responsabilidade de um voto. E são esses mesmos que, “blindados” por um Estatuto fajuto e irresponsável, não podem responder pelos crimes por eles praticados.
               Ainda na lúgubre contemplação do lado negro da política, vejo-me diante de um Congresso medroso, inseguro e impotente (por que não dizer covarde?) para mudar uma lei que coloca o cidadão nas mãos fulminantes e assassinas de bandidos inescrupulosos, e ainda desafia a nossa impotência com uma pensão para as famílias de quem ceifa vidas inocentes. E tudo isso sob os preciosos aplausos de uma miserável e cínica Comissão dos Direitos Humanos. Até parece que estamos diante de sócios beneméritos das facções criminosas que, no silêncio da sua conivência, concordam plenamente com esse descalabro social.
               Saudades dos velhos tempos dos políticos sérios, quando o ensino público colocava jovens nos primeiros da lista dos vestibulares da UFPb e UFPe. Como era maravilhoso estudarmos Educação Moral e Cívica, cantarmos o Hino Nacional Brasileiro nas salas de aula, desfilarmos garbosos em comemoração ao Dia da Independência. A politicalha castrou das crianças e dos jovens o direito ao espírito patriótico. Aqueles que prometeram ser nossos representantes no Congresso Nacional, não passam de marionetes manipuladas pelas mãos de quem governa de costas para o povo. Que saudades de homens ilustres que lutaram por um país justo! Se vivos estivessem, certamente estariam decepcionados com os Partidos a quem pertenceram e que se venderam por moedas bem mais valorosas do que aquelas recebidas por Judas, o traidor. Basta vermos os desfalques na Petrobrás e no BNDES.
               Como posso mentir para meus filhos, netos e bisnetos, dizendo-lhes amar um país que se naufraga num mar de lamas, sendo conduzido por politiqueiros indesejáveis, desmerecedores do nosso respeito? Serei eu, por acaso, obrigado a depravar-me lançando-me no leito da hipocrisia, simplesmente para ser ovacionado pelos incautos seguidores dos que conduzem o país ao caos? “A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento...”. E ele prossegue falando sobre a verdadeira política: “Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem...”.
               Usando de sua inefável capacidade intelectual, Rui Barbosa diz que politicagem não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado e que sem dúvida rima muito bem com criadagem, patrolagem,  afilhadagem e ladroagem. Concluindo, ele pergunta: “Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Política e Politicalha não se confundem, não se parecem, não se relaciona uma com a outra. Antes, se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A Política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A Politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais.
               Realmente, a Política “é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma, enquanto a Politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A Política é a higiene dos países moralmente sadios, enquanto a Politicalha é a malária dos povos de moralidade estragada.” Essas comparações nos levam a uma convicção de que somos tragados e estragados pela malária espalhada por esta politicalha instalada nos mais altos escalões dos setores que administram o país.
               Quem será capaz de nos socorrer? Quando serão eliminados os subservientes que servem de pedras de tropeço na estrada que nos conduz à ordem e ao progresso do nosso país? Quem poderá moralizar os nossos três Poderes? Quando teremos uma imprensa livre e comprometida com a sociedade sofrida e cada vez mais distante dos seus direitos? Até quando estaremos contemplando o lado negro da política? As respostas a essas perguntas tornam-se impossíveis enquanto vivermos na dependência daqueles que, pela sua deficiência ética e cultural, ainda não sabem os verdadeiros deveres dos parlamentares que deveriam nos representar nos cargos que ocupam.

Texto de inteira responsabilidade de Adalberto Pereira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário